Bloomberg Línea — A reabertura da janela de IPOs no mercado de capitais do Brasil será mais uma vez postergada e ficará para ao menos 2025, e isso se não sofrer novos adiamentos.
“Há uma certa decepção com o ano de 2024. Várias empresas estão prontas para IPO, mas houve uma deterioração das condições econômicas que afetou o sentimento do mercado acionário. Havia expectativa de continuidade da queda de juros, mas isso se inverteu ao longo do ano”, disse o CFO do BTG Pactual (BPAC11), Renato Cohn, em entrevista a jornalistas nesta terça-feira (12) sobre o resultado do terceiro trimestre.
A última onda consistente de ofertas públicas iniciais na bolsa brasileira aconteceu em 2021: 46 companhias estrearam no pregão da B3 naquele ano, com movimento de R$ 63,6 bilhões, segundo dados da Anbima, associação que reúne entidades e empresas do mercado de capitais. O BTG Pactual foi justamente um dos bancos mais atuantes na coordenação de IPOs naquele ano.
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Juros futuros em contratos que vencem em janeiro de 2026 apontam, por exemplo, para taxas de juros de 13% ao ano. No início de 2024, a expectativa era a de taxas de um dígito alto.
“Dificilmente vamos ter um grande volume de IPO no curto prazo. A decepção é facilmente visível na curva de juros. Todo mundo adiou aquela expectativa de que voltaríamos a ter um ambiente propício para novas operações no mercado acionário”, avaliou o CFO do BTG.
O executivo ponderou, no entanto, que o cenário macroeconômico pode melhorar caso o mercado reaja positivamente a um eventual pacote de medidas para conter o déficit público do Brasil.
“Dado o cenário que hoje vemos, pode ser que as coisas melhorem na visão do mercado. Tem um pacote fiscal para sair. Pode ser que em 2025 seja um pouco melhor. Por enquanto, a incerteza permanece”, disse Cohn.
O executivo fez a ressalva de que outros segmentos do mercado de capitais continuam a apresentar demanda na contramão da bolsa.
“O mercado de DCM, de dívida, vem muito bem. Os dois primeiros trimestres do ano vieram acima do ano passado e continuam com um volume relevante. Em operações de M&A, tivemos um recorde histórico no primeiro semestre e vai continuar a contribuir [com o resultado]”, disse.
A área de M&A foi considerada por analistas como um dos destaques positivos do balanço do terceiro trimestre do banco de investimento, com 17 transações anunciadas e um volume de R$ 6 bilhões, mais que o dobro do segundo trimestre.
Expansão em diferentes franquias
O CFO do BTG Pactual reforçou a expectativa de que o banco vai continuar na trajetória de crescimento de suas diferentes franquias de clientes.
“Nos últimos quatro anos, multiplicamos várias áreas do banco por três ou quatro vezes, como a de asset management. É a tônica que esperamos para os próximos anos”, afirmou Cohn.
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Ele também lembrou que o banco tem adicionado novas mesas de negociação, o que amplia suas fontes de receitas e acelera ganhos de alavancagem operacional - as receitas crescem do mais que o custo de capital.
Ao mesmo tempo, a apetite por aquisições continua ativo, segundo os anúncios recentes do banco. Em setembro, o BTG anunciou, por exemplo, a compra do multifamily office Greytown Advisors, com sede em Miami, como parte de sua estratégia de expansão global.
Questionado sobre notícias de que o grupo suíço Julius Baer avalia a venda de sua operação no Brasil, o executivo respondeu que o BTG está sempre atento a todo tipo de oportunidade de mercado, seja na carteira de clientes ou em novos serviços ou produtos que complementem a oferta do banco.
BTG, XP, Bradesco e Safra foram apontados com potenciais interessados no negócio, segundo o Valor Econômico no último dia 10.
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