Bloomberg — Um aumento nos fundos de crédito privado e um recorde nas vendas de títulos locais têm ajudado os maiores bancos brasileiros a conquistar participação no mercado de investment banking (IB) dos concorrentes americanos.
A posição do Bank of America (BAC) no mercado brasileiro caiu para o terceiro lugar neste ano, versus o segundo lugar de 2023, quando o banco cedeu terreno para o Itaú Unibanco (ITUB4) e o BTG Pactual (BPAC11), de acordo com dados da Dealogic até 31 de outubro.
O JPMorgan Chase (JPM), o maior banco dos EUA, também perdeu participação no mercado.
O sucesso dos bancos locais decorre, em parte, de suas relações com os clientes de varejo do país, que têm comprado mais títulos brasileiros locais devido às taxas de juros mais altas e, em alguns casos, a isenções de impostos. Os bancos americanos não têm presença de varejo no Brasil.
“Os bancos brasileiros, que têm um balanço patrimonial local mais forte, têm mais apetite para comprar títulos locais e mantê-los em seus balanços, se necessário, vendendo-os no futuro”, disse Felipe Thut, chefe de renda fixa e produtos estruturados do Bradesco BBI, cuja participação de mercado subiu de 5,6% em 2023 para 7,1% neste ano.
“Assim, eles podem oferecer às empresas uma subscrição completa, uma prática que vem ganhando importância no Brasil desde 2018.”
Ainda assim, o total de comissões de banco de investimento caiu para US$ 591 milhões neste ano até 31 de outubro, uma queda de 6,1% em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Dealogic.
Um ano mais fraco para a emissão de ações foi o culpado, uma vez que o volume caiu 18% em relação ao mesmo período do ano passado, para R$ 30,8 bilhões, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
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A receita do Itaú com taxas de corretagem e assessoria econômica e financeira aumentou 51% nos primeiros nove meses de 2024, de acordo com suas demonstrações de resultados, enquanto o BTG disse que sua receita de banco de investimento mais do que dobrou no primeiro semestre.
A demanda por crédito privado tem crescido à medida que a política monetária do Brasil diverge da maior parte do resto do mundo, com as taxas de juros de referência em processo de alta no país enquanto caem em muitas outras economias importantes.
As mudanças tributárias e o fraco desempenho dos fundos hedge - os multimercados - e de ações também incentivaram investidores a se voltarem para alternativas de renda fixa.
A emissão de títulos corporativos locais aumentou 88%, para um recorde de R$ 378,7 bilhões neste ano até 7 de novembro, de acordo com dados compilados pela Bloomberg.
Empresas têm aproveitado a oportunidade para vender dívida com spreads de crédito em níveis recordes de baixa, de acordo com Cristiano Guimarães, chefe de banco corporativo e de investimentos do Itaú BBA, o banco número 1 na emissão de títulos locais, segundo os dados.
A participação do Itaú no pool total de receitas de bancos de investimento do Brasil subiu de 12,4% para 14,7%, de acordo com a Dealogic, o que o colocou no topo do ranking.
O mercado local vem amadurecendo, com mais transações, tais como negócios estruturados vendidos a clientes de varejo, que geram taxas de banco de investimento mais altas do que os títulos simples oferecidos a investidores institucionais, disse Guimarães.
“Por outro lado - como qualquer mercado que esteja gerando dinheiro -, você atrai novos concorrentes e, para que eles entrem no mercado, cobram menos”, disse ele.
O Bank of America reconheceu que sua presença no mercado de títulos locais do Brasil é limitada. Mas a filial do banco no país tem uma “posição de destaque em produtos estratégicos, como consultoria em fusões e aquisições, subscrição de ações e títulos globais”, disse Hans Lin, codiretor do banco de investimento no Brasil.
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O volume de negócios em fusões e aquisições está em um ritmo muito maior do que no ano passado, pois muitos investidores estratégicos internacionais com uma visão de longo prazo estão aproveitando a oportunidade de comprar empresas devido ao real mais fraco, disse Lin.
As transações em que as empresas brasileiras foram o alvo aumentaram 62%, chegando a US$ 35,9 bilhões neste ano até 18 de outubro, em comparação com o mesmo período do ano passado, disse a Dealogic.
Bruno Saraiva, codiretor do banco de investimentos do Bank of America no Brasil, acrescentou que "há uma série de transações de fusões e aquisições que estão sendo fechadas agora e que esperamos que gerem uma receita significativa no próximo ano".
Nos últimos anos, o BofA tem trocado de lugar com o Itaú no topo das classificações de receita, e o BTG Pactual sempre teve uma forte presença no mercado.
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Os bancos americanos tiveram um desempenho melhor em 2018 e 2021, quando muitas empresas brasileiras abriram o capital nas bolsas de valores dos EUA e concluíram ofertas adicionais pagando taxas de até 6,5% do valor total da transação.
A receita do Bradesco proveniente de mercados de capitais e assessoria financeira aumentou 27% nos primeiros nove meses do ano, de acordo com suas demonstrações financeiras, e o banco subiu da sétima para a quinta posição no ranking da Dealogic.
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A receita de banco de investimento atingiu R$ 1,2 bilhão no BTG no primeiro semestre do ano, de acordo com suas demonstrações financeiras.
A atividade de emissão de títulos tem sido tão forte que o Bradesco contratou 12 banqueiros de investimento neste ano para originar negócios e seis pessoas para distribuí-los, disse Thut, o que levou à formação de uma equipe de 55 pessoas.
O banco também decidiu, pela primeira vez, nomear um diretor especificamente encarregado da renda fixa, e Thut ficou com a função. A área de consultoria de fusões e aquisições e de subscrição de ações está agora sendo dirigida por Andre Moor.
“O mercado local de títulos triplicou desde 2018 e todos os grandes bancos locais estão se concentrando cada vez mais nele”, disse Thut, acrescentando que espera que o crescimento continue no próximo ano, à medida que as taxas de juros no Brasil continuarem a subir. “Mas o ritmo de crescimento do mercado em 2025 deve ser menor.”
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