Euforia em Wall Street: vitória de Trump dá impulso a bônus especial para CEOs

Perspectiva de nova agenda regulatória e de aprovações de M&As hoje vetados alavanca ações de grandes bancos para níveis que garantem pagamentos de até US$ 50 milhões, do Goldman ao Carlyle

Agenda regulatória e pró-negócios de Trump é bem-vinda para Wall Street
Por Sridhar Natarajan
09 de Novembro, 2024 | 07:37 AM

Bloomberg — O retorno de Donald Trump à Casa Branca já começa a provocar uma enxurrada de bônus nos corredores do poder de Wall Street.

No Goldman Sachs, a perspectiva de que os bancos de investimento estarão novamente entre os principais beneficiários da agenda regulatória e tributária de Trump fez com que o preço de suas ações disparasse.

PUBLICIDADE

Se os ganhos se mantiverem nas próximas semanas, será atingido um limite importante para que o CEO David Solomon receba um pagamento especial, que, nos níveis atuais de desempenho, valeria pelo menos US$ 50 milhões.

No Carlyle Group, as ações saltaram 10% na quarta-feira (6), dia do anúncio da vitória, para atingir o seu nível mais alto sob o comando do CEO Harvey Schwartz. Se permanecerem próximas ao nível atual por mais um mês, serão liberados outros US$ 50 milhões de seu bônus.

Leia mais: Para os bancos de Wall St, resultados apontam que os bônus estão de volta

PUBLICIDADE

No JPMorgan Chase, a recuperação de quarta aumentou o valor atual do pacote de retenção do CEO Jamie Dimon em quase US$ 40 milhões, juntamente com cerca de US$ 190 milhões de ganhos sobre as ações que ele já detém.

Retomada de deals

As ações do setor financeiro lideraram os ganhos nas horas após a vitória de Trump, com investidores que apostam que o setor se beneficiará de uma menor resistência do governo às aquisições de empresas, uma regulamentação bancária mais leve e mais cortes nos impostos corporativos.

O número de deals estava em queda neste ano, já que o departamento antitruste de Biden contestou as aquisições que poderiam prejudicar os consumidores.

PUBLICIDADE
Juntos, os três CEOs devem receber até US$ 140 milhões em bônus com impulso da vitória de Trump (Fotos: Jeenah Moon, Christopher Goodney, Kent Nishimura/Bloomberg)

Os CEOs de todas as empresas financeiras, é justo dizer, fizeram progressos significativos em relação às metas nos anos anteriores à vitória de Trump.

Na TPG, as ações subiram 41% em 2024 antes da apuração dos votos. O salto de 11% no dia seguinte ajudou a elevar o preço acima do nível que liberaria outros US$ 65 milhões de um prêmio de ações de longo prazo para o CEO da empresa de private equity, Jon Winkelried.

De fato, alguns pagamentos começaram a se alinhar nos dias que antecederam a eleição, com as ações ultrapassando o nível máximo exatamente quando os investidores começaram a mudar suas apostas.

PUBLICIDADE

Na KKR, os chefes Joe Bae e Scott Nuttall supervisionaram um aumento de 80% nas ações nos cerca de três anos até meados de outubro, quando o “Trump trade” começou a ganhar impulso. No final do mês, o preço havia mantido um nível-chave por tempo suficiente para conquistar mais de US$ 1 bilhão em bônus.

Recordes nas cotações

Depois que os resultados da votação foram computados, empresas de Wall Street como Goldman Sachs, JPMorgan e Blackstone atingiram recordes.

O KBW Bank Index, que reúne os 24 principais bancos dos EUA, ganhou mais de US$ 230 bilhões em valor de mercado combinado na quarta-feira, embora esse valor tenha diminuído um pouco desde então.

Isso representa um ganho imediato para os executivos seniores cujos pacotes de pagamento anual também incluem ações.

Muitas empresas de Wall Street lançaram incentivos especiais de longo prazo para seus líderes em 2021, durante um momento extraordinário para o setor, com impulso do juro zero do Fed na pandemia.

Os volumes de negócios estavam em um nível recorde, os financiadores estavam correndo para o mercado com veículos de aquisição para fins especiais e os investidores de varejo estavam divulgando ganhos multimilionários de campanhas de negociação das meme stocks.

Agora, a reação do mercado à vitória de Trump tem ajudado os executivos a atingir suas metas à medida que seus programas se aproximam de datas importantes para a definição dos bônus.

Ouro para o Goldman

Entre os gigantes de Wall Street, nenhuma ação deu um salto tão grande quanto a do Goldman no dia seguinte à eleição, subindo 13% - a maior alta em mais de quatro anos. Seu plano de incentivos oferece uma visão de como o setor estrutura tais prêmios, normalmente vinculando-os ao retorno dos acionistas.

O conselho do Goldman lançou o pacote especial de incentivo de longo prazo para Solomon e seu vice, John Waldron, em 2021, meses depois de descontar US$ 10 milhões do salário do CEO por causa do papel do Goldman no escândalo do fundo de investimento 1MDB da Malásia.

Quando os acionistas questionaram por que apenas os dois estavam tendo a chance de receber essas recompensas, o conselho expandiu o programa para outros managing directors sêniores.

Metade das concessões depende do cumprimento das metas de ações.

Para que esses pagamentos comecem a ser feitos, o preço das ações do Goldman mais os dividendos deve ultrapassar um total de US$ 602 e permanecer acima desse nível por pelo menos um mês até o final de 2026.

Na véspera da eleição, o banco ainda estava a quase US$ 60 desse patamar. Então, somente na quarta-feira, suas ações saltaram US$ 69.

Leia mais: Salários e bônus em Wall St caíram pelo segundo ano em 2023 após pico na pandemia

A outra metade do pagamento está vinculada ao desempenho do Goldman em relação a seis pares no final do período de cinco anos. Até o momento, a empresa superou o desempenho de todos os membros do grupo.

"O valor desses prêmios só será conhecido daqui a dois anos e depende do cumprimento das outras metas, disse Jennifer Zuccarelli, porta-voz da empresa. "No momento, estamos satisfeitos com o bom desempenho de nossa empresa."

De qualquer forma, Solomon teria de permanecer no Goldman até 2026 para colher os benefícios. Os CEOs das outras empresas também teriam que permanecer em suas empresas por vários anos para receber seus prêmios.

Volta de cortes de impostos

Trump prometeu retomar as ações que foram assinadas em seu primeiro mandato, incluindo o corte de impostos e a redução das regulamentações. Suas medidas anteriores foram especialmente lucrativas para as empresas financeiras.

Incapazes de reivindicar incentivos fiscais disponíveis para muitos outros setores, muitos bancos capturaram grande parte do benefício total quando Trump reduziu a alíquota básica do imposto corporativo.

Nos anos seguintes, o governo Biden examinou o impacto das fusões e procurou fortalecer as exigências de capital dos bancos. Os esforços tinham o objetivo de proteger os consumidores e evitar crises financeiras como a do subprime em 2008, mas acabaram prejudicando os lucros do setor.

-- Com a colaboração de Allison McNeely, Dawn Lim e Hannah Levitt.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

JPMorgan surpreende em receita com juros, mas Jamie Dimon segue cauteloso

Morgan Stanley confirma ‘momentum’ de Wall St e avança em trading e wealth