‘No landing’: CEO do Bank of America diz que Fed não deve ser agressivo com corte

Em entrevista à Bloomberg TV, Brian Moynihan disse que os riscos de que o banco central aja muito rapidamente aumentaram e apontou para um cenário sem ‘aterrisagem’ da economia

Brian Moynihan, CEO do Bank of America
Por Haidi Lun - Harry Brumpton
23 de Outubro, 2024 | 08:54 AM

Bloomberg — O CEO do Bank of America, Brian Moynihan, pediu aos formuladores de política monetária do Federal Reserve que sejam comedidos na magnitude das reduções das taxas de juros.

“Eles chegaram tarde ao jogo” ao aumentar os custos dos empréstimos em 2022, disse Moynihan em uma entrevista à Bloomberg TV em Sydney nesta quarta-feira (23), em sua primeira viagem à Austrália. “Eles precisam se certificar de que não serão muito rigorosos agora” com os cortes.

O perigo para os banqueiros centrais é que “eles sejam muito rápidos ou muito lentos e esse risco é maior agora do que há seis meses”, disse o CEO do banco com sede em Charlotte, na Carolina do Norte.

Os investidores reduziram as apostas em reduções agressivas das taxas de juros dos EUA, e algumas autoridades do Fed sinalizaram que são a favor de reduções em um ritmo mais lento após o primeiro corte desde 2020 no mês passado, que foi de 50 pontos base.

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Isso ocorre em meio a sinais de que a economia americana continua resiliente.

Moynihan, 65 anos, é um dos CEOs mais longevos entre os principais bancos dos EUA e sinalizou sua intenção de permanecer no cargo nos próximos anos.

Ele foi promovido a CEO em 2010, momento em que Wall Street emergiu da crise das hipotecas do subprime, e conduziu o banco durante a pandemia de covid e também em meio à crise do setor bancário que acabou derrubando de vez o Credit Suisse e o Silicon Valley Bank (SVB).

A visita de Moynihan à Austrália incluiu uma reunião com o Rei Charles, que também está no país para discutir a Iniciativa de Mercados Sustentáveis, que o banqueiro preside.

O chefe do Bank of America disse, durante a divulgação dos resultados do terceiro trimestre na semana passada, que a empresa não espera “nenhuma aterrissagem” para a economia dos EUA, referindo-se a uma situação em que o crescimento permaneça forte, o que forçaria os bancos centrais a permanecerem agressivos na luta contra a inflação por mais tempo.

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"Com uma taxa de desemprego de 4% e um crescimento salarial de 5%, é difícil para um economista convencer o mundo de que haverá uma recessão", disse ele na quarta-feira.

Ele disse que espera mais 50 pontos base de reduções antes do final do ano por parte do Fed e, em seguida, mais quatro cortes de 25 pontos base distribuídos uniformemente durante 2025, levando a taxa terminal para 3,25%.

Ele espera que, nesse cenário, a inflação caia para 2,3% em 2025 e 2026 - portanto, ainda acima da meta de 2%.

Segundo o banco, os consumidores dos EUA ainda estão com as economias que acumularam durante a pandemia, embora algumas famílias tenham dado sinais recentes de que estão mais conscientes em relação ao orçamento.

Investidores têm observado atentamente o comportamento dos gastos para ajudar a prever como o Fed decidirá agir em relação às taxas de juros nos próximos meses.

Uma política monetária mais restritiva por mais tempo seria uma vantagem para os bancos. As taxas de juros têm um impacto desproporcional sobre os bancos, que normalmente conseguem precificar um spread maior sobre os empréstimos em seus portfólios em um ambiente como esse.

Uma taxa de fim de ciclo de relaxamento monetário em torno de 3% seria “um ambiente de taxa de juros totalmente diferente nos EUA e em outros mercados do que tem sido nos últimos 15 anos ou mais”, disse o CEO do BofA. “Francamente, esse é um lugar melhor para estarmos.”

Moynihan disse que a margem de juros líquida do banco - uma medida fundamental da diferença entre as taxas cobradas sobre os empréstimos e o pagamento aos depositantes - deve se expandir no longo prazo para até 2,3%.

“Isso é incomum. A maioria das empresas está [com a margem] estável ou em baixa e nós estamos começando a crescer”, disse ele.

-- Com a colaboração de Sunil Jagtiani e Winnie Hsu.

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