Opinión - Bloomberg

A nova missão de James Gorman na Disney: encontrar um sucessor para Bob Iger

Ex-CEO do Morgan Stanley assumirá o cargo de chairman da Disney no ano que vem e terá a tarefa de definir quem vai substituir o líder de longa data da companhia

James Gorman: nomeação do executivo indica uma mudança na abordagem da Disney para a sucessão da empresa (Foto: Ting Shen/Bloomberg)
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Em 2023, James Gorman disse ao podcast In Good Company que, agora que havia deixado o cargo de CEO do Morgan Stanley, queria um cargo em um conselho que fosse mais do que um salário fácil. “Quero algo que seja complicado. Gosto de resolver problemas”, disse ele.

Gorman realizou seu desejo. Em fevereiro, ele entrou para o conselho da Walt Disney (DIS) que, na segunda-feira (21), anunciou que ele assumirá o cargo de chairman no início do próximo ano. Na posição, Gorman terá a tarefa de resolver o problema mais complicado e escrutinado da empresa: quem substituirá o CEO de longa data Bob Iger.

A escolha de Gorman mostra a seriedade com que a Disney encara a espinhosa questão da sucessão. Em vez de escolher alguém com profunda experiência em mídia, a empresa optou por um ex-chefe de banco, que se considera uma espécie de encantador de CEOs e que recentemente executou sua própria transferência bem-sucedida de CEO no Morgan Stanley.

Essa foi a decisão certa para a Disney – principalmente considerando que seu próprio processo de sucessão não parece ir tão bem.

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A Disney juntou a notícia de Gorman com a revelação de que não anunciará sua escolha para CEO até o início de 2026.

Como Matthew Belloni explicou ao site Puck, o atraso sugere que os candidatos internos ainda não estão prontos para o cargo ou nunca estarão, o que significa que a Disney talvez precise procurar fora da empresa o seu próximo CEO.

A Disney tem um longo e conturbado histórico de sucessões. Durante os primeiros 15 anos de Iger como CEO, o conselho prorrogou seu contrato tantas vezes que isso se tornou uma piada interna na empresa. “Eu ia dizer: ‘agora estou falando sério’, mas já disse isso antes”, contou Iger em 2019 em tom de brincadeira, quando disse aos investidores que planejava sair da empresa em dois anos.

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Quando Iger finalmente deixou o cargo, ele se substituiu por Bob Chapek, uma escolha pouco inspirada agravada pela constante interferência de Iger. Chapek durou apenas dois anos na liderança antes que o conselho o destituísse após uma série de erros, e Iger foi recebido como um herói quando voltou à posição de CEO em 2022.

Por ter entrado para o conselho apenas no início deste ano, Gorman não está manchado por esse histórico confuso. Ele também evita as críticas feitas por vários conselheiros da empresa de que eles estão nas mãos de Iger. A CNBC detalhou como, em 2019, Iger havia escolhido pessoalmente cada conselheiro e era próximo de vários deles, incluindo o presidente executivo da Nike, Mark Parker, e a CEO da General Motors, Mary Barra.

Gorman substituiu Parker, que supostamente vai deixar o cargo para focar no drama de sucessão da própria Nike.

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Parker e Gorman têm o título de presidente executivo em suas respectivas empresas, mas Gorman vai cortar os laços com o banco quando assumir sua nova função na Disney em janeiro de 2025.

Ao contrário de Parker, ele poderá dar toda a sua atenção ao processo de transferência, o que um problema dessa magnitude exige.

No Morgan Stanley, Gorman supervisionou uma delicada transferência do cargo de CEO para Ted Pick, na qual os outros dois candidatos internos foram preteridos, mas permaneceram no banco. Isso é uma raridade nesse tipo de corrida de sucessão, que a empresa conseguiu ao pagar aos três executivos um bônus de US$ 20 milhões para sinalizar sua importância para a empresa.

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A implementação desse tipo de pensamento será importante para a Disney se ela quiser manter todos os seus candidatos internos após a conclusão do processo.

É uma medida que ajudaria a estabelecer algum nível de estabilidade durante a transição e manteria o conhecimento institucional essencial do complexo portfólio da empresa, que abrange desde cruzeiros e parques temáticos até serviços de streaming e esportes.

A chave para fazer com que a mudança funcione será Iger realmente ceder o controle e não tentar direcionar seu sucessor a partir dos bastidores.

Gorman parece ter descoberto como fazer isso, em parte por ter aceitado o desafio na Disney. Talvez seja aqui que a influência de Gorman será mais importante: aconselhar Iger sobre como seguir em frente quando ele finalmente deixar o cargo de CEO – esperamos que desta vez seja para sempre.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Beth Kowitt é colunista da Bloomberg Opinion e cobre o mundo corporativo dos Estados Unidos. Foi redatora e editora sênior da revista Fortune.

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