Por que a Rio Tinto decidiu apostar contra a China no mercado de lítio

Acordo da mineradora para comprar a Arcadium Lithium por US$ 6,7 bilhões é um sinal de que a empresa vê oportunidade mesmo com os preços mais baixos do mineral

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Bloomberg Opinion — Nos mercados de commodities, apostar contra a China raramente é uma boa ideia. No entanto é isso o que a gigante da mineração Rio Tinto fez com um acordo de US$ 6,7 bilhões em dinheiro para comprar uma mineradora de lítio, sua maior transação em quase duas décadas.

O lítio está nas manchetes porque é – pelo menos por enquanto – um mineral indispensável para as baterias que alimentam os veículos elétricos.

A química das baterias de veículos elétricos está evoluindo e alguns fabricantes exploram modelos que reduziriam significativamente a demanda de lítio. O mesmo vale para outros minerais, como o níquel e o cobalto. Uma bateria de veículo elétrico precisa de até 85 kg de lítio.

A compra da Arcadium Lithium, listada em Nova York, pela Rio Tinto, por US$ 5,85 por ação, representou um prêmio de 90% em relação ao seu preço inalterado na semana passada.

Independentemente da forma como se analisa o negócio – seja pelos prêmios pagos ou pela relação entre o valor da empresa e os lucros subjacentes –, fica claro que a aquisição não é nada barata.

O risco para a Rio Tinto não é a demanda, já que a China certamente está montando muitos veículos elétricos, mas a oferta.

Ofuscado pelo gigantesco consumo de commodities do país, é fácil esquecer que a China também é um grande fornecedor de algumas matérias-primas importantes. Em alguns casos, ela explora seus próprios depósitos domésticos; em outros, suas mineradoras estatais vão para o exterior para explorar outras.

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O que quer que os chineses dominem, o resultado é geralmente o mesmo: preços mais baixos. Um exemplo é o que aconteceu com o cobalto, o níquel e o alumínio. Os grupos chineses de commodities não apenas aumentam a oferta, diminuindo os preços gerais, mas também reduzem os custos de produção.

No lítio, a China é um gigante: o país é responsável por quase 20% do lítio bruto e por cerca de 65% da produção de lítio refinado. Além disso, a China é o maior produtor de baterias para veículos elétricos e quer – e precisa – de preços mais baixos para o lítio.

A Rio Tinto aposta que a China não destruirá o mercado de lítio da mesma forma que fez com outros metais. O problema? A China já o destruiu ao baixar os preços para cerca de US$ 11.000 por tonelada, em comparação com o pico mais recente em 2022, de quase US$ 85.000 por tonelada. A grande dúvida é se Pequim conseguirá remodelar a curva de custos.

Felizmente para a Rio Tinto, a Arcadium tem uma posição de força quando se trata de custos. A maioria de suas operações está na parte inferior da curva de custos atual.

Por exemplo, sua unidade Hombre Muerto, na Argentina, opera a apenas US$ 5.500 por tonelada, cerca de metade do preço atual. Um dos principais motivos pelos quais o Arcadium tem custos mais baixos é o fato de explorar a salmoura de lítio, em vez de minérios de lítio de rocha dura, como a lepidolita.

As mineradoras chinesas geralmente se concentram no segundo tipo, que normalmente envolve custos de produção mais altos.

Mas Pequim também se dedica à salmoura de lítio e, com o tempo, tenho certeza de que seu custo diminuirá. Evidências anedóticas já sugerem que as empresas chinesas estão encontrando maneiras de extrair o lítio de forma mais barata e fácil das águas salgadas.

Se a curva de custo permanecer inalterada, em última análise, a Rio Tinto deverá ganhar dinheiro, talvez muito; ainda mais se os preços deprimidos restringirem o crescimento da oferta.

O executivo-chefe da Rio Tinto, Jakob Stausholm, fez essa aposta, chegando a dizer aos investidores que “provavelmente é do nosso interesse” que os preços do lítio caminhem ara baixo.

“Quanto mais baixo ele for no próximo curto período de tempo, mais alto ele terá que ser mais tarde”, disse ele em uma teleconferência com investidores na quarta-feira (9).

É verdade que a queda de hoje lança as sementes do boom de amanhã. Mas apostar que as mineradoras chinesas não serão capazes de reduzir os custos é uma atitude corajosa.

A Rio Tinto, é claro, observou atentamente a curva de custos, analisando dezenas de projetos em todo o mundo. Ela acredita que o lítio é diferente, por exemplo, do níquel e do cobalto – minerais que as mineradoras chinesas não apenas inundaram o mercado, mas mudaram a dinâmica ao reduzir os custos de produção.

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Após gastar quase US$ 7 bilhões, os acionistas da Rio Tinto ficaram um pouco nervosos, mas os negócios anticíclicos, mesmo que caros, são sempre melhores do que as transações no topo do mercado. E Stausholm não está tão certo: o preço de compra se compara bem ao valor de mercado atual da Rio Tinto, de US$ 110 bilhões.

Ao combinar seus próprios projetos de lítio com os da Arcadium, a Rio Tinto cria uma empresa capaz de desafiar líderes como a Sociedad Quimica y Minera de Chile, Albemarle, Tianqi Lithium e Ganfeng Lithium Group.

Mas o negócio não é tão perfeito quanto ele e sua equipe tentam vender. A Rio Tinto teve que pagar caro para garantir que 75% de todos os acionistas da Arcadium apoiassem o negócio.

Além disso, ela vai fazer a aposta: primeiro, que a China não derrube o mercado; segundo, que a Argentina, onde se localiza a maior parte dos ativos da Arcadium, permaneça no caminho pró-negócios estabelecido pelo novo presidente Javier Milei.

Ambas são grandes apostas; maiores ainda se alguém estiver pagando um prêmio de 90% pelos ativos.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Javier Blas é colunista da Bloomberg Opinion e cobre energia e commodities. É coauthor de “The World for Sale: Money, Power and the Traders Who Barter the Earth’s Resources”.

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