A Apollo quer desafiar os bancos de Wall St. Mas não contava com tantos desafios

Gestora de ativos alternativos adquiriu unidade do Credit Suisse em 2023 para se expandir no negócios de crédito privado, mas a divisão enfrenta mais dificuldades do que o esperado

Apollo Global Management
Por Allison McNeely
12 de Outubro, 2024 | 06:33 AM
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Bloomberg — O negócio tinha todas as características da mudança inevitável de poder em Wall Street: a Apollo Global Management (APO), líder entre os crescentes players não bancários, aproveitou a crise do Credit Suisse para adquirir um dos negócios mais lucrativos do agora extinto banco suíço.

Mas a Atlas SP Partners - o negócio de finanças estruturadas que é essencial para o plano do CEO da Apollo, Marc Rowan, de se tornar uma máquina de empréstimos - enfrentou dificuldades sob seu novo proprietário desde a aquisição do ano passado, segundo entrevistas da Bloomberg News com quase uma dúzia de pessoas com conhecimento da unidade.

Culturas entraram em choque, os negócios diminuíram, e uma série de saídas de executivos culminou na partida abrupta de Jay Kim, chefe de longa data da Atlas SP, em agosto.

A unidade também enfrentou taxas de juros mais altas, que reduziram as originações de hipotecas. Outros aspectos do negócio se mostraram mais difíceis fora de um banco.

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A Atlas não tinha mais uma grande mesa de negociação que criasse mercados para os títulos que estruturava, e também não se beneficiava dos baixos custos de financiamento dos bancos para competir em ativos mais convencionais.

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Apollo, Blackstone (BX), KKR (KKR) e outros gigantes do private equity têm expandido seus negócios de empréstimos privados nos últimos anos, para aproveitar o boom de US$ 1,7 trilhão à medida que os bancos reduziram os financiamentos.

Rowan pretende aumentar o volume anual de originação em quase 70% nos próximos cinco anos, e a firma já ganhou mais taxas de administração com crédito no ano passado do que KKR, Blackstone e Carlyle (CG).

No entanto, os últimos 18 meses mostraram que o avanço da Apollo no território tradicional dos bancos não será tão simples quanto parece no papel.

E a Atlas precisa de um novo líder para superar um período tumultuado de um ano e meio e atingir a meta de Rowan de US$ 275 bilhões em originação anual até 2029.

Rowan não está desistindo da Atlas, uma das maiores das 16 plataformas de originação da Apollo. A unidade garantiu novos recursos com US$ 5 bilhões em financiamento do BNP Paribas e US$ 5 bilhões em capital de investidores, incluindo Massachusetts Mutual Life Insurance e Abu Dhabi Investment Authority.

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Marc Rowan

A empresa conseguiu uma licença de corretora e começou a planejar a construção de uma operação de trading, com a esperança de que mais negócios seja gerados à medida que puder mostrar aos investidores que existe um mercado para vender os ativos, se necessário.

A unidade começou com cerca de US$ 40 bilhões em ativos sob gestão quando a Apollo a adquiriu. Após a queda dos ativos, a Atlas se expandiu para novas áreas para voltar aos cerca de US$ 40 bilhões, disseram algumas pessoas.

“Com US$ 50 bilhões em originações, US$ 5 bilhões em capital de longo prazo e uma equipe que quase dobrou de tamanho desde o início, a Atlas rapidamente se tornou uma de nossas plataformas de negócios mais importantes”, disse a Apollo em um comunicado por e-mail. “Estamos orgulhosos de apoiar o sucesso e a continuidade da equipe desde o desmembramento do Credit Suisse.”

Jay Kim preferiu não comentar.

‘Alto crescimento’

Em fevereiro de 2023, a Apollo concluiu o acordo com o Credit Suisse para adicionar a Atlas como uma de suas plataformas que faz os empréstimos que a Apollo agrupa em títulos e vende a outros investidores, seus próprios fundos de clientes e seu braço de seguros Athene.

A Apollo promoveu sua nova unidade como uma “unidade de alto crescimento” que origina ativos cobiçados por “uma ampla gama de investidores.”

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Um mês depois, o UBS Group (UBS) concordou em assumir o banco como parte de um resgate intermediado pelo governo suíço.

Embora o Credit Suisse tivesse concordado em permitir que a Apollo administrasse US$ 20 bilhões em ativos securitizados em troca de taxas, o acordo foi encerrado após a compra do rival pelo UBS.

Enquanto isso, a Atlas operou sem uma licença de corretora por mais de um ano. Sem ela, a Atlas teve dificuldades para gerar negócios porque — ao contrário de concorrentes como grandes bancos — não conseguia facilmente oferecer os produtos para clientes.

Sua unidade de hipotecas residenciais foi a mais afetada pela dificuldade em originar novos negócios, em grande parte devido à falta de capacidade de negociação da empresa, disseram algumas pessoas ouvidas pela Bloomberg News.

A Atlas também se afastou de algumas das atividades de finanças estruturadas existentes do Credit Suisse, incluindo hipotecas garantidas pelo governo.

Normalmente, é mais difícil para instituições não bancárias competirem com bancos de Wall Street e seus custos ultrabaixos de financiamento no mercado de hipotecas garantidas por agências governamentais.

A Atlas se voltou para hipotecas não qualificadas para mutuários que não atendem aos requisitos tradicionais de subscrição, que considerava mais atraentes do que o mercado garantido pelo governo.

Apesar dessa mudança, a Atlas também teve que lidar com uma desaceleração mais ampla nas originações de hipotecas, já que as taxas de juros elevadas impediram os compradores de refinanciar suas casas.

Como resultado, a empresa buscou fazer negócios fora do setor de hipotecas, incluindo o fornecimento de financiamento para bancos regionais após a crise do ano passado que prejudicou vários credores de médio porte.

Enquanto isso, a Atlas conseguiu convencer a grande maioria dos clientes do Credit Suisse a permanecer na empresa, aliviando as preocupações de alguns sobre trabalhar com uma instituição não bancária.

Tensão interna

Ao transferir os clientes do Credit Suisse, a Atlas também transferiu cerca de 180 funcionários do banco para trabalhar para a gestora de ativos alternativos.

A fusão das equipes causou atritos, especialmente nos primeiros dias do negócio. Quando os executivos da Apollo tentaram se aprofundar nos detalhes do portfólio que haviam adquirido durante o fechamento do negócio, tiveram dificuldades para obter informações em tempo hábil do Credit Suisse, disseram algumas pessoas.

Enquanto isso, a cultura intensa da Apollo — com suas ligações telefônicas de executivos tarde da noite — gerou desacordos com os ex-funcionários do Credit Suisse sobre expectativas que algumas pessoas consideraram inaceitáveis.

Alguns funcionários juniores insatisfeitos da Atlas começaram a buscar novas oportunidades em concorrentes, enquanto vários membros seniores da equipe levaram suas habilidades para outros lugares.

A Pacific Investment Management Co. (Pimco) contratou Jason O’Brien, que era chefe da Europa na Atlas. Ryan Bernholz, que supervisionava o investimento e a securitização de empréstimos, também saiu recentemente.

A Ares Management contratou Lekith Lokesh, que era diretor de estruturação, e o diretor de vendas Michael Santulli trabalhará para o Nomura Holdings. Margaret Dellafera, membro da equipe de hipotecas residenciais, vai para o Canadian Imperial Bank of Commerce. O trader David Garner foi contratado pelo Barclays no início deste ano.

Os funcionários preferiram não comentar ou não responderam aos pedidos de comentário. A Pimco confirmou que contratou O’Brien, e as outras empresas preferiram não comentar.

Saída de Jay Kim

Embora alguns tenham saído por vontade própria, a Apollo demitiu outros como parte das reorganizações da equipe. A saída de Jay Kim, o líder da Atlas, em agosto foi uma decisão mútua, e ele ainda avalia suas opções, disseram algumas pessoas. Ele liderava o grupo de produtos estruturados do Credit Suisse desde 2016.

O número de funcionários da Atlas cresceu para cerca de 350 pessoas, ante aproximadamente 180 quando a Apollo a comprou.

À medida que a equipe se expande, Rowan determinou que o time se concentre em áreas emergentes de crédito, como empréstimos baseados no valor do patrimônio líquido (NAV) para emmpresas de private equity.

Empréstimos NAV — dívida garantida pelos ativos de um fundo de investimentos — ganharam popularidade no mercado americano, à medida que empresas de private equity buscam maneiras de gerar liquidez para seus investidores em meio a uma prolongada desaceleração de deals.

Há sinais de que o mercado pode estar descongelando, o que significa que a Atlas terá que continuar evoluindo se quiser atender às altas expectativas de Rowan.

O CEO da Apollo classificou a Atlas como uma das empresas com capacidade para dobrar de tamanho, e ele continua a projetar otimismo de que os mercados privados acabarão por ganhar mais negócios do que os mercados públicos e os bancos.

“No final das contas,” disse Rowan no dia dos investidores da firma na semana passada, “o privado vencerá o público.”

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