Bloomberg — Os CEO não estão mais tentando ser tudo para as pessoas e os negócios.
O retorno a um ambiente pós-pandemia, no qual a inflação e as cadeias de suprimentos se estabilizam, tem feito um número crescente de diretores executivos reavaliar seus negócios para melhor posicionar as empresas para futuras crises - ou antes que sejam forçados por investidores ativistas.
Como resultado, dizem os banqueiros, o pêndulo da tomada de decisões está oscilando mais uma vez da diversificação para a simplificação, enquanto conselhos de administração procuram maneiras de levantar dinheiro para as operações principais e possíveis aquisições estratégicas para apoiá-las.
Empresas ao redor do mundo se envolveram em pelo menos US$ 250 bilhões em spinoffs e vendas de ativos até o momento neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg News.
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A tendência é evidente em diferentes setores, de produtos químicos a saúde do consumidor, e ajuda a impulsionar o aumento mais amplo da atividade de M&A em todo o mundo.
“Os mercados e os ativistas estão mantendo as empresas honestas”, disse Hernan Cristerna, presidente global de fusões e aquisições da JPMorgan Chase (JPM).
“Os executivos querem se antecipar às demandas, saindo de ativos não essenciais que possam prejudicar fundamentalmente ou desviar a atenção do desempenho de seus negócios principais.”
Simplificação do portfólio
Muitos dos desmembramentos mais notáveis deste ano ocorrem na Europa.
A francesa Sanofi está em processo de venda de seu negócio de Consumer Healthcare, de medicamentos que não necessitam de prescrição médica, enquanto a gigante de bens de consumo Unilever busca sair do setor de sorvetes e a líder em produtos químicos BASF tem planos de listar sua unidade agrícola.
Enquanto isso, a Reckitt Benckiser iniciou discussões com pretendentes sobre uma possível venda de mais de £ 6 bilhões (US$8 bilhões) de seus ativos de cuidados domésticos.
"Há lógica em reduzir a escala para negócios essenciais ou de maior crescimento", disse Cristerna. "É mais fácil crescer a partir de uma base menor e mais focada."
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Em outros mercados, a fabricante de cimento Holcim está em processo de cisão de suas operações na América do Norte para preparar o caminho para uma listagem no próximo ano nos EUA, avaliada em mais de US$ 30 bilhões, e o grupo de tecnologia industrial Fortive separa seu negócio de testes e medições.
A Intel (INTL), que já foi a maior fabricante de chips do mundo, disse recentemente que separará suas operações de fabricação - foundry -, que passa por dificuldades, do restante da empresa.
No Brasil a tendência também se faz presente: a Dasa (DASA3) anunciou em junho uma joint venture com a Amil para segregar as suas principais operações em hospitais, enquanto a Vale (VALE3) avança com sua estratégia em metais críticos para a transição energética com a Vale Metais Básicos.
“A simplificação do portfólio tem sido um tema importante que vimos se manifestar globalmente neste ano e esperamos que os anúncios de separação continuem até o final do ano”, disse David Dubner, chefe global de estruturação de fusões e aquisições do Goldman Sachs.
As separações corporativas - conhecidas como spinoff - não são um fenômeno novo e algumas das maiores de 2024 estão sendo preparadas há muito tempo.
A General Electric concluiu a cisão de sua empresa de energia GE Vernova em abril. A medida fazia parte do plano da GE, anunciado em 2021, de se dividir em três empresas separadas em uma tentativa de destravar valor para os acionistas.
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“Os conselhos estão definitivamente mais focados na preparação e exploram todo um conjunto de opções estratégicas, seja um desinvestimento, uma cisão ou a venda de uma unidade”, disse Elizabeth Gonzalez-Sussman, chefe da prática de engajamento e ativismo dos acionistas da Skadden, Arps, Slate, Meagher & Flom LLP.
“Isso será realmente orientado pelo que faz sentido para a empresa e para o setor específico.”
Tendência de alta
Tudo isso tem contribuído para uma recuperação mais ampla na realização de negócios após dois anos de baixa.
O valor somado de negócios em todo o mundo aumentou cerca de 16% em 2024 até o terceiro trimestre, chegando a US$ 2,3 trilhões, segundo os dados da Bloomberg.
Isso também se deve a um verão agitado no hemisfério Norte que trouxe o maior negócio de 2024: a aquisição da Kellanova (ex-Kellogs) pela Mars por quase US$ 36 bilhões, incluindo dívidas.
A Mars-Kellanova foi a terceira transação avaliada em mais de US$ 30 bilhões a ser fechada neste ano, após a proposta de aquisição da rival Discover Financial Services pela Capital One Financial e o acordo da designer de chips Synopsys para comprar a desenvolvedora de software Ansys.
E há potencial para mais megadeals no quarto trimestre, com a operadora de lojas de conveniência Alimentation Couche-Tard ainda em busca de uma aquisição amigável da Seven & i Holdings, proprietária da rede de lojas de conveniência 7-Eleven; e a fabricante de chips Qualcomm com sua abordagem à Intel, no que seria uma das maiores transações deM&As de todos os tempos.
Empresas de private equity, cujas compras e vendas serão fundamentais para qualquer recuperação sustentada de M&As, demonstravam mais confiança em relação às aquisições alavancadas, mesmo antes da decisão do Federal Reserve de cortar as taxas de juros em setembro.
Essas empresas fecharam negócios no valor de mais de US$ 100 bilhões durante os meses de julho e agosto, tradicionalmente calmos.
Entre eles, a TowerBrook e a Clayton Dubilier & Rice compraram por US$ 8,9 bilhões a R1 RCM, uma empresa que ajuda os hospitais a otimizar as funções de faturamento e pagamento.
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Depois, a Blackstone e a Vista Equity Partners disseram que vão adquirir a fornecedora de software Smartsheet por cerca de US$ 8,4 bilhões, em outra das maiores aquisições privadas do ano.
No último trimestre, banqueiros que atuam com fusões e aquisições continuam no caminho para terminar o ano com um volume maior do que o decepcionante exercício de 2023. Mas isso pode depender também de fatores externos como a eleição presidencial dos EUA em 5 de novembro, bem como os conflitos em andamento e em desenvolvimento no Oriente Médio e na Ucrânia.
“A eleição [americana] pode fazer com que alguns conselhos parem de tomar medidas transformadoras nas semanas anteriores e posteriores”, disse Dubner, da Goldman Sachs.
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