Lucro quase dobrou e nós mostramos resultado, diz CEO do HSBC para o Brasil

Em entrevista à Bloomberg News, Alexandre Guião destaca o crescimento em corporate e investment banking no país e diz que a operação se mostra uma alternativa para o banco globalmente

Alexandre Guiao
Por Leda Alvim - Cristiane Lucchesi
03 de Outubro, 2024 | 04:40 PM

Bloomberg — Oito anos após o HSBC vender sua subsidiária de varejo no Brasil, o lucro e a receita estão aumentando nos negócios de banco corporativo e de investimento.

Os lucros antes dos impostos quase dobraram no ano passado, para US$ 100 milhões, e a receita saltou 35% após uma injeção de capital da matriz começar a dar resultado, segundo Alexandre Guião, CEO do HSBC para o Brasil.

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Guião disse que os números, que incluem ganhos com ativos contabilizados fora do país, vão mostrar aumento de 15% na receita neste ano.

“Nós mostramos resultados, então a minha expectativa é que a operação continue a crescer e a ser uma das alternativas de investimento futuro do HSBC”, disse o executivo em entrevista à Bloomberg News no escritório do banco britânico em São Paulo.

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“Continuaremos focando na disciplina de custos no Brasil, mas também precisamos ter alternativas de crescimento.”

O novo CEO global do HSBC, Georges Elhedery, considera realizar uma grande reestruturação que pode incluir o corte de bilhões em despesas e o encerramento de alguns negócios.

No mês passado, o banco concordou em vender sua unidade de banco corporativo sul-africano para o FirstRand após vender suas unidades de varejo e banco comercial nas Ilhas Maurício para a Absa em julho.

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Mas os negócios estão em crescimento no Brasil.

No ano passado, o HSBC enviou à sua subsidiária no país R$ 500 milhões em capital, por meio de uma transação de dívida subordinada. Isso deixou a unidade com R$ 1,5 bilhão em capital.

Os R$ 26,8 bilhões em ativos locais do HSBC no Brasil ainda são uma pequena fração do total de R$ 150 bilhões que o banco tinha quando a venda da subsidiária foi anunciada em 2015. O banco também tem ativos com risco Brasil registrados no exterior, disse Guião, que preferiu não relevar o valor desses ativos.

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Com 190 funcionários, o HSBC no Brasil tem uma carteira de empréstimos local e obteve uma licença de banco múltiplo, o que lhe permite oferecer gestão de caixa para os clientes.

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A subsidiária também tem um banco de investimento que coordena transações globais de mercado de capitais de ações e dívida, e um negócio de assessoria em fusões e aquisições que prioriza transações entre empresas de diferentes países.

O banco faz trading proprietário no Brasil e negocia câmbio, taxas de juros e derivativos para clientes. Dada sua forte presença na Ásia, também é um dos principais fornecedores de crédito ao comércio exterior, disse Guião.

Em uma rodada anterior de cortes de custos globais, o HSBC vendeu seu banco de varejo no Brasil em 2016 para o Bradesco (BBDC4) por US$ 5,2 bilhões, mantendo uma pequena subsidiária de banco de investimento com cerca de 50 funcionários.

Como parte do acordo, o banco sediado em Londres concordou com um período de non-compete que terminou em dezembro de 2018, durante o qual tinha de realizar somente transações offshore.

“Como vendemos o banco inteiro para o Bradesco, tivemos que reconstruir o banco do zero”, disse Guião.

O HSBC assessorou a Vale (VALE3) em uma transação anunciada em fevereiro, na qual a mineradora brasileira e o Sumitomo Metal Mining venderam um total de 14% da unidade de níquel da empresa na Indonésia para o governo do país do Sudeste Asiático por US$ 271 milhões.

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O HSBC também está entre os bancos que ganharam um mandato para vender um panda bond de 1,2 bilhão de renminbis (US$ 171 milhões) da Suzano (SUZB3), a maior fabricante de celulose do mundo, disseram pessoas familiarizadas com o assunto em agosto.

Em junho, o Banco Mundial disse que deu ao HSBC um mandato para estruturar um título para ajudar nos esforços de reflorestamento na região amazônica brasileira.

O título de principal protegido e valor nominal esperado de aproximadamente US$ 200 milhões foi projetado para fornecer financiamento inicial para iniciativas de reflorestamento selecionadas pela Mombak, uma empresa de remoção de carbono sediada no Brasil.

Uma parte do retorno almejado do título será vinculada ao valor dos créditos de carbono gerados pelos projetos.

O HSBC no Brasil visa continuar a atender grandes empresas com presença global, o que inclui multinacionais com operações no país e empresas brasileiras com negócios em outras nações.

“Nosso foco são 600 grupos, dos quais 100 são empresas brasileiras”, disse Guião, que acrescentou que clientes com operações em mais de um país geram de três a cinco vezes mais receita do que aqueles com apenas presença local.

Ele parabenizou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva por uma “política internacional muito boa,” na qual “ele consegue ser amigo da China, o maior parceiro comercial do Brasil, e dos Estados Unidos, o segundo maior,” apesar das tensões geopolíticas. E essa é uma das razões que colocam o país como uma boa alternativa de investimento, disse ele.

Não há planos de retornar ao negócio de varejo no país, de acordo com o executivo do HSBC, que disse que o banco lançou em fevereiro uma parceria com a Mastercard para começar a oferecer cartões corporativos aos seus clientes.

“Com nossa presença em mais de 60 países, queremos aumentar a conectividade do Brasil com o mundo e do mundo com o Brasil”, disse Guião. “Ao oferecer essa conectividade global, isso traz resultados muito melhores para o banco em todo o mundo.”

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