OpenAI se assemelha cada vez mais às demais empresas do Vale do Silício

Mudanças que permitem à OpenAI atuar com fins lucrativos distanciam a startup de sua missão original; dos 11 membros da equipe fundadora, só dois permanecem

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Bloomberg Opinion — Lembra-se disso?

“A OpenAI é uma empresa de pesquisa em inteligência artificial sem fins lucrativos. Nosso objetivo é avançar a inteligência digital de forma que beneficie a humanidade como um todo, sem a necessidade de gerar retorno financeiro. Como nossa pesquisa está livre de obrigações financeiras, podemos nos concentrar melhor em um impacto positivo para a humanidade.”

Essa era a declaração de missão fundadora da OpenAI. Agora está bem desatualizada, então vamos fazer uma leve edição. Talvez algo como:

“A OpenAI é uma empresa de pesquisa em inteligência artificial. Nosso objetivo é avançar a inteligência digital para gerar retorno financeiro.”

Isso é muito mais claro e muito mais preciso. Na quarta-feira, a Reuters informou pela primeira vez que a empresa está prestes a anunciar uma reestruturação sob a qual seu conselho sem fins lucrativos perderá o controle sobre o núcleo dos negócios da empresa.

Leia também: OpenAI discute ter fins lucrativos e dar 7% do capital a Sam Altman, dizem fontes

A nova estrutura foi desenhada para torná-la mais atraente para potenciais investidores. Lembre-se de que foi o conselho sem fins lucrativos da OpenAI que, em novembro passado, moveu-se dramaticamente para destituir o CEO Sam Altman, deixando seu maior apoiador na época, a Microsoft (MSFT), se perguntando se sua estratégia de IA de US$ 10 bilhões estava prestes a desmoronar. Uma mudança de governança deve impedir que isso aconteça novamente.

A medida para reduzir o controle do conselho ocorre no momento em que, a qualquer dia, a OpenAI deverá confirmar que recebeu o maior investimento de capital de risco já registrado: uma injeção de US$ 6,5 bilhões (ou mais!) avaliando a empresa em cerca de US$ 150 bilhões.

Esses investidores não estão fazendo isso para o bem da humanidade; estão fazendo para o bem de seus fundos e parceiros.

Ao contrário dos investimentos feitos sob a estrutura original da OpenAI, segundo o Wall Street Journal, “aqueles que colocarem dinheiro na rodada atual não terão um limite nos lucros que podem obter.”

Ainda assim, antes que qualquer um deles tenha esperança de ser pago, a OpenAI precisa reverter um déficit preocupante entre sua receita (US$ 3,6 bilhões anuais, segundo relatos) e seus custos (mais de US$ 5 bilhões).

Mesmo que a empresa decida se reestruturar como uma corporação de benefício público, conforme reportado pela Bloomberg, esses números não mudam.

Se você pensa que a OpenAI pode operar “livre de obrigações financeiras”, está alucinando. Esse sonho acabou. (O cínico em mim tem certeza de que nunca existiu.)

Não é a única transformação na OpenAI. Da equipe fundadora original de 11 membros, apenas dois permanecem: Altman e o cientista da computação polonês Wojciech Zaremba. (Greg Brockman anunciou no início deste ano que estava entrando em “licença sabática” até o final do ano.)

Na quarta-feira, veio a notícia de outra saída proeminente: Mira Murati, diretora de tecnologia da OpenAI, que não estava entre os fundadores, mas foi uma executiva influente que assumiu brevemente o cargo de CEO quando Altman foi afastado.

Murati ganhou destaque na mídia após tentar escapar de uma pergunta do Wall Street Journal sobre se a OpenAI havia extraído vídeos do YouTube para construir seus modelos.

Na quarta-feira, ela disse que estava “se afastando porque quero criar o tempo e o espaço para fazer minha própria exploração.” (Logo depois que ela compartilhou sua nota, mais duas saídas da equipe de pesquisa da OpenAI foram anunciadas.)

Ainda não sabemos os planos de Murati, mas sua partida inesperada tem algumas semelhanças com a de outros executivos seniores que foram para se juntar ou lançar empresas concorrentes de inteligência artificial.

Ilya Sutskever, que anunciou sua saída da OpenAI em maio, recentemente levantou US$ 1 bilhão para sua nova empresa, Safe Superintelligence, que promete trabalhar exclusivamente em segurança e não tem “nenhuma intenção de vender produtos ou serviços de IA no curto prazo.”

(Com os “tecno-otimistas” da Andreessen Horowitz entre os apoiadores, vamos ver quanto tempo essa promessa vai durar. Lá vem o meu cínico novamente.)

A saída de Sutskever fez parte de um padrão de executivos de alto escalão que deixaram a OpenAI com mensagens de despedida (ou ações futuras) que sugeriam preocupação com a direção da OpenAI sob Altman.

De acordo com o WSJ, Murati já havia descrito o estilo de liderança de Altman como “psicologicamente abusivo.”

Encontrando impossível forçar mudanças na OpenAI de dentro — Sutskever deu o voto decisivo para tentar forçar a saída de Altman — eles acabaram sendo os que partiram. Altman aparentemente neutralizou qualquer oposição dentro da empresa.

Tudo isso para dizer que, após um ano turbulento, a metamorfose da OpenAI está quase completa. A mudança de curso, que foi colocada em rápida execução pela falha na tentativa de afastar Altman, será totalmente realizada assim que a nova estrutura for confirmada e o gigantesco aporte de capital de risco for concluído.

Isso significará que a empresa, que tinha mecanismos de controle admiráveis, e um CEO sem participação acionária em sua própria criação, agora se parece muito mais com as outras gigantes da tecnologia contra as quais compete. Talvez seja a única maneira de ela acompanhar.

Crucialmente, a OpenAI 2.0, ao contrário de sua encarnação original, é muito a empresa de Altman. Reportagens sugerem que ele finalmente receberá uma participação acionária avaliada em cerca de US$ 10 bilhões. Sem os limites de promessas vazias de “bem antes do lucro” e com novos incentivos financeiros próprios sobre a OpenAI, veremos se a preocupação daqueles que saíram era justificada.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Dave Lee é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia nos EUA. Foi correspondente em São Francisco no Financial Times e na BBC News.

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