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Por que o Brasil não merece assento permanente no Conselho de Segurança da ONU

Discurso de Lula na Assembleia Geral das Nações Unidas não ofereceu nenhum exemplo convincente do que o Brasil poderia trazer para a mesa no Conselho de Segurança em termos práticos

Luiz Inacio Lula da Silva
Tempo de leitura: 6 minutos

Bloomberg Opinion — Como é de costume, um presidente brasileiro deu início à Assembleia Geral das Nações Unidas em Nova York esta semana. Também como é de costume, Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a ocasião para reiterar a aspiração de longa data do país de ocupar um assento permanente no Conselho de Segurança, o clube das grandes potências na ONU.

“A exclusão da América Latina e da África de assentos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial”, disse Lula com razão, deixando implícita a conclusão de que o Brasil tem direito a esse lugar.

O momento não poderia ser melhor para a inclusão. Como meu colega Andreas Kluth escreveu, o mundo inteiro admite que a ONU e seu Conselho de Segurança são anacrônicos, geralmente disfuncionais e necessitam urgentemente de reforma.

Qual voz poderia ser melhor para se juntar ao clube do que a maior economia da América Latina, um país diverso e culturalmente rico com uma história de paz e uma profunda apreciação pelo multilateralismo e valores universais.

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Mas, infelizmente, os 19 minutos de discurso de Lula para os outros líderes não ofereceram nenhum exemplo convincente do que o Brasil poderia trazer para a mesa no Conselho de Segurança em termos práticos que não pudesse já ser alcançado por meio do atual sistema de assentos rotativos.

Leia também: Lula diz que Maduro deve explicações ao mundo sobre eleições na Venezuela

Além das posições mais populares do presidente de esquerda — suas queixas contra os ultrarricos, fome mundial, mudanças climáticas, gastos militares e até mesmo o X de Elon Musk —, o argumento de Lula parece ser que o país merece uma vaga permanente só porque é o Brasil, um membro-chave do que agora é pomposamente chamado de “Sul Global”.

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Em matéria de vender uma ideia, isso equivale a um fracasso épico. Teria sido muito mais persuasivo apoiar-se em exemplos concretos do que a diplomacia brasileira pode alcançar, além de sua capacidade de se relacionar bem com a maioria dos governos.

Infelizmente, o histórico internacional de Lula é muito menos impressionante, manchado por seu ego facilmente ferido, rigidez ideológica e incoerências.

Considere a audácia de Lula de pedir que Ucrânia e Rússia sentem para conversar de paz quando ele próprio não é capaz de fazer algo muito mais mundano, como encontrar seu vizinho e rival ideológico Javier Milei.

“Ele falou muita bobagem”, argumentou Lula há alguns meses, quando perguntado por que ainda não se encontrou com o líder argentino. “Só quero que ele peça desculpas”, acrescentou, efetivamente colocando no gelo qualquer encontro iminente entre os presidentes de dois países vizinhos e parceiros historicamente amigáveis.

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Isso é mais do que uma anedota trivial: vai ao cerne da superficialidade de Lula e ajuda a explicar seu impacto insignificante no cenário global.

Dizer que você é a favor de tudo o que é bom e contra tudo o que é ruim pode soar bem para as multidões, mas não é exatamente liderança.

Não seria exagero pensar que Lula gosta tanto de dar suas grandes opiniões sobre o conflito entre Israel e Gaza, ou a guerra entre Ucrânia e Rússia, justamente porque o Brasil realmente não tem nada a ver com essas questões. São conflitos distantes que Brasília pode encapsular em chavões como “a paz deve prevalecer”.

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Agora, quando se trata da própria vizinhança conturbada, Lula parece escolher suas palavras com muito cuidado em questões sensíveis, como os perigos crescentes de regimes autocráticos na América Latina.

É preciso que seja dito com todas as palavras: a decisão de Lula de não dedicar nem mesmo algumas sílabas de seu discurso à eleição fraudada na Venezuela e à mais recente tomada de poder de Nicolás Maduro é um lapso moral que rebaixa sua posição como líder regional — uma traição ressaltada pelas palavras de seu colega americano Joe Biden, que poucos minutos depois lembrou a todos o que realmente aconteceu em Caracas em 28 de julho.

Qual o valor de incluir o Brasil no Conselho de Segurança se o país for para o cenário mundial sem abordar — quanto mais resolver — os conflitos em seu próprio quintal?

O chamado “soft power” é importante, e o Brasil tem muito disso, mas para ser levado a sério entre as potências nucleares, você também precisa mostrar sua disposição de enfrentar valentões e tiranos.

Se nem mesmo Daniel Ortega tem medo de você, então você se parece mais um tigre de papel.

Pelo menos Lula mencionou o Haiti, outro ponto crítico regional que os países latino-americanos escolheram deixar para outras nações, neste caso... o Quênia. E, claro, nenhum bom discurso de esquerda estaria completo sem uma referência en passant ao embargo dos EUA a Cuba (mas não à repressão e à má gestão que levaram até 18% da população a fugir do país nos últimos dois anos).

Não me entenda mal, o Brasil é uma potência emergente com boas razões para aspirar ao Conselho de Segurança. É um defensor consistente do direito internacional e da resolução pacífica de controvérsias em um mundo que vivencia tensões cada vez maiores.

É uma grande economia que continua a se expandir e ganhar influência nos mercados internacionais. E é um país que está ciente dos grandes desafios que o mundo enfrenta e tem auto-confiança para enfrentá-los.

Uma análise recente do Pew Research Center mostra que cerca de quatro em cada dez adultos brasileiros dizem que seu país acabará se tornando uma das nações mais poderosas do mundo, e cerca de um quarto diz que já está entre as maiores potências.

Mas a incapacidade do governo brasileiro diante dos crescentes problemas de segurança da região, da migração descontrolada à violência política e ao tráfico de drogas, coloca um grande ponto de interrogação sobre seu comprometimento em promover a ordem e o progresso.

Lula está piorando as coisas ao sucumbir à tendência dos líderes latino-americanos de se relacionarem apenas com seus pares ideológicos, aumentando a polarização que condenou qualquer integração regional significativa e muito necessária.

Há um grande verso no hino do Brasil que exalta sua pura força geográfica: “Gigante pela própria natureza/És belo, és forte, impávido colosso/E o teu futuro espelha essa grandeza”.

Essa passagem captura a fé do país na inevitabilidade de seu triunfo futuro em virtude de sua magnífica riqueza natural.

Há um pouco disso no argumento do Brasil para ocupar um assento no Conselho de Segurança: é o direito do país por causa de seu status e tamanho, com o quinto maior território do mundo. Mas não é assim que a política internacional funciona. Você quer um lugar na mesa dos grandes, você tem que conquistá-lo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

JP Spinetto é colunista da Bloomberg Opinion, cobrindo negócios, assuntos econômicos e política na América Latina. Anteriormente, ele foi chefe de economia e governo da Bloomberg News na região.

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