A ambição de Ana Botín, do Santander, para expandir o banco de varejo nos EUA

Há dez anos à frente do banco espanhol, Botín agora mira um crescimento agressivo no mercado mais competitivo do mundo também com uma operação digital ao consumidor

Ana Botin
Por Jorge Zuloaga
14 de Setembro, 2024 | 05:51 AM

Bloomberg — Ana Botín tem avançado no mercado dos Estados Unidos à medida que busca novas oportunidades de crescimento para o Santander, depois de passar uma década no topo da liderança da instituição.

O banco espanhol tem “planos muito ambiciosos” para o mercado americano e lançará um banco digital no mês que vem, em outubro, disse ela em uma entrevista para marcar os dez anos de sua gestão como presidente do conselho e diretora executiva. O potencial de crescimento do Santander na maior economia do mundo “é enorme”, disse ela.

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O movimento de expansão no setor bancário de varejo dos Estados Unidos ocorre após uma onda de contratações feitas pelo Santander para seu banco de investimentos, o que inclui a área de assessoria - o advisory - de negócios, no ano passado.

Na época, o banco revelou planos de dobrar o tamanho da unidade, aproveitando os cortes de empregos em outras empresas financeiras para contratar talentos.

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A aposta de Botín nos Estados Unidos despejará dinheiro em um mercado que é notoriamente difícil de ser explorado pelos bancos europeus.

Atualmente, o Santander tem cerca de 4,5 milhões de clientes nos EUA - cerca de 1,3% da população -, uma base de clientes menor do que à de muitos países onde o banco tem operação. O Brasil é o maior com ampla vantagem por esse critério.

O Santander pode ter “dificuldade para deixar de ser um banco regional para se tornar um grande banco” nos Estados Unidos, disse German Lopez Espinosa, professor da Universidade de Navarra e do IESE. Ele descreveu a gestão de Botín como positiva para o Santander.

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Botín se recusou a comentar a história para a Bloomberg News.

Número de clientes do Santander por países, com o Brasil na liderança: EUA não são um de seus principais mercados por esse critério

Botín, de 63 anos, foi nomeada presidente executiva do Santander em 10 de setembro de 2014, tornando-se a quarta integrante da dinastia Botín a ocupar o cargo.

A família, que controla cerca de 1,2% do banco, tem ajudado - na maior parte do tempo, na liderança - a administrar a instituição financeira há mais de um século.

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Primeira mulher a dirigir o banco desde sua criação em 1857, Ana Botín evitou, em grande parte, as negociações em série que eram a marca registrada de seu antecessor e pai, Emilio Botín.

Ele transformou o Santander em um dos bancos mais internacionalizados da Europa, o que significou mais de US$ 70 bilhões em aquisições em todo o mundo. Isso incluiu o Banespa no Brasil em 2000, na maior privatização do país à época, de R$ 7 bilhões pelo então banco do estado de São Paulo.

Em vez disso, Ana Botín tem se concentrado na expansão dos recursos digitais, especialmente em serviços bancários ao consumidor e pagamentos.

Poucos meses após assumir o cargo, Botín realizou um aumento de capital para afastar possíveis preocupações dos investidores de que o banco estava menos capitalizado do que alguns concorrentes.

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Dois anos depois, houve um segundo aumento de capital para financiar a aquisição do rival espanhol Banco Popular, depois que o Banco Central Europeu o declarou inadimplente. O negócio continuou sendo a maior aquisição sob o comando de Botín.

Desde que assumiu o controle, Botín aumentou a reserva de capital do Santander, elevou os lucros e aumentou os pagamentos aos investidores.

Ainda assim, o preço das ações do banco espanhol caiu cerca de 40% desde sua nomeação, uma vez que o mandato de Botín coincidiu, em grande parte, com as taxas de juros negativas estabelecidas pelo BCE, que atingiram as ações financeiras em geral.

As ações do Santander começaram a se recuperar há cerca de quatro anos, embora estejam atrás do desempenho de grande parte da concorrência (veja gráfico abaixo).

Ações do Santander têm performance abaixo de um índice que reúne os bancos europeus desde 2015

Embora tenha evitado grandes aquisições, Botín investiu para assumir o controle de vários provedores de pagamentos, o que incluiu a Ebury no Reino Unido e uma empresa na Alemanha.

Ela também utilizou a brasileira Getnet, adquirida pelo Santander local, para expandir os serviços na América Latina e, posteriormente, implantou-os na Europa.

Há alguns anos, Botín reuniu as unidades de pagamentos em uma divisão conhecida como Pagonxt. Ela também separou os negócios de varejo digital do restante das operações comerciais e de varejo do Santander e os combinou em uma divisão conhecida como Digital Consumer Bank (DCB), liderada por Jose Luis de Mora.

O plano é usar o DCB baseado em tecnologia para expandir o banco de varejo em vários mercados, incluindo os EUA e o México, sem a necessidade de agências físicas.

O Santander também busca fechar acordos para atuar como fornecedor preferencial de crédito ao consumidor para empresas com grandes vendas on-line, como a Apple e a Amazon.

O ambicioso plano de crescimento significa que o esforço de Botín para expandir a oferta digital de crédito ao consumidor do Santander, com a marca Openbank, para os EUA é um importante teste.

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Os negócios atuais do Santander nos Estados Unidos, dirigidos por uma ex-executiva do Deutsche Bank, Christiana Riley, concentram-se em financiamento e empréstimos para automóveis.

O Santander disse em julho que os esforços para desenvolver o negócio de banco de investimento nos Estados Unidos resultaram em um “forte” crescimento da receita no primeiro semestre deste ano. A estratégia também aumentou os custos.

A aposta nos Estados Unidos “começa a dar resultado”, disse Davide Serra, fundador e CEO da Algebris Investments, que investiu no Santander.

Financiamento de automóveis domina as operações do Santander nos EUA

Ao longo do caminho, Botín usou a lucratividade crescente do Santander para aumentar a quantidade de dinheiro que paga aos investidores, com dividendos combinados e recompra de ações que devem ultrapassar € 6 bilhões (US$ 6,6 bilhões) neste ano, de acordo com uma estimativa compilada pela Bloomberg News.

O valor é praticamente o triplo da quantia devolvida há apenas três anos.

O progresso não protegeu Botín, no entanto, de alguns problemas de governança. Em 2018, sua tentativa de contratar Andrea Orcel, ex-presidente do banco de investimento do UBS, fracassou nas negociações sobre remuneração. Seguiram-se anos de processos judiciais com o hoje CEO do UniCredit, ainda em andamento.

O Santander também mudou a hierarquia, definindo que o CEO deve se reportar ao conselho de administração, e não à Botín diretamente depois de receber uma recomendação do Banco Central Europeu. O atual CEO, Hector Grisi, costumava liderar as operações nos Estados Unidos antes de sua promoção.

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