A ambição de Ana Botín, do Santander, para expandir o banco de varejo nos EUA

Há dez anos à frente do banco espanhol, Botín agora mira um crescimento agressivo no mercado mais competitivo do mundo também com uma operação digital ao consumidor

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Bloomberg — Ana Botín tem avançado no mercado dos Estados Unidos à medida que busca novas oportunidades de crescimento para o Santander, depois de passar uma década no topo da liderança da instituição.

O banco espanhol tem “planos muito ambiciosos” para o mercado americano e lançará um banco digital no mês que vem, em outubro, disse ela em uma entrevista para marcar os dez anos de sua gestão como presidente do conselho e diretora executiva. O potencial de crescimento do Santander na maior economia do mundo “é enorme”, disse ela.

O movimento de expansão no setor bancário de varejo dos Estados Unidos ocorre após uma onda de contratações feitas pelo Santander para seu banco de investimentos, o que inclui a área de assessoria - o advisory - de negócios, no ano passado.

Na época, o banco revelou planos de dobrar o tamanho da unidade, aproveitando os cortes de empregos em outras empresas financeiras para contratar talentos.

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A aposta de Botín nos Estados Unidos despejará dinheiro em um mercado que é notoriamente difícil de ser explorado pelos bancos europeus.

Atualmente, o Santander tem cerca de 4,5 milhões de clientes nos EUA - cerca de 1,3% da população -, uma base de clientes menor do que à de muitos países onde o banco tem operação. O Brasil é o maior com ampla vantagem por esse critério.

O Santander pode ter “dificuldade para deixar de ser um banco regional para se tornar um grande banco” nos Estados Unidos, disse German Lopez Espinosa, professor da Universidade de Navarra e do IESE. Ele descreveu a gestão de Botín como positiva para o Santander.

Botín se recusou a comentar a história para a Bloomberg News.

Botín, de 63 anos, foi nomeada presidente executiva do Santander em 10 de setembro de 2014, tornando-se a quarta integrante da dinastia Botín a ocupar o cargo.

A família, que controla cerca de 1,2% do banco, tem ajudado - na maior parte do tempo, na liderança - a administrar a instituição financeira há mais de um século.

Primeira mulher a dirigir o banco desde sua criação em 1857, Ana Botín evitou, em grande parte, as negociações em série que eram a marca registrada de seu antecessor e pai, Emilio Botín.

Ele transformou o Santander em um dos bancos mais internacionalizados da Europa, o que significou mais de US$ 70 bilhões em aquisições em todo o mundo. Isso incluiu o Banespa no Brasil em 2000, na maior privatização do país à época, de R$ 7 bilhões pelo então banco do estado de São Paulo.

Em vez disso, Ana Botín tem se concentrado na expansão dos recursos digitais, especialmente em serviços bancários ao consumidor e pagamentos.

Poucos meses após assumir o cargo, Botín realizou um aumento de capital para afastar possíveis preocupações dos investidores de que o banco estava menos capitalizado do que alguns concorrentes.

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Dois anos depois, houve um segundo aumento de capital para financiar a aquisição do rival espanhol Banco Popular, depois que o Banco Central Europeu o declarou inadimplente. O negócio continuou sendo a maior aquisição sob o comando de Botín.

Desde que assumiu o controle, Botín aumentou a reserva de capital do Santander, elevou os lucros e aumentou os pagamentos aos investidores.

Ainda assim, o preço das ações do banco espanhol caiu cerca de 40% desde sua nomeação, uma vez que o mandato de Botín coincidiu, em grande parte, com as taxas de juros negativas estabelecidas pelo BCE, que atingiram as ações financeiras em geral.

As ações do Santander começaram a se recuperar há cerca de quatro anos, embora estejam atrás do desempenho de grande parte da concorrência (veja gráfico abaixo).

Embora tenha evitado grandes aquisições, Botín investiu para assumir o controle de vários provedores de pagamentos, o que incluiu a Ebury no Reino Unido e uma empresa na Alemanha.

Ela também utilizou a brasileira Getnet, adquirida pelo Santander local, para expandir os serviços na América Latina e, posteriormente, implantou-os na Europa.

Há alguns anos, Botín reuniu as unidades de pagamentos em uma divisão conhecida como Pagonxt. Ela também separou os negócios de varejo digital do restante das operações comerciais e de varejo do Santander e os combinou em uma divisão conhecida como Digital Consumer Bank (DCB), liderada por Jose Luis de Mora.

O plano é usar o DCB baseado em tecnologia para expandir o banco de varejo em vários mercados, incluindo os EUA e o México, sem a necessidade de agências físicas.

O Santander também busca fechar acordos para atuar como fornecedor preferencial de crédito ao consumidor para empresas com grandes vendas on-line, como a Apple e a Amazon.

O ambicioso plano de crescimento significa que o esforço de Botín para expandir a oferta digital de crédito ao consumidor do Santander, com a marca Openbank, para os EUA é um importante teste.

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Os negócios atuais do Santander nos Estados Unidos, dirigidos por uma ex-executiva do Deutsche Bank, Christiana Riley, concentram-se em financiamento e empréstimos para automóveis.

O Santander disse em julho que os esforços para desenvolver o negócio de banco de investimento nos Estados Unidos resultaram em um “forte” crescimento da receita no primeiro semestre deste ano. A estratégia também aumentou os custos.

A aposta nos Estados Unidos “começa a dar resultado”, disse Davide Serra, fundador e CEO da Algebris Investments, que investiu no Santander.

Ao longo do caminho, Botín usou a lucratividade crescente do Santander para aumentar a quantidade de dinheiro que paga aos investidores, com dividendos combinados e recompra de ações que devem ultrapassar € 6 bilhões (US$ 6,6 bilhões) neste ano, de acordo com uma estimativa compilada pela Bloomberg News.

O valor é praticamente o triplo da quantia devolvida há apenas três anos.

O progresso não protegeu Botín, no entanto, de alguns problemas de governança. Em 2018, sua tentativa de contratar Andrea Orcel, ex-presidente do banco de investimento do UBS, fracassou nas negociações sobre remuneração. Seguiram-se anos de processos judiciais com o hoje CEO do UniCredit, ainda em andamento.

O Santander também mudou a hierarquia, definindo que o CEO deve se reportar ao conselho de administração, e não à Botín diretamente depois de receber uma recomendação do Banco Central Europeu. O atual CEO, Hector Grisi, costumava liderar as operações nos Estados Unidos antes de sua promoção.

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