Opinión - Bloomberg

Os desafios de Apple e Huawei para conquistar os chineses com seus novos smartphones

Preço elevado e dúvidas sobre a qualidade dos componentes e dos recursos de IA desagradam aos consumidores exigentes no gigantesco mercado do país asiático

Tanto a Huawei quanto a Apple precisam se esforçar para se manterem relevantes no mercado chinês (Foto: CFOTO/Future Publishing via Getty Images)
Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg Opinion — Se há uma coisa pela qual o falecido cofundador da Apple (AAPL), Steve Jobs, é lembrado, é que ele sabia como fazer um show. Muito antes de a Apple se tornar a empresa mais valiosa do mundo, a companhia era uma espécie de forasteira que, com maestria, roubava os holofotes e revigorava os consumidores rebeldes.

A Huawei Technologies parece ter se inspirado nessa cartilha ao programar seu próprio evento de produtos chamativos na terça-feira (10), poucas horas depois da apresentação anual do iPhone da Apple. A empresa chinesa revelou o Mate XT, o primeiro smartphone com tela tripla do mundo que se dobra como a letra Z.

O design nunca antes visto causou grande impacto on-line, principalmente em contraste com as modestas atualizações de hardware do novo iPhone 16, sendo a mais notável delas um novo botão lateral.

Não ajudou o fato de que o maior argumento de venda da Apple são os recursos de inteligência artificial integrados que não serão lançados no idioma chinês até 2025 e estão sujeitos a uma aprovação regulatória rigorosa antes de chegar ao lucrativo mercado asiático.

PUBLICIDADE

A ausência desse recurso fundamental na China provocou um escárnio generalizado nas redes sociais do país; uma publicação viral no Weibo zombou do fato de que o iPhone 16 deveria custar metade do preço sem o recurso.

Leia mais: iPhone 16: novos modelos da Apple têm chips mais velozes e mudanças na câmera

A Huawei foi sábia em aproveitar o momento e se destacar com a inovação de hardware físico em um momento em que a maioria dos outros participantes do setor anunciam atualizações de IA não comprovadas. E anos de sanções lideradas pelos Estados Unidos transformaram a Huawei na forasteira desta década entre os patrióticos consumidores chineses.

PUBLICIDADE

A empresa de Shenzhen apresentou seu smartphone Mate 60 Pro, com um chip fabricado na China que os EUA tentaram impedir com tanto afinco, durante a visita da secretária de comércio dos EUA, Gina Raimondo, ao país no ano passado.

Mas a última estreia chamativa do Mate XT mascara pontos fracos mais amplos. Para começar, seu preço é de exorbitantes 19.999 yuans (US$ 2.800) em um momento em que os consumidores chineses cortam gastos.

Muitas agências de notícias destacam que milhões de pessoas fizeram a pré-encomenda do Mate XT no site oficial de comércio eletrônico da Huawei (havia 4,8 milhões de pessoas registradas para comprar o telefone).

Mas esses números são enganosos; o sistema de reserva não exige um pagamento inicial e simplesmente alerta aqueles que se registram sobre como comprar o dispositivo quando ele for colocado à venda no final deste mês – no mesmo dia que o iPhone 16.

PUBLICIDADE

Enquanto isso, analistas da Bloomberg Intelligence preveem que as remessas poderão ser limitadas a 1 milhão de unidades. Seu alto preço e seu apelo de nicho provavelmente significam que ele poderá ter menos impacto no segmento de smartphones premium da China do que o Mate 60, acrescentaram os analistas.

O evento de lançamento do Mate XT também não detalhou qual chip é usado para alimentar o dispositivo, o que levou muitos a especular que não houve um novo avanço e que o preço não oferecerá um grande salto de desempenho.

Como resultado das sanções, até mesmo os smartphones topo de linha da Huawei atualmente são executados em processadores que estão gerações atrás daqueles usados pela Apple no iPhone.

PUBLICIDADE

Espera-se que a Huawei lance seu próximo modelo principal e concorrente mais próximo do iPhone 16, o Mate 70, ainda este ano, embora esteja enfrentando problemas na produção de chips.

As fragilidades, no entanto, não se traduzem diretamente em sucesso para a Apple. O iPhone vem perdendo seu fascínio na China, e a empresa de Cupertino, na Califórnia, recentemente saiu da lista dos cinco maiores fabricantes de smartphones do país - mesmo depois de oferecer grandes descontos.

Também será difícil para a Apple manter a fidelidade do consumidor quando suas atualizações de IA altamente elogiadas não estiverem prontas para o mercado chinês.

Leia mais: A IA foi concebida para ajudar a humanidade – até que as big techs a dominaram

A Apple fez uma parceria com a OpenAI, fabricante do ChatGPT, mas o acesso ao serviço é proibido no país e ela ainda não anunciou um parceiro chinês.

Diferentemente das atualizações de câmera ou hardware, garantir que as atualizações de IA que promovem serviços como resumir notificações ou ajudar a redigir e-mails sejam relevantes em termos de idioma e cultura é uma tarefa nova e difícil para a Apple na China, sem levar em conta os obstáculos regulatórios de Pequim em relação à IA.

A Apple precisa intensificar os esforços de adaptação da IA para o mercado chinês se quiser permanecer relevante na segunda maior economia do mundo. Os usuários chineses do iPhone podem se sentir traídos pela empresa que os deixou para trás na corrida da IA.

Mas esses consumidores podem se sentir igualmente alienados pela Huawei ao lançar um smartphone de US$ 2.800 em meio a fortes ventos contrários macroeconômicos.

Com o impulso de cima para baixo de Pequim em direção aos smartphones nacionais, a Huawei não é mais um azarão e precisará de mais do que lançamentos de produtos que chamem a atenção para impulsionar as vendas, que foram impulsionadas em grande parte pelo país.

Sem um grande avanço tecnológico, será mais difícil para seus produtos de ponta não ficarem ainda mais atrás dos rivais, fazendo com que até mesmo os smartphones com dobra tripla pareçam meros artifícios.

A próxima temporada de compras de fim de ano será um teste para saber como a Huawei se sairá contra a Apple no mercado de smartphones de ponta da China, e o lançamento da série Mate 70 ainda poderá ter um grande impacto. Mas, por enquanto, esse confronto de manchetes pode fazer com que mais consumidores chineses optem por manter seus smartphones atuais por mais algum tempo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Catherine Thorbecke é colunista da Bloomberg Opinion e cobre tecnologia na Ásia. Já foi repórter de tecnologia na CNN e na ABC News.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

OpenAI está perto de lançar novo modelo de IA com ‘raciocínio’, diz fonte

Bilionário faz primeira caminhada espacial paga da história em missão da SpaceX

Contato de marcas com consumidor entra em nova era com IA, diz CEO de tech global