Investidor que previu o choque do iene vê risco de um abalo mais profundo

Arif Husain, chefe de renda fixa da T. Rowe Price, avalia que a disparada recente da moeda japonesa é o primeiro movimento e que pode haver mais volatilidade à frente

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Bloomberg — Arif Husain já previa em meados do ano passado que um aumento de juros no Japão seria um terremoto para os mercados globais, que ele descreveu como o equivalente financeiro de um abalo da “Falha de San Andreas” na Califórnia.

O chefe de renda fixa da gigante de investimentos T. Rowe Price agora alerta que o choque provocado pela disparada recente do iene é apenas “o primeiro movimento”, e que há mais volatilidade pela frente, depois que a alta de juros do Banco do Japão em julho desencadeou uma reversão brusca das posições de carry trade no mundo todo.

Os investidores podem ainda subestimar as repercussões mais profundas para os mercados de ações, dívida e câmbio do volume de dinheiro japonês investido no exterior que corre o risco de ser enviado de volta para casa com a alta de juros, disse o executivo da T. Rowe, que tem cerca de US$ 1,57 trilhão sob gestão.

“O carry trade com iene pode ter sido apenas o bode expiatório e o início de uma tendência maior e mais profunda”, disse ele. “O aperto monetário no Japão e seu impacto no fluxo de capitais global está longe de ser simples, e terá um grande impacto nos próximos anos.”

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Por anos os investidores aproveitaram os juros baixos do Japão e a tendência de enfraquecimento do iene para financiar operações de carry trade que apostam em ativos de rendimento mais elevado em mercados como México e Brasil.

Mas o peso do país no mercado financeiro global vai muito além disso: o Japão é o maior detentor externo da dívida pública americana e um dos principais investidores em todo tipo de ativo no mundo todo, e o iene é um dos principais pilares do valor global do dólar.

O desmonte repentino de operações de carry trade e a valorização da moeda japonesa derrubaram as ações em Tóquio, uma vez que os grandes conglomerados industriais do país, com filiais e exportações no mundo todo, se beneficiavam do câmbio fraco.

Embora a taxa de câmbio do país tenha se estabilizado, a volatilidade permanece alta. Cortes de juros nos Estados Unidos e o aperto monetário adicional do Banco do Japão podem abalar os mercados novamente mais cedo ou mais tarde.

Husain, que tem quase três décadas de experiência no mercado, favorece uma alocação com exposição alta a títulos do governo japonês, na expectativa de que muito capital provavelmente retornará ao país à medida que os juros sobem.

Por outro lado, ele recomenda exposição baixa aos Treasuries americanos, que serão pressionados pela saída de dinheiro japonês dos EUA.

“Em algum momento, juros mais altos no Japão podem atrair os investidores gigantes dos setores de seguros e fundos de pensões do país de volta”, escreveu Husain. “Isso reconfiguraria a demanda no mercado global.”

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