Etti Partners avança em parcerias regionais para crescer no segmento de wealth

Gestora fundada por Luiz Aires, Bruno Quelhas e Rodrigo Knudsen traz novas sócias, Maria Elisa Bianchetti e Tatiana Thumlert, para reforçar presença regional em wealth e foco na operação

A partir da esquerda, Tatiana Rondinelli Thumlert, Maria Elisa Bianchetti Pereira e Luiz Aires, sócios da Etti Partners (Foto: Divulgação)
26 de Agosto, 2024 | 02:42 PM

Bloomberg Línea — No momento em que anunciaram a chegada ao mercado, em outubro passado, os sócios fundadores da Etti Partners apostaram em uma abordagem de “cliente para cliente” para se diferenciar no segmento cada vez mais competitivo de gestão de patrimônio, o wealth management.

Nesse contexto, a Etti acaba de fazer novos movimentos que reforçam essa estratégia, em informação antecipada à Bloomberg Línea. Trouxe duas novas sócias, para avançar na conquista de clientes em mercados fora do eixo mais disputado de Rio-São Paulo e reforçar a área operacional.

São pilares estratégicos que se juntam com a base de gestão liderada por Rodrigo Knudsen, o Kiki, sócio fundador que está à frente das decisões de investimento, após anos de experiência no JSI, o family office de Joseph Safra em Mônaco e Genebra, e na Vitreo Investimentos. Os outros sócios fundadores da Etti são Luiz Aires, fundador e ex-head de RI da RPS Capital, e Bruno Quelhas, também ex-JSI.

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Uma das novas sócias é Maria Elisa Bianchetti Pereira, que acertou uma joint venture de sua gestora Cash Capital, com presença em Belo Horizonte, Nova Lima e no interior de Minas Gerais e que vai “tombar” clientes que estão entre as famílias mais ricas e tradicionais do estado para a Etti.

A sua chegada representa a incorporação de cerca de R$ 100 milhões em ativos para a Etti, além de um pipeline que pode trazer R$ 500 milhões adicionais em um período de 12 a 18 meses.

“Temos uma rede de relacionamentos não só com clientes como empresários que conheço e que deixam hoje o patrimônio em bancos ou cooperativas, sem que haja um planejamento de sucessão. Há uma oportunidade muito grande”, disse Bianchetti Pereira à Bloomberg Línea.

É uma parceria que faz parte da agenda de crescimento desenhada no modelo de negócios da Etti, alinhada com casas com atuação regional que possam se beneficiar de alavancagem operacional com foco em middle office e gestão no Brasil e nos Estados Unidos.

“No fim do dia, o business de gestão de patrimônio passa muito por confiança e relacionamento”, disse Aires na mesma entrevista.

Outra sócia, Tatiana Rondinelli Thumlert, que chegou para comandar a operação, foi anteriormente COO da Tower Three, a gestora de ações cofundada por Ricardo Almeida (ex-CEO da Bram) e Marcelo Nantes e que acabou adquirida pela ASA Investments, de Alberto Safra, no início de 2023. Sua experiência inclui treze anos na gigante de telecom Lucent Technologies (depois Alcatel), dos quais dez na tesouraria nos Estados Unidos.

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Segundo Aires, o mercado atualmente está propício para a atração de clientes no segmento, dada a avaliação de que muitos carregam performance aquém do esperado com seus ativos, o que reforça o apelo de quem entregou resultados ao longo dos anos.

Ele deu como exemplo muitas das carteiras que chegam para a Etti de clientes no segmento de wealth com retorno equivalente a 80% do CDI em janelas de 48 meses, por exemplo. Isso serve como um atestado do potencial de migração de recursos de investidores em situação semelhante e do qual a gestora espera se beneficiar com seu modelo fee based, em que recebe uma remuneração fixa pela gestão.

É um diferencial que ficará mais evidente em novembro com o início de vigência de normas da resolução 175 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), que preveem aumento da transparência das taxas cobradas tanto na distribuição de produtos como de gestores pela prestação de serviço de fundos.

“Acreditamos que o mercado terá um impulso gigantesco com a transparência de fees, a exemplo do que ocorre com outros países, em que o modelo fee based já predomina”, disse Aires. “Há um vetor para a mudança.”

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Ao fazer o planejamento da nova casa, os sócios fundadores decidiram alocar os recursos de clientes como carteira administrada, em cima de produtos de terceiros tanto no Brasil como no exterior (veja mais da estratégia abaixo).

Além de wealth management, a Etti Partners buscou montar uma oferta de serviços de consultoria patrimonial para os clientes, que incluem assessoria em wealth planning (assessoria tributária e sucessória), assim como o início da jornada filantrópica (demanda cada vez mais presente entre famílias).

O patrimônio não necessariamente fica sob custódia do family office e pode estar atrelado à instituição de preferência do investidor, com aconselhamento dos gestores da Etti.

A Etti entregou nos últimos 12 meses um retorno entre 9,35% e 11,77% entre os diferentes perfis versus o CDI de 11,5% nas carteiras onshore; e, nas carteiras offshore, entre 4,03% e 7,35% no ano entre os diferentes perfis versus 3,07% em 1-3 Month T-Bill (Treasuries-Bill).

Quando anunciou a chegada ao mercado no fim de 2023, a Etti tinha a previsão de alcançar na “largada” cerca de R$ 1 bilhão em ativos, de famílias com as quais já existe relacionamento prévio. O volume já supera os R$ 700 milhões, entre gestão discricionária e não-discricionária.

Neste ano, a Etti avançou com o processo operacional de se “plugar” com bancos e outras plataformas líderes de mercado para que, ao trazer novos clientes, possa assumir a gestão dos ativos, enquanto a administração e a custódia seguem com as instituições que já cuidam dessas frentes.

Aposta em offshore

Aires contou que a gestora tem sido acessada por investidores que desmobilizaram fundos exclusivos diante das mudanças de tributação do governo e que demonstram interesse em carteiras administradas com ativos incentivados, por exemplo, um dos investimentos que mais crescem na indústria.

Outro movimento crescente percebido é o da gestão offshore, que responde por 20% a 25% dos ativos, em decisão que deveria acontecer a priori como diversificação do portfólio, segundo o sócio da Etti, mas que na prática é muito relacionado com o movimento recente de desvalorização do real.

“Essa experiência na gestão de ativos no exterior é um dos diferenciais da Etti. São poucas as casas e os escritórios de agentes autônomos que possuem essa expertise. E a transparência no sentido que a gestão é própria para o cliente, e não algo replicado de cima para baixo”, disse Bianchetti Pereira.

Em outubro passado, quando muitas casas no Brasil e mesmo no mercado americano já se posicionavam para uma expectativa de quatro a cinco cortes de juros nos EUA, o CIO e head de gestão da Etti tinha o diagnóstico de que a economia americana - bem como a inflação - não iria desacelerar dessa forma e que, portanto, as taxas seguiriam altas por mais tempo, como acabou se confirmando.

“O que é mais importante para o investidor pensando em preservação de patrimônio? Tentar antecipar o próximo ciclo e estar sujeito a perdas ou entender qual o momento do ciclo e se posicionar? Essa é uma diferença importante”, disse Aires ao se referir o que aponta como uma característica da Etti, que ajudou a evitar prejuízos com a redução da alocação em multimercados, por exemplo.

Nesse sentido, Kiki destacou a avaliação de que o Federal Reserve está behind the curve de forma deliberada para tomar as próximas decisões sobre o juro e que a dúvida mais importante é entender em que patamar os juros vão estacionar - ele avalia que será em níveis mais altos, próximos de 3,5%, o que foi uma média histórica no mercado pré-2008.

Com esse cenário e o yield da Treasury de dez anos em 3,75% a 3,80%, o prêmio para carregar tais ativos diminuiu, mas ainda se justifica, segundo sua avaliação.

No cenário doméstico, a avaliação de que o estresse visto nos preços de ativos ao longo dos últimos meses, como reflexo de uma crise de confiança no governo, veio antes do esperado e que seria revertido já começou a se confirmar, dada a ausência de “más notícias”.

Mas o gestor da Etti apontou que as perspectivas de médio prazo com muitas incertezas e a proximidade das eleições de 2026 ensejam cautela e, portanto, isso leva a posições em pré-fixados com vencimentos mais curtos, além de um mix que inclui NTN-Bs, incentivados e pouca exposição à bolsa.

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.