Opinión - Bloomberg

Como Mark Zuckerberg pode ensinar as big techs a aproveitar os benefícios da IA

Enquanto as ações da Meta subiram 54% este ano, suas concorrentes tiveram aumentos bem mais modestos com o menor entusiasmo dos investidores

Meta CEO Mark Zuckerberg Interview On The Circuit
Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg Opinion — Mark Zuckerberg pode ter um histórico de copiar ideias alheias, mas, quando se trata de navegar pelo ciclo da inteligência artificial generativa, é ele quem está traçando um caminho mais inteligente.

No acumulado do ano, as ações da Meta Platforms (META) superaram o desempenho de outros gigantes da tecnologia, subindo 54%, enquanto empresas como Google, da Alphabet (GOOGL), e Microsoft (MSFT) subiram 18,5% e 12%, respectivamente.

Por quê? Os investidores se tornaram mais céticos nos últimos meses sobre a rapidez com que os novos modelos de IA beneficiarão economicamente os clientes dos gigantes de nuvem, e seu entusiasmo por Microsoft, Google e Amazon (AMZN) diminuiu.

A empresa de Zuckerberg é diferente. Em vez de simplesmente apresentar a inteligência artificial (IA) como um benefício econômico, a empresa demonstrou como a IA tornou os próprios sistemas de anúncios da Meta mais eficazes e, em última análise, mais lucrativos.

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A clareza de Zuckerberg em relação a esses detalhes nas teleconferências de resultados lhe rendeu elogios dos analistas e provavelmente contribuiu para o aumento das ações. A lição que ele oferece a seus colegas sobre a IA é antiga, mas muito boa: não diga, mostre.

Gráfico

Zuckerberg, é claro, está em uma posição diferente da Amazon, da Microsoft e do Google, pois não vende ferramentas de IA como parte de um serviço de nuvem que domina o mercado, como eles fazem. Mas isso não significa que os chamados “hiperescaladores” não possam aprender com sua abordagem. Um dos maiores fatores que pesam atualmente sobre o sentimento em relação à inteligência artificial é a utilidade.

Os modelos de IA de ponta da OpenAI, da Anthropic e do Google podem textos, códigos de computador e imagens fotorrealistas – mas descobrir como conectar isso aos negócios está demorando mais do que muitos no mercado gostariam.

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A Anthropic, uma das principais desenvolvedoras de modelos de IA generativa, me disse que os três casos de uso mais populares para sua tecnologia eram chatbots, resumo de texto e codificação. Mas ela e outras empresas que vendem serviços de IA não conseguiram articular exemplos mais concretos do retorno sobre o investimento de sua tecnologia.

Zuckerberg conseguiu, especialmente na última teleconferência de resultados trimestrais da Meta. “Foi sua melhor teleconferência como CEO”, de acordo com Gene Munster, sócio-gerente da Deepwater Asset Management. “Ele explicou os benefícios de curto prazo da IA, os benefícios de longo prazo e o momento em que tudo isso vai se desenrolar. E fez isso de uma forma convincente.”

De acordo com o último balanço da Meta, as ferramentas de inteligência artificial da empresa e a tecnologia de LLM (modelo de linguagem extensa, na sigla em inglês)) impulsionaram a personalização de conteúdo no Instagram e no Reels, fazendo com que os usuários ativos diários aumentassem 6%, o maior aumento dos últimos oito trimestres.

Leia mais: McKinsey: maior adoção de IA impulsiona consultoria em meio à queda do setor

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O tempo diário de exibição de todos os vídeos, incluindo o Reels, aumentou 25%, e espera-se que o recurso de vídeos curtos gere uma receita de US$ 10 bilhões em 2024, o que seria mais de três vezes maior do que há três trimestres, algo que os analistas atribuem aos sistemas de IA que alimentam seus feeds de recomendação.

Zuckerberg também disse que a tecnologia de IA da Meta ajudou a aumentar o tempo gasto no Instagram em 24% e levou a uma segmentação de anúncios mais eficaz.

Tudo isso dá a Zuckerberg a permissão de que ele precisa para desenvolver uma tecnologia de IA altamente cara, de acordo com o analista de ações do JPMorgan Chase (JPM) Doug Anmuth. O Meta “continua a ganhar o direito de gastar muito com a GenAI [inteligência artificial generativa]”, disse ele.

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Os gastos com IA são um assunto delicado para as grandes empresas de tecnologia no momento. No trimestre encerrado em junho de 2024, Apple (AAPL), Microsoft, Alphabet, Amazon e Meta gastaram, juntas, US$ 55 bilhões, um valor de capex 55% maior do que o do ano anterior, de acordo com dados compilados pela Bloomberg, números que abalaram os investidores.

A explicação do Google sobre o motivo pelo qual deve manter os gastos com IA não ajudou em nada por ser vaga: “o risco de investimento insuficiente é muito maior do que o risco de investimento excessivo”, disse o CEO da Alphabet, Sundar Pichai.

Em sua última teleconferência de resultados do segundo trimestre, Pichai destacou como a receita do Google para buscas e YouTube cresceu 14% e 13% em relação ao ano anterior, respectivamente, mas não atribuiu explicitamente esse crescimento ao uso de IA para melhorar seu desempenho financeiro, por exemplo, ao aprimorar os feeds de recomendação ou tornar a segmentação de anúncios mais eficaz.

Pichai deveria considerar a possibilidade de oferecer exemplos mais concretos de como o Google usa seus próprios produtos e demonstrar com detalhes de seu próprio negócio como a IA pode melhorar o desempenho financeiro de uma empresa.

Zuckerberg aprendeu tudo isso da maneira mais difícil, graças à sua aposta desastrosamente cara no metaverso – a divisão Reality Labs da Meta perdeu US$ 16 bilhões em 2023 – um negócio que mostra poucos sinais de retorno em breve.

Ele sabe que, para obter apoio para sua mais recente aposta em IA generativa, ele precisa articular como isso beneficia seu próprio negócio. Até agora, ele parece estar fazendo um trabalho melhor do que seus colegas.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous”.

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