O plano do Carlyle para crescer em crédito privado de olho em mercado de trilhões

Empresa conhecida pela sua estratégia no private equity tenta reduzir a distância para rivais como Ares, Apollo e Blackstone para aproveitar o boom do crédito privado no mundo

Carlyle Group
Por Dawn Lim - Paula Seligson - Ellen Schneider
24 de Agosto, 2024 | 07:30 AM

Bloomberg — Quando Harvey Schwartz assumiu o comando do Carlyle Group, no início do ano passado, os pilares do private equity – o negócio mais conhecido da empresa – já haviam se rompido.

As taxas de juros elevadas haviam dado um fim à era de ouro das aquisições, quando era possível obter retornos consideráveis ao carregar empresas com dívidas baratas e encontrar compradores mais dispostos. Mas Schwartz teve que lidar com um problema ainda mais grave.

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Os principais rivais haviam reduzido sua dependência de novas aquisições e já aproveitavam o boom do crédito privado de US$ 1,7 trilhão.

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A Apollo Global Management e outras gestoras de ativos alternativos passaram anos ampliando suas áreas de empréstimos e obtiveram grandes lucros quando os rendimentos subiram. Mas o Carlyle ficou para trás.

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A presença da empresa na área de crédito cresceu com dificuldade durante a maior parte dos últimos 25 anos, em meio à rotatividade e às mudanças de estratégia.

Ela passou do objetivo de comprar participações em fundos hedge para depois desistir desses experimentos e reagrupar-se em torno de um plano para ser uma instituição financeira maior.

Total de taxas de administração em estratégias de crédito em 2023

Finalmente, solidificou seu plano de crédito há cerca de sete anos, quando seus maiores concorrentes já se destacavam.

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Mais de um ano após o início do mandato de Schwartz, o CEO de 60 anos ainda tenta aumentar a área de crédito da gestora em face das mudanças permanentes no setor – e fazer do Carlyle uma grande plataforma de ativos alternativos.

Crédito em expansão

Embora o Federal Reserve esteja pronto para começar a cortar os juros em setembro, e os executivos digam que os negócios de private equity já começam a voltar, o crédito tem se tornado a forma mais rápida de as empresas crescerem - e superarem os ciclos de alta e baixa das aquisições.

Os órgãos reguladores dos EUA propuseram novas exigências de capital que podem fazer com que os bancos não queiram fazer certos tipos de empréstimos, o que aumenta a demanda por capital de instituições não bancários.

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Embora o Carlyle tenha aumentado seu negócio de crédito em cerca de seis vezes, que chegou a US$ 190 bilhões nos últimos sete anos, a casa continua sendo a menor operadora de crédito entre as cinco principais gestoras de ativos alternativos dos EUA.

Isso deixou a empresa mais dependente do private equity, uma categoria que gerou mais de 60% de suas taxas de administração de fundos no ano passado.

“Eles estão indo na direção certa”, disse Ken Leon, analista da CFRA Research, em uma entrevista. “Mas será um desafio alcançar alguns concorrentes maiores.” O principal fundo de crédito do Carlyle testará se os investidores concordam com isso.

Os ativos sob gestão do Carlyle ao longo do tempo

Quando a empresa começou a captar recursos em 2023 para seu mais recente fundo de crédito, a expectativa era arrecadar até US$ 6,5 bilhões. Cerca de um ano e meio depois, contudo, conseguiu levantar apenas metade desse valor.

O movimento fez com que o Carlyle prolongasse recentemente seu prazo final de captação até o final deste ano. Os executivos esperam que ela ultrapasse a safra anterior de US$ 4,6 bilhões da empresa – mas preveem que ficará aquém de suas ambições originais.

A empresa também adiou os planos de levantar um fundo de cerca de US$ 2 bilhões de special situations até o próximo ano.

O sucesso aumentaria a influência do head da área de crédito global do Carlyle, Mark Jenkins, enquanto o fracasso pesaria sobre as ações do grupo e poderia diminuir o legado dos fundadores da empresa e de Schwartz.

Sob o comando de Schwartz – ex-presidente e codiretor de operações do Goldman Sachs (GS) – o Carlyle está fazendo mais empréstimos contra garantias, buscando mais dinheiro de indivíduos ricos para uma série de oportunidades de financiamento e aproximando a equipe de vendas de crédito do restante da empresa.

Performance das ações desde 2023

As mudanças ajudaram a impulsionar o business de crédito, que o Carlyle destacou em seus resultados do segundo trimestre divulgados neste mês.

Os ganhos relacionados a taxas de crédito cresceram 71% em relação ao ano anterior, e Schwartz disse aos analistas que a unidade está bem posicionada para conquistar participação de mercado.

Apostas ruins

O braço de crédito do Carlyle começou a tomar forma em 1999, com uma equipe que buscava pechinchas em empréstimos de instituições financeiras, e tentou expandir esse negócio assumindo fatias em gestoras de fundos hedge. Mas as apostas ruins assustaram os clientes e condenaram essa estratégia.

Como chefe dessa unidade, Jenkins definiu as prioridades em torno de crédito líquido, crédito privado e empréstimos contra ativos como infraestrutura e propriedades.

Jenkins implementou mudanças radicais logo após ingressar na empresa em 2016, incluindo a redução de três equipes – o que levou vários funcionários da área de crédito a deixar a empresa.

Durante o boom de crescimento do crédito, os executivos discutiram se a empresa deveria ter uma equipe de vendas separada. Jenkins acabou desenvolvendo esse grupo dentro da equipe de crédito.

Em 2022, o Carlyle dobrou seus ativos de crédito ao embarcar em uma onda de compra de ativos e fechar um acordo fundamental com a resseguradora das Bermudas Fortitude Re - o maior crescimento em um ano durante a gestão de Jenkins. No entanto, algumas pessoas da empresa achavam que o Carlyle estava perdendo sua identidade principal de empresa de aquisições.

As aquisições trouxeram complicações, aumentando os argumentos dos que duvidavam do crédito.

Harvey Schwartz, CEO do Carlyle Group

No ano em que o Carlyle dobrou seus ativos de crédito, o CEO Lee deixou a empresa abruptamente após uma disputa com os fundadores. Jenkins foi escolhido para o cargo de CEO, mas Schwartz acabou ficando com o primeiro lugar. Após a mudança de liderança, ocorreram mais transformações na divisão de crédito.

Schwartz enfatizou que deseja aumentar a unidade de crédito e disse que ela tem os componentes necessários para se expandir.

Saídas de executivos

O novo CEO também impôs contratos restritivos de non-compete para um grupo mais amplo de executivos e vinculou a remuneração aos ganhos futuros dos fundos em toda a empresa.

Como Schwartz se concentrou mais no desempenho, o Carlyle afastou alguns executivos. Outros se demitiram.

Na área de crédito, Andrew Curry, que liderou as relações com investidores para crédito, e o chefe de empréstimos diretos Aren LeeKong, saíram durante um período recente de 18 meses, quando uma dúzia de funcionários voltados para o cliente em toda a empresa também fizeram o mesmo. O Carlyle não quis comentar sobre as saídas.

Mark Jenkins, head de crédito global do Carlyle Group

No início de 2024, o braço de empréstimos diretos do Carlyle passou pela sua quarta rodada de liderança nos últimos seis anos.

“A rotatividade não tem sido um problema”, disse Joseph Stivaletti, diretor administrativo e gestor que supervisiona os investimentos em crédito da administradora de fundos de pensão canadense PSP Investments, que apoiou os principais fundos de crédito do Carlyle e financiou várias operações de aquisição da casa. “E os retornos têm sido fortes, o que é o ponto principal.”

Dois dos principais fundos de crédito estão tendo um desempenho acima dos retornos combinados dos pares de crédito privado levantados no mesmo ano, segundo dados da MSCI para dezembro de 2023.

Componentes do portfólio de crédito do Carlyle

A empresa continua a ampliar sua presença na Europa. Em 2023, lançou uma estratégia dedicada de empréstimos diretos no continente.

Schwartz também quer fazer do Carlyle uma marca mais conhecida. Ele pediu aos executivos que pensassem em fundos que a empresa estava deixando de lado e que poderiam ser oferecidos em outras plataformas bancárias.

A empresa ainda tenta ganhar terreno sobre os rivais, sabendo que não será uma linha reta.

-- Com a colaboração de Gillian Tan.

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