Opinión - Bloomberg

Por que o Fed deveria cortar a taxa de juros rapidamente, com recessão ou não

Formuladores de política monetária não precisam esperar a confirmação com novos dados do que o último ‘payroll’ sinaliza sobre o desemprego e o crescimento econômico do país

Sede do Federal Reserve, em Washington
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — O relatório de empregos (payroll) dos Estados Unidos publicado na sexta-feira (2), mais fraco do que o esperado, provocou um debate sobre a economia americana. O país estaria entrando em recessão ou o aumento da taxa de desemprego em julho foi devido a uma normalização contínua do mercado de trabalho após a pandemia?

Seja qual for a sua opinião, a atitude correta do Federal Reserve é agir com urgência e reduzir a taxa de juros em um ponto percentual para 4,25% a 4,5% até o final do ano, em nome da gestão de riscos.

Esse é um nível de flexibilização que o Fed provavelmente atingirá mesmo que o aumento do desemprego seja benigno, já que não são necessárias taxas tão restritivas para controlar a inflação.

Faz sentido antecipar esses cortes nas taxas em vez de correr o risco de ser muito lento para agir e evitar resultados econômicos piores.

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Se o país realmente estiver rumo a uma recessão, não há muita discordância sobre o que o Fed deve fazer: cortar as taxas de juros de maneira rápida e acentuada. Foi nesse ponto que a precificação do mercado mudou depois de uma semana difícil de dados econômicos.

Os contratos futuros de taxas de juros sugerem que o Fed reduzirá a taxa de política monetária em mais de 200 pontos-base até o final de 2025, levando a taxa de juros de referência para perto de 3%. Isso parece razoável com base em recessões anteriores.

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O segundo cenário é mais desafiador. A taxa de desemprego subiu este ano de 3,7% para 4,3%, mas o percentual de pessoas com idade entre 25 e 54 anos que estão empregadas também aumentou, de 80,4% para 80,9%.

Essa é uma dinâmica incomum, pois a taxa de desemprego reflete, em parte, o aumento da participação na força de trabalho.

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É possível que a explicação de uma normalização gradual seja a correta, que haja pouco risco de um aumento rápido do desemprego e que o Fed tenha tempo para ser paciente. Mas apostar todas as fichas nisso é arriscado.

A taxa de demissões está baixa no momento, mas esperar que os cortes de empregos aumentem significa esperar até que seja tarde demais para evitar uma recessão.

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Durante a crise financeira de 2008, por exemplo, as demissões só começaram a aumentar em meados do ano, quando a recessão já estava em andamento.

A taxa de contratação já caiu para níveis que sugerem que os empregadores não se sentem compelidos a aumentar suas folhas de pagamento.

Gráfico

Em geral, é melhor não focar demais na taxa de desemprego. Os pontos de inflexão na economia são confusos e incertos por natureza, e confiar demais em cenários otimistas pode causar graves erros de política.

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O ex-presidente do Fed, Ben Bernanke, fez seu discurso “o subprime está contido” em maio de 2007, quando o mercado imobiliário já estava em processo de colapso.

O trabalho do banco central é o gerenciamento de riscos. É por isso que os formuladores de política monetária continuaram a aumentar as taxas de juros no primeiro semestre de 2023, bem mais de um ano após sua medida preferida de inflação ter atingido o pico e começado a declinar.

Em junho, o “dot plot” do Fed – uma coleção anônima de expectativas de taxa de juros dos diretores do Fed – mostrou uma projeção mediana para um corte de 25 pontos-base em 2024, seguido por mais quatro reduções em 2025, ou 1,25 pontos percentuais de flexibilização em geral.

Tanto os dados do mercado de trabalho quanto os da inflação enfraqueceram desde então. Um gráfico de pontos revisado hoje provavelmente mostraria cortes mais agressivos, e sabemos, pelos comentários do presidente do Fed Jerome Powell na quarta-feira (31), que os formuladores de política monetária estão preparados para reduzir as taxas em setembro.

Então, por que esperar? Os riscos de inflação foram suficientemente moderados, portanto, o principal argumento contra cortes mais agressivos do que os sinalizados anteriormente seria o risco de os mercados ficarem alarmados com o que isso diz sobre as perspectivas econômicas.

Felizmente, Powell pode usar seu próximo discurso na conferência do Fed de Kansas City em Jackson Hole, estado do Wyoming, para moldar a narrativa.

Cortes rápidos na taxa de juros aliviariam a pressão sobre os americanos que lutam para pagar dívidas de cartão de crédito com taxas flutuantes ou para obter financiamento para um carro novo. Isso ajudaria os milhões de proprietários de imóveis que compraram imóveis quando as taxas de hipoteca estavam altas.

O refinanciamento a taxas mais baixas liberaria os orçamentos familiares para outros tipos de consumo. O principal obstáculo para a economia no momento são os altos custos dos empréstimos.

A lentidão dos formuladores de política monetária remete à situação econômica e ao debate do Fed no início de 2022. Na época, a disputa era sobre se a inflação era transitória e se aumentar as taxas de juros em 25 pontos-base uma vez por trimestre seria rápido demais.

Por fim, a situação da inflação piorou e o Fed teve de reagir de forma agressiva. Muitos economistas agora acreditam que o atraso no aumento dos juros foi um erro.

Agora, estamos na situação oposta, com o esfriamento do mercado de trabalho. O Fed já sinalizou a probabilidade de cortar a taxa na reunião de setembro. Os formuladores de política monetária perdem pouco e têm muito a ganhar se agirem rapidamente.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Conor Sen é colunista da Bloomberg Opinion e fundador da Peachtree Creek Investments.

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