Bloomberg Opinion — Durante a maior parte do ano, muitos parisienses planejaram a Olimpíada – não para participar dela, mas para fugir do evento.
O medo de uma cidade inabitável, repleta de turistas e desprovida de bens básicos, foi combinado com a ganância diante da perspectiva de cobrar quantias absurdas desses mesmos turistas por acomodações no Airbnb.
O excesso de turismo, a manipulação de preços e o policiamento rigoroso certamente transformariam Paris em um inferno.
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Felizmente, para aqueles que ficaram, nada saiu como o esperado. Paris raramente pareceu menos infernal: as barreiras de segurança que bloqueiam o Sena foram em grande parte desmontadas, a chuva parou e os pontos turísticos de Paris parecem incríveis, desde os eventos de esgrima do Grand Palais até o final do triatlo da Pont Alexandre III.
Policiais simpáticos de diferentes países andam pelas ruas, voluntários sorridentes estão por toda parte e o metrô tem espaço de sobra. Medalhas de ouro em abundância espalham alegria em uma terra de pessimistas.
Esse não é apenas o poder do esporte ou os benefícios de uma boa organização. Apesar das expectativas de 15 milhões de visitantes extras para a Olimpíada, a combinação de parisienses em fuga, turistas hesitantes e eventos imprevistos, como sabotagem de infraestrutura, parece ter tornado uma das cidades mais densamente povoadas do mundo menos lotada e mais habitável.
O tráfego de veículos caiu 22% em uma semana, e a velocidade média no anel viário periférico aumentou 31%, de acordo com a empresa de dados Coyote. Não se trata de uma pausa comum no verão, nem de uma desolação urbana na escala da pandemia de covid-19.
A geografia dos Jogos está desviando os turistas das avenidas tradicionais de compras, o que pode ser frustrante para os locais mais conhecidos, mas bom para os bairros menos movimentados que estão recebendo eventos em nome da renovação urbana.
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Para os especuladores, foi um despertar merecidamente cruel. Das 87.000 opções de acomodação disponíveis online na região de Paris para as Olimpíadas, apenas uma em cada 10 será reservada durante todo o evento, de acordo com dados da AirDNA citados pelo jornal Le Parisien.
A ganância é um fator: cabe lembrar que, no início deste ano, algumas casas de alto padrão, com 100 metros quadrados, foram colocadas para locação no mercado por cerca de 20.000 euros a 30.000 euros por semana.
Os hotéis também reduziram os preços pela metade em comparação com os valores de pico, depois de terem aumentado os preços em cerca de 300% em antecipação.
Algumas tendências, como a deflação ou o cansaço do turismo, são fortes demais até mesmo para o maior espetáculo da Terra.
E para os pessimistas, o evento está longe de ser um fracasso. O entusiasmo pode ser ouvido nos próprios eventos ou visto em novos marcos, como o balão de prata que segura a chama olímpica nos jardins de Tuileries.
Até mesmo a agora infame cerimônia de abertura parece ter conquistado os franceses, apesar de muitas reclamações online – uma pesquisa sugere que cerca de 85% das pessoas a consideraram um “sucesso”.
Obviamente, os gostos são subjetivos. Mas Paris tem uma forma histórica quando se trata de reclamações: a Torre Eiffel, construída para a Expo de 1889, também gerou muita indignação na época entre os grandes e os bons que a consideravam desagradável. Alguém diria isso hoje?
Os céticos dirão que nenhuma dessas boas vibrações vale o custo ou o impacto de carbono de sediar os Jogos. Talvez sim, principalmente no que se refere à limpeza do Sena.
Mas Paris certamente merece crédito por usar construções pré-existentes ou temporárias em 95% de suas instalações olímpicas e por contar com empresas como a LVMH de Bernard Arnault para 96% do orçamento.
As boas vibrações (e as receitas fiscais) também podem ajudar a economia: A Bloomberg Economics avalia que o crescimento econômico francês aumentará no terceiro trimestre.
Considerando as batalhas políticas que aguardam Emmanuel Macron e os franceses assim que os atletas voltarem para casa e os parisienses retornarem, sem nenhum governo em vigor após as recentes eleições, o inferno, na minha opinião, não são os Jogos Olímpicos – são outras pessoas.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Lionel Laurent é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre o futuro das finanças e da Europa. Já trabalhou para a Reuters e a Forbes.
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