Bloomberg — No sul de Riad, próximo às ruas do centro da cidade, repletas de vegetação rara do deserto, fica um palácio de 34.000 m² que já foi habitado pelo Rei Saud bin Abdulaziz, o segundo governante da Arábia Saudita moderna.
O Red Palace foi construído na década de 1940 para o então príncipe herdeiro. Agora, a mansão em art-déco de 3,6 hectares está sendo transformada em um hotel ultraluxuoso projetado para oferecer aos hóspedes um gostinho da vida real saudita.
A reforma, feita pela empresa de hospitalidade Boutique Group, é o tipo de projeto de turismo que também é uma preservação histórica.
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O Red Palace serviu como sede do governo quando o reino se tornou uma superpotência energética global; quando for inaugurado em 2025, oferecerá 70 quartos que preservam não apenas os espaços físicos, mas todo o estilo de vida que os acompanhava.
Os cardápios terão as receitas favoritas da família Saud. Os tratamentos de spa usarão os antigos rituais de cura da região. Aromas da rosa nativa de Taif – uma das favoritas do Rei Saud – serão difundidos pelo ar.
O Boutique Group diz que o Red Palace será uma experiência inédita no país, que há apenas cinco anos começou a permitir amplamente a entrada de turistas no país para lazer. E, provavelmente, custará mais do que quase tudo no mercado de luxo global.
“É a experiência de ser tratado como um membro da realeza, em que tudo é pensado nos mínimos detalhes”, disse Mark De Cocinis, CEO do Boutique Group, em uma entrevista em Riad. “Mais ainda, trata-se da história e da cultura, de viver a história dos reis, das famílias e dos hóspedes que eles receberam.”
O Boutique Group, de propriedade integral e financiado pelo fundo soberano da Arábia Saudita, afirma que seu esforço para reformar o Red Palace faz parte de um esforço mais amplo do reino para diversificar sua economia do petróleo para novos setores, como o turismo.
A própria Arábia Saudita planeja investir US$ 800 bilhões em turismo na próxima década, pois espera receber 150 milhões de turistas por ano.
A Arábia Saudita recebeu mais de 100 milhões de turistas em 2023, embora a maioria deles fossem moradores locais explorando um país que há muito estava fechado para o entretenimento.
Agora, os cidadãos encontram dezenas de restaurantes de luxo e uma cadência regular de eventos que variam de lutas de boxe do UFC a shows de Alicia Keys e Backstreet Boys, bem como maratonas.
Menos de um terço dos turistas da Arábia Saudita veio do exterior em 2023, o que ressalta o desafio que o reino enfrenta para atrair principalmente os ocidentais, que ainda podem estar céticos quanto a visitar um lugar que tem sido associado a violações dos direitos humanos.
Luxo nos detalhes
Os estrangeiros que vêm em busca de luxo geralmente se dirigem aos novos resorts no Mar Vermelho, semelhantes aos das praias das Maldivas ou do oásis desértico de AlUla.
Ambos os destinos são muito mais atraentes do que Riad, uma metrópole pouco glamurosa que atualmente é mais um polo de construção do que qualquer outra coisa.
O Red Palace do Boutique Group pode fazer com que os viajantes pensem duas vezes antes de evitar a capital.
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A cerca de uma hora do principal aeroporto da cidade, os hóspedes serão recebidos por funcionários cujos uniformes serão uma versão moderna dos trajes tradicionais sauditas.
As experiências no local contarão a história do Red Palace em seu auge. Um lounge de patrimônio histórico será decorado com artefatos da época do Rei Saud – a primeira e a segunda edições da nota de 100 riais da Arábia Saudita apresentavam o Red Palace.
Os tratamentos de spa usarão ingredientes tradicionais locais, como sementes negras.
“Tivemos que nos envolver com a família [real]”, diz De Cocinis, do Boutique Group, sobre o processo de pesquisa que a empresa fez para garantir que a experiência no palácio fosse realmente autêntica.
É um nível de detalhe difícil de encontrar em outros destinos, embora alguns hotéis, como o Le Grand Contrôle, situado dentro dos portões do Palácio de Versalhes, na França, tenham seguido uma abordagem semelhante.
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Como parte da experiência, os viajantes do Red Palace terão anfitriões do palácio dedicados e treinados para atender a praticamente qualquer pedido.
“Realmente não há limite. Desde que seja moral e ético, nós o faremos”, diz De Cocinis.
O Boutique Group espera que a maior parte de sua equipe de hospitalidade seja local. Para treinar talentos sauditas, está fazendo uma parceria com a empresa de hospitalidade suíça Sommet Education, entre outros, para criar programas de desenvolvimento exclusivos para seus funcionários.
Novos hotéis à vista
Embora sua localização em Riad esteja a poucos minutos de um dos trechos de rodovia mais movimentados da Arábia Saudita, o Red Palace deverá ser acessível por um novo sistema de metrô quando for inaugurado, facilitando a locomoção em uma cidade com trânsito que rivaliza com Los Angeles na hora do rush.
Também fica a uma curta distância de pontos de referência, incluindo o Museu Nacional da Arábia Saudita e o Palácio Histórico de Murabba – uma raridade na capital, onde quase nada pode ser feito a pé.
A Praça Deera, onde a Arábia Saudita realizava execuções públicas, também fica a uma curta distância, servindo como um lembrete das complexidades existentes na história do reino.
Embora o Red Palace tenha sido projetado para ser um hotel palácio boutique de luxo diferente de qualquer outro na Arábia Saudita, ele acabará tendo companhia.
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O Boutique Group está trabalhando na conversão de dois outros palácios reais em resorts de luxo – o Tuwaiq Palace, em Riad, e o Al Hamra Palace, na cidade costeira de Jeddah – e está estudando outros três.
“Não há nada que se compare ao que estamos fazendo”, diz De Cocinis. “Estamos oferecendo a localização, o palácio, a história, a cultura e também a exclusividade desse serviço na Arábia Saudita.”
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