Sucessores? Dupla escolhida por Dimon tem a missão de liderar o JPMorgan em Wall St

Jennifer Piepszak e Troy Rohrbaugh assumiram a coliderança do banco comercial e de investimento do maior player financeiro dos EUA, em passo relevante na linha de sucessão do longevo CEO

Sede do JPMorgan em Nova York: divisão de atacado do banco registrou recorde de US$ 35,5 bi em receita no 1º semestre
Por Hannah Levitt
03 de Agosto, 2024 | 07:30 AM
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Bloomberg — Uma estava no carro com a família, o outro, com o celular desligado, quando Jamie Dimon começou a ligar em um sábado do mês de janeiro deste ano com uma pergunta: você consegue comandar uma operação de Wall Street maior que a do Goldman Sachs (GS)?

Foi assim que Jennifer Piepszak e Troy Rohrbaugh souberam que estavam prestes a coliderar o banco comercial e de investimento do JPMorgan (JPM) – uma das mudanças de liderança mais significativas da indústria em anos.

A tarefa: continuar a construir um gigante de Wall Street que já está no topo de todas as principais linhas de negócios.

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Na primeira entrevista desde que assumiram o cargo - para a Bloomberg News -, Piepszak e Rohrbaugh, ambos de 54 anos, descreveram o turbilhão que se seguiu enquanto descobriam como iriam administrar o negócio, criar uma equipe de liderança e se preparar para apresentar o plano aos acionistas em maio.

Eles também explicaram como chegaram aos esforços estratégicos que incluem gerenciar uma parcela maior dos fluxos de caixa corporativos.

A divisão acaba de registrar um recorde de US$ 35,5 bilhões em receita no primeiro semestre do ano.

A reestruturação promovida pelo CEO Jamie Dimon, de 68 anos, desde 2006 no comando do JPMorgan, proporciona aos seus possíveis sucessores mais experiência na gestão de áreas-chave do banco.

Jenn Piepszak e sua ex-colega de liderança no braço de varejo do JPMorgan, Marianne Lake, há muito tempo são vistas como as candidatas mais prováveis. No entanto a mudança em janeiro colocou Troy Rohrbaugh como o principal concorrente.

Tudo começou quando Piepszak atendeu seu telefone. Ela tinha uma ideia de quem poderia ser. “Jamie é a única pessoa que conheço que liga com o ‘sem identificação de chamada’”, disse ela.

Rohrbaugh, em visita à sua mãe em um hospital em Baltimore, ligou seu celular e descobriu uma série de ligações perdidas de um número bloqueado, além de chamadas do seu então chefe.

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Jenn Piepszak e Troy Rohrbaugh, que foram promovidos neste ano à co-liderança do banco comercial e de investimento do JPMorgan

“Minha mãe disse: ‘Você não acha que deveria retornar a ligação?’”, lembrou Rohrbaugh. “E eu respondi: ‘Bom, ou o prédio está pegando fogo, ou estou sendo promovido, ou estou sendo demitido.’”

Dimon perguntou sobre a mãe dele e, em seguida, lhe informou sobre a promoção.

Em menos de uma semana, Piepszak e Rohrbaugh estavam no comando de uma divisão com mais de 90.000 pessoas ao redor do mundo – aproximadamente o dobro da quantidade de funcionários do Goldman Sachs e que gera cerca de um terço a mais de receita.

Suas operações, espalhadas por mais de 60 países, costumam gerar a maior parte dos lucros do JPMorgan.

Em julho, Piepszak e Rohrbaugh registraram um ganho importante de participação de mercado, já que os banqueiros de fusões e aquisições (M&A) do JPMorgan arrecadaram mais taxas do que o Goldman pela primeira vez em mais de uma década.

O ganho veio após meses de reclamações de alguns concorrentes de que o JPMorgan estava fazendo lances mais agressivos para ganhar mandatos das empresas.

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Começo agitado

Os primeiros meses de Piepszak e Rohrbaugh poderiam ter sido menos agitados se o JPMorgan não tivesse expandido simultaneamente sua divisão antes do Investor Day já marcado para maio.

Dentro do JPMorgan, há muito tempo circulavam rumores de que o banco comercial se fundiria com as operações de banco corporativo e de investimento. Mas Dimon queria primeiro expandir o banco comercial.

Sincronizar essa reorganização com a chegada de Piepszak e Rohrbaugh significou que eles tiveram cerca de quatro meses para concretizá-la, aprimorar sua estratégia, montar uma equipe e, em seguida, subir ao palco para apresentar seus planos aos acionistas – sem nenhuma fase de adaptação.

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“Ter que se preparar para o Investor Day foi realmente muito útil”, disse Rohrbaugh. Se não fosse por isso, “o que nos levou três meses teria levado mais de doze.”

A apresentação em si parecia uma volta da vitória. De 25 produtos, o JPMorgan se classificou em primeiro lugar em 13 e em segundo ou terceiro em 11 deles.

Há apenas um produto no qual a empresa se classifica mais abaixo no ranking: “trade finance”. As antigas oportunidades de melhorar os lucros estreitando grandes lacunas competitivas – como no trading de ações – não existem mais. “O fruto fácil de colher não está mais lá”, disse Rohrbaugh.

Ganho de share e inovação

Olhando para o futuro, Rohrbaugh e Piepszak visam conquistar mais participação de mercado ao administrar mais fluxos de caixa corporativos ao redor do mundo.

Esse serviço pode ser uma porta de entrada para os clientes, o que abre caminho em seguida para empréstimos, trading e investment banking. Isso tem sido um desafio constante para o HSBC e o Citigroup (C), que considera essa área sua “joia da coroa” e chave para o seu futuro.

Piepszak e Rohrbaugh também veem oportunidades na chamada “economia da inovação” – o ecossistema de startups e venture capital, antes dominado pelo Silicon Valley Bank (SVB).

O banco quebrou no ano passado, seguido pelo rival First Republic, que o JPMorgan adquiriu para impulsionar suas ambições nos setores de tecnologia e saúde.

Em outra frente, o JPMorgan tem contratado traders e banqueiros no Japão, e mais banqueiros na Índia, ambos mercados que Piepszak chamou de “oportunidades descomunais”. Nos EUA, a empresa planeja expandir para mais de uma dúzia de cidades de middle market até o final de 2025.

A lista de tarefas deles não acaba aí e inclui aprofundar os relacionamentos com clientes no espaço de instituições financeiras, incentivar os traders e coordenadores de ações a fechar “lacunas endereçáveis” em áreas de nicho, avançar em crédito privado e implementar a Inteligência Artificial (IA).

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Isso acontece em um cenário competitivo que vai muito além dos rivais bancários habituais, como Citigroup, Goldman, Morgan Stanley (MS) e Bank of America (BAC).

Embora as fintechs tenham atraído a atenção do público com aplicativos e plataformas populares, elas têm lutado para se expandir e ameaçar os grandes bancos, que oferecem um serviço mais completo.

Mas, em Wall Street, casas de trading não bancárias como Jane Street e Citadel Securities têm se mostrado cada vez mais competitivas e possuem planos de expansão ambiciosos.

Na indústria de M&A, existem boutiques como Evercore e Jefferies Financial. Empresas de crédito privado estão desafiando o negócio bancário de concessão de empréstimos. Plataformas de pagamentos também estão com clientes maiores na mira.

“O espaço não bancário é mais profundo e está ficando mais forte”, disse Piepszak.

Parceria de longa data

As carreiras de Piepszak e Rohrbaugh vêm se cruzando há cerca de uma década. Tudo começou quando ela estava à frente da área de negócios do banco, e ele, da área de trading de câmbio, e suas operações geraram uma parceria.

Alguns anos depois, Piepszak foi nomeada diretora financeira (CFO), enquanto Rohrbaugh continuou sua ascensão na hierarquia de trading até se tornar chefe global de mercados. Eles se encontravam duas vezes por semana – nas manhãs de segunda e quarta-feiras.

“Suspeito – e nunca fui diretor financeiro – que, para a maioria dos diretores financeiros, você quer saber o que estamos fazendo nos mercados,” disse Rohrbaugh. “É o único lugar em que você pode realmente perder muito dinheiro em um determinado dia, semana ou mês.”

Depois que Dimon os chamou naquele sábado em janeiro, eles passaram cerca de uma hora no telefone conversando. Seus escritórios agora são adjacentes na sede da empresa em Manhattan. Na entrevista à Bloomberg News, um fazia uma observação, e o outro a reforçava minutos depois.

Recentemente, eles fizeram um tour por suas operações na Europa, visitando seis cidades em cinco dias. Após visitarem juntos Madri, Frankfurt e Milão, Piepszak seguiu para Paris, enquanto Rohrbaugh foi para Londres, e depois eles se reuniram novamente em Dublin.

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