Opinión - Bloomberg

Fracasso na venda da Wiz para o Google é má notícia para ambas as empresas

Negociações de M&A que não avançam não são raridade no Vale do Silício, mas, desta vez, o preço a ser cobrado pelo revés será elevado para as duas empresas envolvidas

Logo da Wiz
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Mesmo tentadora, a proposta de US$ 23 bilhões não convenceu os fundadores da Wiz a vender a empresa para a Alphabet (GOOGL).

A Wiz, uma empresa de cibersegurança com sede em Nova York praticamente desconhecida, aparentemente desferiu o maior de todos os golpes contra a gigante da tecnologia aquisitiva. Ela se afastou do que teria sido a maior compra da história do Google dois meses após o início das negociações.

Em um memorando aos funcionários, o cofundador da Wiz Assaf Rappaport disse que a oferta do Google era “humilhante”, mas que a empresa queria se concentrar em aumentar sua receita recorrente para US$ 1 bilhão (atualmente, ela está em US$ 550 milhões) e buscar uma oferta pública inicial (IPO).

Isso causa frustração entre os funcionários da Wiz, que provavelmente não estão entusiasmados com a perda de um grande pagamento.

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As consequências podem ser piores para o Google, que batalha em seus esforços para reforçar seu negócio de nuvem e alcançar a Amazon (AMZN) e a Microsoft (MSFT).

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No início de julho, a empresa encerrou seus esforços para adquirir a HubSpot (HUBS), fabricante de software de gerenciamento de relacionamento com o cliente, que a teria ajudado a competir com a Microsoft, Oracle (ORCL) e Salesforce (CRM) em outro mega negócio.

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Embora não esteja claro o motivo do fracasso do negócio, é provável que ele tenha atraído o escrutínio de órgãos antitruste em um momento em que o Google já enfrenta um processo do Departamento de Justiça dos Estados Unidos por causa de seu domínio em buscas e publicidade relacionada.

A rejeição da Wiz, combinada com o ambiente regulatório instável, coloca o Google em uma posição ainda mais difícil em seu esforço para expandir seu negócio de nuvem, que tem 11% do mercado, atrás do Azure da Microsoft (com 25%) e do AWS da Amazon (o líder com 31%), de acordo com o Synergy Research Group, uma empresa de inteligência de mercado.

Mas ela precisa crescer, pois a dependência de longa data da empresa em relação à publicidade a deixa exposta à desaceleração do crescimento ou às taxas de juros elevadas.

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As aquisições são o caminho a seguir, já que o Google tem um histórico irregular de transformar suas próprias inovações em produtos lucrativos.

Os pesquisadores do Google inventaram o Transformer, por exemplo, mas foi a OpenAI que o comercializou com sucesso pela primeira vez. “Transformer” é o T em ChatGPT. Há dois anos, o Google conseguiu comprar a empresa de segurança cibernética Mandiant por US$ 5,4 bilhões.

A adição da Wiz, especializada em segurança cibernética para aplicativos baseados em nuvem, poderia ter completado essa oferta de segurança e dado ao Google Cloud um forte argumento de venda versus seus concorrentes maiores. O Google não respondeu aos pedidos de comentários.

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A Wiz terá seu próprio preço a pagar pelo desprezo.

De acordo com pessoas próximas à empresa, seus fundadores não se afastaram do Google como uma tática de negociação, mas querem genuinamente se tornar tão grandes quanto a rival Palo Alto Networks, que também tem fundadores israelenses, abriu seu capital em 2012 e tem uma capitalização de mercado de US$ 100 bilhões.

Os fundadores da Wiz venderam anteriormente uma empresa de segurança para a Microsoft por US$ 320 milhões e já são multimilionários que não foram atraídos pela perspectiva de um salto repentino em sua riqueza pessoal nem estão interessados em se conectar a uma big tech, segundo duas pessoas próximas à empresa.

Tudo bem, mas, enquanto isso, muitos dos engenheiros da Wiz ficarão descontentes por terem perdido um ganho inesperado. Desprezar um adquirente não é algo inédito no Vale do Silício.

Mark Zuckerberg disse “não” a US$ 1 bilhão do Yahoo! em 2006, e os fundadores da Snap (SNAP) recusaram US$ 3 bilhões em 2013 de Zuckerberg. Mas US$ 23 bilhões são outra história.

Um fundador do WhatsApp me explicou certa vez que, quando Zuckerberg o procurou com uma oferta de aquisição de US$ 19 bilhões em 2014, o bilionário do Facebook “fez uma oferta irrecusável”.

Os fundadores do WhatsApp supuseram que, se a oferta fosse recusada, eles enfrentariam uma revolta da equipe. É claro que a pequena força de trabalho do WhatsApp, composta por 50 funcionários, se tornou multimilionária, e a Wiz tem uma equipe maior, de 1.200 funcionários – mas eles ainda vão perder um pagamento que mudaria suas vidas.

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Apaziguar os funcionários da Wiz em Israel será principalmente complicado, já que muitos trabalhadores locais da área de tecnologia estão deixando o país, onde residem alguns dos melhores hackers do mundo, graças ao serviço militar obrigatório do país, que geralmente envolve treinamento em cibersegurança.

É difícil exagerar o quanto a Wiz parece audaciosa ao deixar US$ 23 bilhões na mesa, mas isso deixa as duas empresas em uma situação um tanto complicada.

O Google precisa agora encontrar outro caminho para aumentar seu negócio de nuvem, que tem ficado para trás. A Wiz também precisa corresponder às expectativas muito altas que estabeleceu para si mesma.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre tecnologia. Já escreveu para o Wall Street Journal e a Forbes e é autora de “We Are Anonymous”.

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