Saída de estrategista do JPMorgan é alerta a pessimistas e otimistas em Wall St

Marko Kolanovic deixou o banco após 19 anos e um período recente de previsões de correção que não se concretizaram, em caso que remete ao visto antes do estouro da bolha das ‘pontocom’

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Bloomberg — Na madrugada de 27 de agosto de 1999, o mercado financeiro foi abalado pela demissão de um de seus pessimistas mais convictos, Charles Clough, então estrategista-chefe do Merrill Lynch.

A opinião de Clough era muito respeitada, mas ele tinha cometido um grande erro: ficar pessimista diante de um dos maiores ralis da história – nesse caso, o frenesi das empresas “pontocom”, que fez o índice S&P 500 subir 220% do início de 1995 até o final do século passado.

Esse acontecimento parece ser de muito tempo atrás, mas, em Wall Street, o passado é muitas vezes um presságio do que está por vir.

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Dessa forma, a saída abrupta de Marko Kolanovic no início do mês, após 19 anos no JPMorgan (JPM), está fazendo com que muitos traders, banqueiros e analistas mais experientes se lembrem do adeus de Clough.

Assim como em 1999, um estrategista proeminente saiu do cargo depois que seus alertas sobre um crash iminente das ações nunca se concretizaram e o S&P 500 engatou novas sequências de alta.

Agora, alguns investidores estão se questionando se toda essa movimentação é um sinal de que o mercado de ações possa estar atingindo o pico.

Bolha das “pontocom”

Em março de 2000, a bolha da internet estava quase estourando e, em 3 de abril, o Nasdaq Composite Index registrou a maior queda de todos os tempos até aquele momento.

A partir daí, continuou caindo, perdendo mais da metade de seu valor até o final de 2001. O índice não voltaria a atingir o pico de 2000 até 2015.

O receio é que a história esteja prestes a se repetir, já que a saída dos cínicos é algo que costuma acontecer no final desses momentos de agitação do mercado.

“Será que a situação de Marko é um sinal de um topo de mercado?”, questiona David Rosenberg, fundador e presidente da Rosenberg Research.

“Há muitas características que podem indicar uma queda próxima – e eu diria que essa pode ser uma delas.”

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Os pessimistas do mercado

O fato é que Kolanovic não está sozinho.

Poucos meses antes de anunciar que estava “explorando outras oportunidades”, outro estrategista famoso que projetou erroneamente uma derrocada das ações, Mike Wilson, do Morgan Stanley, deixou o cargo de presidente do comitê de investimentos globais da empresa, cargo que ocupou por uma década.

Desde então, ele diminuiu seu ceticismo em relação ao avanço do mercado de ações.

Clough e representantes do JPMorgan e do Morgan Stanley não quiseram comentar.

Ir contra o rebanho em um momento de alta do mercado pode fazer com que seus clientes e seu empregador fiquem “cada vez mais insatisfeitos”, disse Rosenberg, que projetou corretamente as dificuldades da economia dos EUA antes da crise financeira global de 2008 como economista do Merrill Lynch.

Considere o caso da estrategista veterana de análise técnica Gail Dudack. De 1987 a 2000, ela trabalhou na Warburg Dillon Read (desde então adquirida pelo UBS).

Em novembro de 1999, Louis Rukeyser, apresentador do programa “Wall Street Week”, da rede PBS, a expulsou de seu grupo fixo de entrevistados, por ser ela ser muito pessimista.

Não há dúvida de que o mercado de ações está mostrando algumas características de bolha, especialmente no aumento recorde de alguns dos principais gigantes da tecnologia que devem se beneficiar do desenvolvimento da inteligência artificial (IA).

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Algumas pessoas em Wall Street, inclusive Kolanovic, apontaram para a bolha nos índices liderados por essas big techs. Outros argumentam que os lucros justificam a expansão do mercado.

Independentemente de quem esteja certo, o importante é que as bolhas podem se inflar ainda mais antes de estourarem.

“As bolhas têm tudo a ver com momentum”, disse Dudack. “Elas são geridas por um conjunto de fatores. A questão é que elas se mantém por um tempo, dado que impulso gera impulso.”

Nesse caso, se o boom de IA se transformar em uma bolha, os estrategistas do Société Générale estimam que o S&P 500 pode inflar mais 20% ou mais antes de atingir valuations semelhantes às do pico das pontocom.

O índice está sendo negociado atualmente perto dos 5.600 pontos.

‘Ainda dançando’

Isso explica por que tantos em Wall Street parecem cegos para os possíveis riscos. No final do ano passado, a mediana de previsões dos estrategistas para o S&P 500 em 2024 era de 4.850 pontos; no mês passado, tinha subido para 5.450 pontos.

O Goldman Sachs (GS) e o UBS aumentaram seus preços-alvo três vezes desde o final de 2023, enquanto o Oppenheimer Asset Management, o Citigroup (C) e o Deutsche Bank recentemente aumentaram os seus.

O estrategista-chefe de investimentos da State Street Global Advisors, Michael Arone, canalizou recentemente uma frase infame do ex-CEO do Citigroup, Chuck Prince, em julho de 2007, quando ele disse que seu banco "ainda estava dançando" quando a crise financeira global estava começando.

"Um Fed restritivo não vai parar a música desta vez, porque a economia está entrando em um novo ritmo", escreveu Arone em um memorando em 8 de julho, citando o potencial da IA para gerar um "milagre de produtividade prolongado e sem precedentes".

Mas um pequeno setor do mercado está começando a ver esse pensamento como um sinal de cautela.

Scott Rubner, diretor da divisão de mercados globais do Goldman, alertou sobre uma correção iminente “já que os últimos pessimistas saíram de cena”.

Isso faz com que até mesmo os otimistas de longa data se perguntem se a alta foi longe demais.

Ed Yardeni, da Yardeni Research, por exemplo, escreveu em uma nota aos clientes esta semana que a saída de Kolanovic, bem como a decisão da Piper Sandler de reduzir os preços-alvo do S&P 500, eram possíveis sinais de baixa.

“Alguns de meus melhores amigos são pessimistas”, disse Yardeni. “Acho que os que estão em Wall Street fazem um excelente trabalho. Eles nos fornecem muitos motivos pelos quais as coisas podem dar errado e, como resultado, alguns deles foram chamados de pessimistas permanentes.”

Entretanto, os sinais de alerta não são suficientes para abalar o entusiasmo de Yardeni com as ações.

Recentemente, ele elevou sua projeção para o S&P 500 no final do ano de 5.400 para 5.800 pontos - e reiterou sua previsão de que o índice atingirá 8.000 pontos até o final da década. Ele até disse que essas metas podem ser atingidas antes do previsto.

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