Em fundo global, Eduardo Mufarej busca reduzir o impacto ambiental da agricultura

Em entrevista à Bloomberg Línea, ex-sócio da Tarpon e cofundador do RenovaBR conta os planos como CIO da Just Climate, fundada por gestora com apoio de Al Gore para investir em soluções para o agro

Eduardo Mufarej
18 de Julho, 2024 | 06:12 AM

Bloomberg Línea — Eduardo Mufarej tem se dedicado no último ano a conversar com investidores globais e a elaborar uma estratégia para investir em soluções que reduzam o impacto ambiental da agricultura.

A iniciativa faz parte do trabalho da Just Climate – empresa de private equity global criada pela gestora Generation, que tem entre os sócios o ex-vice-presidente dos Estados Unidos e ativista climático Al Gore e conta com cerca de US$ 46,2 bilhões sob gestão.

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Em setembro do ano passado, Mufarej assumiu o cargo de co-Chief Investment Officer (CIO) e head da área de Natural Climate Solutions na empresa. Ele tem trabalhado desde então para desenvolver a iniciativa junto à equipe global.

Em entrevista à Bloomberg Línea, o investidor e empreendedor disse que espera agora realizar o primeiro investimento na área ainda em 2024.

“Nós desenvolvemos a estratégia, que começou a ser discutida com potenciais investidores e, eventualmente, vamos poder fazer o nosso primeiro investimento até o final do ano”, afirmou Mufarej, que é ex-sócio da Tarpon e cofundador da Fundação RenovaBR, dedicada a formar novas lideranças políticas.

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Segundo ele, cerca de 55% das empresas no pipeline da Just Climate estão nas Américas, o que inclui principalmente Brasil, Estados Unidos, Canadá, México e Colômbia. Outros 25% estão na Europa, e 20%, na região da Ásia Pacífico.

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O Brasil tem um papel fundamental para a empresa por ser um dos maiores mercados em potencial para as soluções investidas pela Just Climate, ao lado dos Estados Unidos e do Canadá. Os EUA se destacam como o principal hub para o desenvolvimento das tecnologias que serão aplicadas.

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“As tecnologias tendem a serem desenvolvidas em outros lugares, porque é onde tem o maior fomento de desenvolvimento, de competência e inovação. Na parte do go to market, o Brasil é muito importante. Nós estimamos que o Brasil poderá representar pelo menos um quarto da estratégia como resultado dessa combinação”, disse Mufarej.

Da Tarpon à Just Climate

Um dos investidores mais influentes do país, Mufarej fez carreira no mercado financeiro e participou da aquisição da antiga Abril Educação por fundos da Tarpon em 2015, em um negócio avaliado na época em R$ 1,31 bilhão.

A companhia foi rebatizada de Somos Educação e vendida, três anos depois, por R$ 4,6 bilhões à Kroton Educacional (atual Cogna - COGN3). Mufarej atuou como CEO da Somos Educação durante a fase de reestruturação.

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Mais tarde, Mufarej fundou o RenovaBR e também criou a gestora Good Karma Partners, que investe em empresas de impacto social e ambiental, que desenvolvem soluções para os setores de educação, saúde e mudanças climáticas.

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A experiência no Brasil e o histórico de Mufarej como investidor por meio da gestora GoodKarma foram algumas razões para que ele assumisse a liderança da iniciativa na Just Climate.

Segundo Mufarej, o convite foi feito depois de ele conhecer um dos sócios da gestora Generations, Colin Le Duc, em um evento na Universidade de Stanford, nos EUA, em que ele passou dois anos como fellow da escola de educação até o primeiro trimestre de 2023.

Novo modelo de agricultura

No ano passado, a Just Climate levantou US$ 1,5 bilhão para um fundo voltado para investir em soluções de descarbonização para a indústria, em áreas como siderurgia, cimento, transporte, transporte marítimo, que não sejam diretamente ligadas aos setores de energia.

Com a chegada de Mufarej, o plano é desenvolver uma iniciativa parecida para as soluções ligadas à agricultura, aos alimentos e ao uso da terra – batizada de Natural Climate Solutions.

Entre áreas com potencial de investimento estão soluções como o uso de controle biológico de pragas, iniciativas para a redução ou substituição da aplicação de insumos e readequação de uso de terra, como a conversão de pastagens degradadas.

Mufarej divide as iniciativas que podem receber investimentos em três categorias: empresas em estágio de crescimento; empresas que são líderes em soluções emergentes; e empresas de plataforma, que são aquelas que a Just Climate pode ajudar a estruturar desde o início da operação.

A tese de investimento é que, seja por iniciativa de governos, seja por pressão das empresas da cadeia produtiva, o agronegócio irá passar por uma transição.

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Mufarej disse acreditar que o atual modelo de agricultura industrial sem limites deixará de existir para ser substituído por um modelo que vai incorporar as preocupações ambientais e buscar soluções para descarbonizar a produção.

“Ou nós esperamos a cadeia se organizar nos próximos 20 anos ou tentamos ser um indutor dessa transição de modelos. Esse é um pilar central da nossa tese dentro dessa visão de food and agriculture”, afirmou o investidor.

Mufarej reconheceu que há obstáculos para convencer a cadeia do agronegócio a adotar novas soluções. Segundo ele, o convencimento tem que ser feito com base nos ganhos de eficiência e produtividade, porque os produtores sempre estão sujeitos a riscos elevados de quebra de safra.

“Todas as soluções que olhamos levam isso em consideração. A adoção tem que fazer sentido para o dono da terra do ponto de vista da aplicação. Não pode ser uma questão simplesmente de impacto climático, porque alguém acha que é importante”, afirmou.

-- Atualizada para corrigir o nome da gestora Generation.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.