Bill Hwang, da Archegos Capital, é condenado por fraude e manipulação de mercado

Fundador do family office e seu ex-CFO, Patrick Halligan, foram considerados culpados após o colapso em 2021 que causou perdas de bilhões a bancos como o Credit Suisse

O fundador da Archegos Capital Management, Bill Hwang, também foi considerado culpado de manipular várias ações
Por Chris Dolmetsch - Bob Van Voris - Ava Benny-Morrison
11 de Julho, 2024 | 12:14 PM

Bloomberg — O fundador da Archegos Capital Management, Bill Hwang, foi considerado culpado de acusações criminais decorrentes do colapso de sua empresa em 2021, concluindo um julgamento de dois meses que cativou Wall Street.

O júri proferiu veredictos contra Hwang e contra o ex-diretor financeiro da Archegos, Patrick Halligan, na quarta-feira (10) no tribunal federal de Manhattan.

Ambos foram condenados por fraudar as contrapartes da Archegos, como o Credit Suisse e o UBS, mentindo sobre a atividade de trading da empresa e o nível de risco em sua carteira.

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Hwang também foi considerado culpado de manipular várias ações, incluindo a antiga ViacomCBS, embora tenha sido absolvido com relação a uma delas. Os dois foram condenados ainda por participar de uma conspiração de extorsão.

Cada acusação tem uma pena máxima de 20 anos de prisão. O juiz distrital dos EUA, Alvin Hellerstein, marcou para 28 de outubro a sentença para os dois executivos.

Hwang permanece em liberdade sob fiança de US$ 100 milhões garantida por US$ 5 milhões em dinheiro e duas propriedades. Já Halligan está livre, após pagamento de US$ 1 milhão em fiança.

Bill Hwang na saída do tribunal em Nova York em 10 de julho

Jurado em cima do muro

Um dos jurados, que pediu para não ter seu nome revelado, disse que ficou em cima do muro durante a maior parte do julgamento, porque trabalhou em Wall Street por mais de três décadas.

Ele disse, contudo, que a condenação de Hwang deve-se, principalmente, ao fato de ele negociar em grande escala – o que teve um impacto manipulador sobre as ações.

O jurado afirmou que sentiu alguma simpatia por Halligan, que, segundo ele, poderia ter sido arrastado para o esquema de Hwang.

Damian Williams, procurador dos Estados Unidos em Manhattan, disse em um comunicado: “Esse veredicto deve enviar uma mensagem de que continuaremos a policiar os mercados financeiros com um olhar atento e a responsabilizar rapidamente aqueles que pensam que podem burlar o sistema.”

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De acordo com os promotores, os atos de Hwang elevaram o valor da Archegos, seu family office, para cerca de US$ 36 bilhões em seu auge. Mas uma queda nas ações da Viacom em março de 2021 provocou um selloff que condenou a empresa.

As contrapartes da Archegos perderam cerca de US$ 10 bilhões, e o desastre foi um fator importante no colapso do Credit Suisse em 2023.

Patrick Halligan, ex-CFO da Archegos Capital, na saída do tribunal em Nova York em 10 de julho

Hwang e Halligan provavelmente recorrerão de suas condenações. Edward Imperatore, ex-promotor federal que acompanhou o caso, disse que havia argumentos viáveis com relação à definição de manipulação de mercado.

“É uma área obscura da lei”, disse ele, embora tenha acrescentado que duvida que os executivos consigam anular suas condenações.

Vítimas de Wall Street

A escala do sucesso e depois do fracasso da Archegos surpreendeu o mercado financeiro no início de 2021. As grandes perdas sofridas pelos bancos levantaram sérias questões sobre como eles avaliaram os riscos de assumir e conceder crédito a clientes institucionais.

Na época, nem Hwang nem a Archegos eram bem conhecidos em Wall Street, o que aumentou o choque do que aconteceu.

Os promotores federais de Manhattan apresentaram acusações contra Hwang e Halligan um ano após o colapso da Archegos, depois de obterem a cooperação do ex-chefe de operações do family office, William Tomita, e do ex-chefe de risco, Scott Becker.

Ambos se declararam culpados e concordaram em testemunhar contra seus ex-chefes.

O ex-chefe de operações da Archegos Capital, William Tomita, na saída do tribunal em Nova York em 10 de julho

Na época, o caso Archegos foi o maior de colarinho branco apresentado pelo escritório de Williams. No entanto, diferentemente de outros grandes processos contra Wall Street, as vítimas não eram investidores comuns, mas a própria Wall Street, ou seja, os bancos que atuavam como corretores principais da Archegos.

Os advogados de Hwang haviam dito, antes do julgamento, que planejavam argumentar que os bancos eram agentes sofisticados que sabiam dos riscos de negociar com a Archegos, um family office que não era obrigado a divulgar publicamente suas participações, e que seguiram em frente mesmo assim por causa das taxas que ganhavam.

Testemunhas importantes

Hellerstein, no entanto, restringiu drasticamente a capacidade da defesa de culpar os bancos, sustentando objeções quando as perguntas iam nessa direção.

No julgamento, a defesa se concentrou em tentar apresentar o trading da Archegos como parte de uma estratégia de longo prazo e buscou sugerir que os preços das ações mudaram por outros motivos que não a suposta manipulação pela empresa.

Tomita e Becker foram, de fato, as principais testemunhas no julgamento que começou em 13 de maio. Becker testemunhou que mentiu aos bancos para obter acesso a crédito e capacidade de trading para a Archegos.

Ele também deu aos jurados uma visão dos frenéticos dias finais da Archegos, quando a empresa continuou a mentir para os bancos para evitar as chamadas de margem.

Scott Becker, ex-chefe de risco da Archegos Capital, na saída do tribunal em Nova York em 20 de maio

Os advogados de defesa atacaram Becker por ter tido relativamente pouca interação direta com Hwang. No entanto, isso não pode ser dito sobre Tomita.

O ex-trader trabalhou em estreita colaboração com Hwang e ofereceu um testemunho prejudicial sobre como seu chefe microgerenciava sua equipe para que as ações atingissem determinados preços. Ele também teria orientado Tomita a mentir para as contrapartes da Archegos sobre o portfólio da empresa.

Tomita testemunhou que Hwang instruiu seus traders a fazer “o oposto” do que um “fundo normal” faria. Ele observou que os fundos normais tentariam construir suas posições com o menor custo e minimizar o impacto de suas próprias negociações sobre os preços.

Na Archegos, disse Tomita, “eu podia ver que era eu quem gerava o preço das ações”.

‘Botão do pânico’

O júri também ouviu muitas contrapartes da Archegos. O ex-gestor de risco do UBS, Bryan Fairbanks, foi a primeira testemunha a depor no julgamento e descreveu que estava do outro lado das mentiras da Archegos.

Fairbanks disse ter sido informado de que a carteira da Archegos era composta, em grande parte, por ações de tecnologia líquidas, como Apple e Amazon, e que suas negociações com empresas como Viacom e a chinesa de educação on-line GSX Techedu eram exclusivas do UBS.

Foi somente no final que Fairbanks disse que ficou sabendo que a Archegos estava comprando as mesmas empresas em todos os bancos.

Ele disse que “provavelmente teria apertado o botão de pânico” se soubesse o quanto as posições da empresa estavam concentradas. “Todas as informações que eles compartilharam conosco eram mentiras”, disse Fairbanks.

Os advogados de Hwang tentaram sugerir que Fairbanks e outras testemunhas do banco eram tendenciosos, dado que o colapso da Archegos prejudicou suas carreiras, mas o juiz manteve as objeções a essas perguntas. No entanto, a defesa conseguiu fazer algumas críticas aos bancos.

--Com a colaboração de Vonnie Quinn, Sridhar Natarajan e Katherine Burton.