Verde: mercado exigirá resultados concretos do governo, e não apenas promessas

Em carta a cotistas, gestora de Luis Stuhlberger diz que o governo precisa reconhecer que o aumento dos gastos foi descontrolado; fundo bateu o CDI em junho, com ganhos de 1,66%

Luis Stuhlberger (Verde Asset)
09 de Julho, 2024 | 01:53 PM

Bloomberg Línea — Após o ruído político que resultou na forte deterioração dos ativos domésticos em junho, o mercado financeiro terá que ver resultados concretos e não apenas promessas do governo brasileiro em relação ao cumprimento do arcabouço fiscal. A afirmação é da Verde Asset, gestora de Luis Stuhlberger.

Em carta aos cotistas, a asset destaca que os gastos do governo estão crescendo a uma taxa real de 12,9% ao ano (ante um crescimento real de até 2,5% previsto no arcabouço), e que o déficit primário “abaixo da linha” está em R$ 295 bilhões nos últimos doze meses, para uma meta de déficit de R$ 28,8 bilhões no ano.

“Enquanto o governo não reconhecer a realidade de que o crescimento do gasto foi descontrolado nestes primeiros dezoito meses de mandato, a situação continuará volátil e difícil”, escreve a gestora.

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As preocupações com o aumento das despesas do governo, após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva questionar o ajuste fiscal, levaram o dólar a alcançar a máxima de R$ 5,70 em junho. As taxas de juros de médio prazo tiveram forte alta, caso do papel com vencimento em janeiro de 2027, que subiu 0,79 ponto percentual no mês, para 11,93% ao ano.

Apesar de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter anunciado no início de julho que o presidente Lula autorizou o corte de R$ 25,9 bilhões nas despesas obrigatórias, aliviando parte do estresse do mercado, mais medidas concretas terão que ser vistas, diz a Verde.

“O custo de dilapidar credibilidade a golpes de retórica vai ser cobrado agora: o mercado precisará ver resultados concretos nos números, e não apenas comprará promessas.”

Na cena externa, a Verde destaca a eleição nos Estados Unidos como fator dominante na precificação dos ativos e diz buscar posicionar o portfólio para se beneficiar disso. O fundo ampliou sua alocação de forma passiva em ações globais para 6%.

O multimercado também possui uma alocação de 7,5% na bolsa brasileira e comprada (aposta na alta) em juro real nos Estados Unidos e em inflação implícita no Brasil. Já em moedas, tem posição comprada em dólar contra o real.

Desempenho

O fundo Verde FIC FIM encerrou junho com ganhos de 1,66%, acima da variação de 0,79% do CDI. No acumulado de 2024, o multimercado avança 2,40%, ante variação de 5,22% do principal benchmark de renda fixa.

No mês passado, o fundo carro-chefe da casa teve ganhos na posição comprada em dólar contra o real, nos livros de trading, bem como nas posições de juro global e em ações no Brasil. As perdas, por sua vez, vieram da posição no peso mexicano – já zerada – e no franco suíço.

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Mariana d'Ávila

Editora assistente na Bloomberg Línea. Jornalista brasileira formada pela Faculdade Cásper Líbero, especializada em investimentos e finanças pessoais e com passagem pela redação do InfoMoney.