‘Vale da morte’ desafia empresas que buscam desenvolver tecnologias verdes

Empresas que são avançadas demais para receber investimento de capital de risco, mas pequenas para grandes investidores, enfrentam o desafio de obter financiamento para crescer

An employee in front of a steel furnace at BlueScope Steel Ltd. Port Kembla steelworks in Australia. 
Photographer: Brent Lewin/Bloomberg
Por Alastair Marsh
04 de Julho, 2024 | 06:47 PM

Bloomberg — As mudanças climáticas têm forçado a humanidade a reinventar o uso e a obtenção energia, a forma como nos alimentamos, aquecemos as casas, usamos terras e assim por diante. Também provoca uma reavaliação da forma como investidores e banqueiros financiam empresas que desenvolvem tecnologias verdes consideradas críticas.

As indústrias que deveriam estar prosperando nesta fase da transição energética - como baterias, hidrogênio verde, aço “limpo” - são “peças quadradas” que não se encaixam no “buraco redondo” dos mercados de capitais - ou seja, não há um match.

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Estes últimos são bem adequados para empresas asset light, mas inóspitos para negócios de energia intensivos em capital e pesados em ativos. Como resultado, muitas das inovações promissoras de tecnologias verdes não têm recebido dinheiro suficiente e estão “morrendo”.

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“A evolução de um projeto científico para uma empresa comercial pode ser uma das tarefas mais difíceis de realizar, especialmente em uma economia em que nossa estrutura de capital foi construída para inovação digital em vez de avanços em hardware”, disse Chuka Umunna, chefe de investimento em ESG e economia verde da JPMorgan Chase para Europa e Oriente Médio.

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“Ajudar empresas inovadoras a atravessar o ‘vale da morte’ comercial exigirá que pensemos de forma diferente sobre o capital.”

Esse “vale da morte” é o local de descanso final para empresas avançadas demais para interessar investidores de capital de risco que fazem apostas pequenas e especulativas em tecnologias incipientes, mas pequenas e não comprovadas demais para atrair investidores de infraestrutura que escrevem os cheques realmente grandes.

Banqueiros familiarizados com o financiamento de startups de transição energética dizem que uma característica marcante das empresas presas no “vale da morte” é que elas ainda não têm vendas.

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Outro indicador é o tamanho da necessidade de financiamento da empresa, sendo aquelas que buscam capital na faixa de US$ 20 milhões a US$ 100 milhões as principais candidatas.

O Barclays chama esse vale de “meio que falta” (middle missing). “Precisamos encontrar maneiras de investir em tecnologias até o ponto de ganho de escala”, disse o CEO do Barclays, CS Venkatakrishnan, na semana passada no Bloomberg Sustainable Finance Forum em Londres.

A S2G Ventures, uma firma com US$ 2,5 bilhões que investe em startups em growth stage, disse em um artigo de 2023 que o que falta é “capital direcionado para apoiar empresas que amadureceram além do estágio de risco, mas ainda não ganharam escala nem reduziram o risco adequadamente para acessar capital para infraestrutura.”

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Esse financiamento é “vital para a gestação bem-sucedida” dessas empresas, escreveu a firma.

Dos US$ 270 bilhões de capital privado com foco na transição energética levantados entre 2017 e 2022, o capital de risco - venture capital - representou US$ 120 bilhões, ou 43% do total, enquanto fundos de private equity e infraestrutura levantaram US$ 100 bilhões, ou 37%, de acordo com a S2G.

Isso significa que fundos de capital de risco que investem em startups late stage e têm foco em growth representaram os 20% restantes.

“A falta de capital adequado para growth para os fins de hoje é uma barreira fundamental para realizar a transição energética”, disse a S2G. “A natureza isolada dos mercados de capitais de hoje cria uma série de barreiras ao progresso eficaz na transição energética.”

Assim como em todos os aspectos da transição energética, atravessar o chamado “vale da morte” exigirá determinação e engenhosidade por parte dos financiadores.

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Celine Herweijer, diretora de sustentabilidade do HSBC, disse que alcançar a descarbonização em toda a economia até meados do século é um desafio assustador -mas uma necessidade.

“O relógio está correndo”, disse Herweijer em um evento da Semana de Ação Climática de Londres na semana passada.

“Precisamos nos envolver e colocar o capital para trabalhar em áreas que são mais arriscadas, tecnologias que são mais incipientes, ou mercados em que, mesmo com tecnologias maduras como as renováveis, o custo do capital é mais alto.”

A AllianceBernstein Holdings deixou o grupo Climate Action 100+, seguindo os passos de saída do JPMorgan e da Pacific Investment Management Co. (Pimco) ao sair da maior aliança mundial por meio da qual os investidores podem combater o aquecimento global.

Tais saídas são o mais recente revés em um recuo mais amplo por parte de empresas financeiras dos EUA que receiam críticas por parte de republicanos que buscam proteger a indústria de combustíveis fósseis. Ainda assim, a CA100+ disse que o grupo conta com “bem mais de” 600 membros que representam mais de US$ 50 trilhões em ativos sob gestão, mesmo após as últimas saídas.

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