Opinión - Bloomberg

Gen Z: apetite a risco e pouca diversificação mostram desafio da educação financeira

Apesar do acesso crescente a mais conteúdo de finanças, pesquisas indicam aumento de apostas mais especulativas em vez de busca de construção de um patrimônio de longo prazo

Pedestres em frente à Bolsa de Nova York: em 2022, cerca de 40% das pessoas com menos de 25 anos de idade estavam no mercado de ações de alguma forma
Tempo de leitura: 5 minutos

Bloomberg Opinion — Minha educação financeira não teve o início mais auspicioso. Tive sorte por ter tido uma aula sobre investimentos e finanças básicas no ensino médio. Desde então, a educação financeira se tornou mais comum, mas não muito melhor.

O acesso à educação financeira nunca foi tão grande, de acordo com o CFA Institute, que fez uma pesquisa com a Geração Z sobre seus hábitos de investimento. A Geração Z – os nascidos entre 1997 e 2012 – tinha quase 60% mais probabilidade de ter recebido alguma instrução financeira na escola em comparação com os millennials, e 150% mais chances do que a Geração X.

E, no entanto, a pesquisa revela que a Geração Z faz péssimas escolhas de investimento. São pessoas que tendem a ser pouco diversificados e excessivamente expostos a ativos exóticos.

Suas práticas de investimento sugerem de duas uma: que eles não estão sendo ensinados sobre o que é importante; ou que qualquer esforço por parte das escolas está sendo abafado pela atração de aplicativos de day trading e de orientação financeira no YouTube.

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É um avanço o fato de mais jovens estarem nos mercados. Quanto mais cedo as pessoas começarem a investir, mais tempo terão para aumentar seu patrimônio e poderão participar e se beneficiar plenamente da economia.

Além da educação, a tecnologia facilitou o acesso aos mercados com menos dinheiro. A Geração Z tem as taxas mais altas de participação no mercado de ações em sua idade em comparação com as gerações anteriores.

Leia mais: Geração Z está mais endividada hoje que millennials há uma década

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Em 2022, cerca de 40% das pessoas com menos de 25 anos de idade estavam no mercado de ações de alguma forma (incluindo contas de aposentadoria), em comparação com apenas 16% em 1995, de acordo com a Pesquisa de Finanças do Consumidor do Federal Reserve. Mas grande parte desse crescimento vem de mais especulação.

O gráfico abaixo mostra a parcela de menores de 25 anos que possuem ações individuais. Após a queda dos mercados em 2000 e 2008, os jovens evitaram comprar ações. Mas quando as perdas se tornaram lembranças distantes, novos investidores começaram a investir.

Gráfico

A pesquisa do CFA constatou que um dos principais motivos pelos quais os jovens dizem que investem é o fácil acesso aos mercados por meio de plataformas de trading, como a Robinhood, que não exigem um investimento mínimo.

Outro fator importante é o chamado fear of missing out, ou FOMO (em tradução livre, “medo de ficar de fora”). E isso é visível. Mais da metade dos jovens investidores nos Estados Unidos possui alguma forma de criptoativos, sendo o ativo mais popular nos portfólios da Geração Z.

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De fato, 19% dos investidores da Geração Z só possuem criptomoedas, em vez de ações ou qualquer outro tipo de ativo negociável. Cerca de 41% possuem ações individuais, enquanto apenas 35% compram fundos mútuos. Tudo isso resulta em um portfólio muito arriscado e potencialmente volátil.

Mas quem pode culpar a Geração Z quando se considera sua experiência de vida? Eles só viram o S&P 500 subir, liderado por algumas ações grandes que ofuscaram as demais. Eles também viram alguns de seus colegas enriquecerem muito com criptomoedas e serem tratados como heróis por negociarem meme stocks. O trading de criptomoedas foi principalmente tentador durante a pandemia, quando eles podiam gastar os subsídios do governo.

Criamos uma geração de especuladores e demos a eles ferramentas que oferecem uma sensação de videogame.

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A educação pode não ter sido capaz de combater completamente a emoção de negociar ações e especular com moedas sem valor discernível, mas poderia ter ajudado as pessoas a entender o papel que esses ativos devem ter em um portfólio. A compra de ações individuais (ou de qualquer commodity ou moeda) é melhor entendida como especulação porque é uma aposta no aumento ou na queda do valor de uma única empresa.

Leia mais: Gen Z e millennials, atenção: sua vida financeira pode não ser tão ruim como parece

A especulação é um jogo em que você enfrenta investidores profissionais com tempo, anos de experiência e muito capital. Embora seja tentador torcer pelos pequenos, os profissionais geralmente vencem.

Isso não significa que os mercados sejam manipulados. Investir, ou comprar muitas ações no mercado, é uma aposta no crescimento geral da economia, e não em uma ação que sobe ou desce. Quando a economia cresce, todos ganham.

Não há nada de errado com a especulação – em criptomoedas, meme stocks ou qualquer outro ativo não tradicional. Mas é importante lembrar que ela é um entretenimento que raramente compensa, como um jogo de azar. Não deve ser a principal estratégia de investimento de uma pessoa. Os fundos de índices (ETF) não são empolgantes, mas geralmente são a melhor maneira de construir um pé-de-meia.

E vale a pena observar que a maioria dos jovens investidores afirma que investe nos mercados não para se divertir, mas para que possam ter uma aposentadoria confortável, de acordo com a pesquisa do CFA.

Os investidores mais jovens ainda estão aprendendo e têm menos dinheiro a perder. A média dos ativos financeiros dos menores de 25 anos em 2022 era de US$ 4.000, de acordo com o Fed.

Porém, quando o mercado mudar, e é provável que isso aconteça, pois estamos entrando em uma era mais volátil, a Geração Z, com pouca diversificação e com grande participação em criptomoedas, fica principalmente vulnerável a grandes perdas.

Se a virada do mercado ocorrer relativamente cedo, eles poderão se livrar dela e se sair melhor na próxima vez. Mas se o mercado em alta continuar por mais tempo, as perdas serão maiores e poderão atrasar a aquisição da casa própria e outros ritos financeiros de passagem.

De qualquer forma, não é ideal confiar nas quedas do mercado para ensinar cada geração sobre a natureza do risco de mercado. No entanto, não está claro qual é a alternativa, a não ser proibir a propriedade de ações individuais para investidores não credenciados. Não estou pronto para descartar o poder da educação, mesmo que ela esteja claramente aquém do esperado no momento.

Mas isso não significa que a educação não possa ser melhor e mais eficaz. Em um mundo em que investir é mais acessível e há muitos vídeos atrativos cheios de conselhos ruins, nunca foi tão importante fazer isso direito.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Allison Schrager é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de economia. É pesquisadora sênior do Manhattan Institute e autora de “An Economist Walks Into a Brothel: And Other Unexpected Places to Understand Risk”.

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