Projetos em LatAm têm melhor eficiência de capital, mas faltam recursos, diz Claure

Em entrevista à Bloomberg Línea, bilionário investidor diz que ‘América Latina costumava ser o quintal dos EUA, mas estão adormecidos’, e isso abre espaço para fundos como os sauditas

Marcelo Claure, founder and chief executive officer of Claure Group LLC, during the Future Investment Initiative (FFI) Institute Priority conference in Rio de Janeiro, Brazil, on Thursday, June 13, 2024. The FFI, which is backed by Saudia Arabia's nearly $1 trillion sovereign Public Investment Fund, will host its first Latin America-focused investment conference. Photographer: Dado Galdieri/Bloomberg
17 de Junho, 2024 | 04:45 AM

Rio de Janeiro — O bilionário investidor Marcelo Claure é um entusiasta declarado da América Latina e acredita que as oportunidades na região superam a disponibilidade de capital. Ele se envolveu diretamente para viabilizar o evento global FII Priority no Brasil na semana passada, que contou com o apoio financeiro do PIF (Public Investment Fund), fundo soberano da Arábia Saudita.

“Uma das razões pelas quais eu fui uma parte importante para realizar o evento no Brasil foi para que pudéssemos trazer mais de 900 investidores de todo o mundo. Assim, eles poderiam conhecer o potencial da América Latina”, disse Claure em entrevista à Bloomberg Línea no Rio de Janeiro. A sua holding, o Claure Group, tinha um estande no local do evento, no Copacabana Palace.

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Ele afirmou que não foi uma missão trivial convencer os responsáveis a trazer a conferência para o Brasil. O evento foi organizado pelo FII (Future Investment Initiative) Institute, fundado em 2017 com apoio do PIF e que busca servir como um catalisador de investimentos de impacto ao redor do mundo em áreas como energias renováveis, tecnologia e esporte.

“Mas passamos muito tempo explicando a eles [sauditas] que a América Latina tem tamanho, 660 milhões de pessoas, e que os latino-americanos ganham dinheiro”, disse Claure.

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A tese do boliviano, que anteriormente foi COO do SoftBank, um dos maiores grupos do mundo em apoio financeiro a empresas de tecnologia, é conectar investidores globais com empreendedores locais.

Claure é sócio da eB Capital, que, no início do mês, assinou um acordo com investimentos em conjunto com a Arábia Saudita. Essa parceria pretende inicialmente levantar um fundo com US$ 600 milhões para aportes em ativos na América Latina. A gestora brasileira conta Eduardo Melzer, Luciana Ribeiro e Pedro Parente, ex-CEO da Petrobras e da BRF, como sócios fundadores.

No evento realizado no Copacabana Palace, Claure participou de três painéis e dividiu palco com nomes como o ex-secretário de Estado dos EUA Mike Pompeo e e Magda Chambriard, nova CEO da Petrobras.

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‘Quintal dos EUA, mas não mais’

Segundo Claure, o convencimento dos investidores do Oriente Médio começa a dar resultados. Além do evento e da parceria com a eB Capital, o Mubadala, fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos, é um dos investidores do Bicycle, seu fundo lançado em 2023 para investimento em tecnologia.

“Olhe para Mubadala, o Brasil é uma parte significativa [dos investimentos], crescendo rapidamente, ‘roubando’ [dinheiro do] private equity. O fato de que a FII está aqui pelos sauditas é um testemunho de que eles querem olhar para a América Latina”, disse.

“Isto [a América Latina] costumava ser o quintal dos Estados Unidos. Acho que os americanos estão adormecidos e isso está permitindo que outras partes do mundo, que agora são uma parte crítica de todo o sistema financeiro, venham para a América Latina”, ponderou.

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‘Melhor eficiência de capital’

“A América Latina tem a melhor eficiência de capital de qualquer país em qualquer região do mundo. Se você olhar para a avaliação do exit [saída do investidor do negócio] na América Latina em comparação com a quantidade de capital que foi alocado, temos a melhor relação absoluta, o que significa que os empreendedores latino-americanos, uma vez que você investe, fazem um ótimo trabalho de gerenciamento do dinheiro.”

Segundo Claure, o principal problema da região não é a falta de empreendedores ou inovações, mas a escassez de capital.

Ele disse acreditar que a América Latina abriga alguns dos mais talentosos empreendedores e startups do mundo, especialmente no setor de fintech. No entanto a barreira crítica reside em trazer investimentos suficientes para que essas empresas possam florescer e se expandir globalmente.

Marcelo Claure (à esq.), com Martin Sorrell (centro), ex-WPP e atual chairman do S4 Capital Group, e Patrick Zhong, managing partner do M31 Capital em painel no FII Priority no Rio de Janeiro na última semana (Foto: Dado Galdieri/Bloomberg)

‘Falta ambição’

Um ponto de frustração para Claure, por outro lado, é o que apontou como falta de ambição de alguns empreendedores que visam apenas o mercado local. Ele acredita que empreendedores latino-americanos têm o potencial de competir e triunfar globalmente, citando exemplos de sucesso como Nubank (NU), Mercado Livre (MELI) e Globant (GLOB), entre outros.

“O Nubank é estudado em todo o mundo como o banco digital mais avançado, mais lucrativo e melhor administrado do mundo. A Globant disputa contratos grandes de implementação de IA e outros com a Accenture. O Quinto Andar, adoro como eles completamente disruptaram o negócio de aluguel no Brasil. A Kavak foi uma das primeiras pioneiras de como disruptar o mercado de carros usados e eu poderia continuar e continuar”, disse.

“Portanto, só quero garantir que meu objetivo na vida seja trazer capital suficiente para os empreendedores latino-americanos para que possam replicar minha história. Fui o primeiro empreendedor [da região] que realmente construiu um número um global com a BrightStar. Quero ver mais Nubanks, mais Globants e Mercado Livres”, completou.

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O investidor e empreendedor se referiu à empresa de serviços que fundou em 1997 e que oferece de seguros e manutenção a trocas e reparos de equipamentos em casas e tem bancos, operadoras e varejistas como clientes. Hoje está presente em mais de 30 países - com o nome Likewize nos EUA. O controle foi adquirido pelo SoftBank em 2013 por US$ 1,26 bilhão.

Apesar das preocupações históricas de investidores institucionais com a estabilidade política e econômica, Claure argumentou que a América Latina atualmente apresenta um cenário mais estável do que muitas outras regiões. Ele mencionou uma gestão responsável das políticas monetárias durante a pandemia de covid-19 como um exemplo de resiliência.

“Sempre digo às pessoas que a estabilidade política da América Latina é significativamente melhor do que o que está acontecendo na Europa e nos EUA. As moedas têm se comportado incrivelmente bem porque temos bancos centrais independentes.”

“A América Latina foi incrivelmente responsável durante a covid: foram os primeiros a aumentar as taxas de juros e, depois, os primeiros a baixar as taxas de juros, e por eassa razão as moedas estão se fortalecendo”, disse Claure.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups