Bloomberg — Não faz muito tempo que Bruno de Carvalho pagava € 8 (cerca de R$ 46) por uma refeição em um restaurante de cozinha portuguesa em frente ao escritório no centro de Lisboa. Agora, um restaurante sul-americano de tapas e ceviche ocupou seu lugar, e um menu degustação custa quase 10 vezes mais.
Esse é um dos sinais do aumento da riqueza e das mudanças na próspera capital de Portugal, segundo o chefe do banco suíço Edmond de Rothschild no país europeu, à medida que uma onda de estrangeiros com patrimônio elevado migra para o país, atraídos por praias ensolaradas, isenções fiscais e um programa de golden visa.
Embora alguns desses incentivos estejam sendo reduzidos, eles ainda estão disponíveis para candidatos ricos e continuam a atrair expatriados abastados.
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A entrada de novos moradores ricos tem significado mais competição para Carvalho. Novos bancos rivais que atuam em gestão de fortunas (ou em private banking) entram no mercado e desencadeiam uma guerra por talentos.
Somente neste ano, o Indosuez Wealth Management - unidade de wealth do Crédit Agricole - e o Union Bancaire Privée (UBP), ambos com sede na Suíça, abriram escritórios na cidade.
O grupo Julius Baer, de Zurique, também planeja se expandir para Lisboa no ano que vem, informou recentemente a Bloomberg News.
Embora a gestão de fortunas seja um negócio em crescimento para muitos grandes bancos ao redor do mundo - e isso vale para o Brasil e a América Latina -, a decisão de pelo menos três players europeus estabelecidos de abrir escritórios em Lisboa no intervalo de um ou dois anos indica a importância da chegada de migrantes ricos para a economia portuguesa de US$ 286 bilhões.
A Henley & Partners, uma consultoria para profissionais que planejam imigração, estima que mais de 800 indivíduos de alto patrimônio líquido com riqueza de US$ 1 milhão ou mais se mudaram para Portugal em 2023, fazendo dele um dos dez principais destinos para milionários migrantes.
Dados do governo de Portugal mostram que o número de residentes estrangeiros no ano passado saltou 33%, para um recorde de 1 milhão, o que representa cerca de 10% da população.
“Nossa operação em Lisboa é muito recente, mas esperamos dobrar nossos negócios muito em breve”, disse Nuno Vilar Gomes, que recentemente se mudou de Luxemburgo para liderar uma equipe com dez pessoas no Indosuez em Portugal.
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Riqueza local
Cerca de 25 anos atrás, quando Carvalho e sua pequena equipe de private bankers estabeleceram as operações do Edmond de Rothschild em Portugal, seus principais concorrentes eram apenas bancos domésticos que também ofereciam serviços de gestão de patrimônio.
Na época, a maior parte da riqueza estava concentrada nas mãos de alguns clãs locais. Isso incluía a família Amorim, cujos negócios vão do petróleo à cortiça; a família Soares dos Santos, que controla a varejista Jerónimo Martins; e a família Mello, que detém participações em várias empresas, incluindo a operadora de rodovias Brisa.
Agora, a concorrência se intensificou. Escritórios de muitos dos novos bancos surgem ao longo da avenida da Liberdade, um boulevard repleto de lojas de luxo e restaurantes que é considerado a Champs-Elysées de Lisboa.
Esses novos entrantes disputam com bancos portugueses, espanhóis e, mais recentemente, brasileiros como o BTG Pactual (BPAC11), que já têm escritórios locais.
“Portugal oferece vantagens e oportunidades únicas para investidores locais e expatriados” e há mais riqueza disponível nas mãos de ambos os grupos, disseram Luis Cabral e Marcos Milhazes, os co-diretores da UBP em Lisboa, em uma resposta por e-mail à Bloomberg News. “Miramos ambos os grupos igualmente.”
A UBP já está familiarizada com o mercado português porque comprou o private bank do Banco Comercial Português (BCP) em 2021. A abertura da UBP em Lisboa no início deste ano foi o “próximo passo lógico”, disseram Cabral e Milhazes.
Em uma entrevista coletiva de imprensa no mês passado, o CEO do BCP, Miguel Maya, disse que o private banking é “uma área bastante importante” em que já há “bastante concorrência”.
Guerra de talentos
A expansão tem levado grupos como o Edmond de Rothschild e a AlTi Tiedemann Global, dos EUA, que tem um escritório em Lisboa, a aumentar seu número de consultores. O movimento tem provocado uma guerra por talentos em um mercado com oferta limitada de private bankers.
“O problema é que há pouco talento disponível e o mercado não é muito líquido”, disse Carvalho.
Os franceses foram alguns dos primeiros estrangeiros com patrimônio elevado a se mudarem para Portugal há cerca de uma década para aproveitar os incentivos do governo, seguidos por brasileiros ricos ansiosos para viver em Portugal e viajar livremente por muitos países da União Europeia.
Atualmente, há uma onda de chegadas do Canadá e dos EUA, disse Gomes, do Indosuez.
O programa de golden visa tem sido um ponto de atração.
Anteriormente, o programa exigia um investimento de € 350.000 (R$ 2 milhões) em imóveis locais, mas agora os investidores de países que não pertencem à União Europeia precisam comprar uma participação em um fundo que direciona dinheiro para imóveis.
Sob o programa de residente não habitual, o governo anteriormente oferecia uma taxa fixa de imposto de renda de 20% e um imposto de 10% sobre pensões por dez anos.
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Mas o governo parou de aceitar novas inscrições neste ano. Aqueles que se inscreveram antes de 2024 terão esses benefícios até que o período de dez anos expire.
Embora Portugal tenha abolido o programa de residente não habitual, limitado os vistos especiais e esteja apertando os requisitos para alguns trabalhadores imigrantes, a maioria dos private bankers acredita que estrangeiros endinheirados continuarão a chegar para desfrutar da segurança e das oportunidades de negócios oferecidas pelo país.
Isso sem mencionar o clima mais quente em relação aos países mais ao norte da Europa.
Mercado imobiliário aquecido
A onda de dinheiro ajudou a transformar Lisboa - outrora um mercado imobiliário periférico repleto de prédios antigos - em um dos mercados imobiliários mais aquecidos da Europa, ao mesmo tempo em que “expulsa muitas famílias locais do centro da cidade.
Em um relatório de 2023, o Instituto Nacional de Estatística disse que alguns estrangeiros estão dispostos a pagar mais do que o dobro do que os compradores locais por uma casa em Lisboa.
Reservas em alguns dos melhores restaurantes da capital são notoriamente difíceis de conseguir e as listas de espera para algumas escolas internacionais podem se estender por anos.
O interesse se espalhou para outros locais, incluindo os outrora tranquilos destinos de praia de Comporta e Melides. O estilista francês Christian Louboutin abriu recentemente um hotel cinco estrelas em Melides, que fica a cerca de 120 quilômetros ao sul de Lisboa.
Carvalho, do Edmond de Rothschild, disse que não está muito preocupado com a concorrência, embora sinta falta do tempo em que Lisboa era acessível para a maioria das pessoas.
“O país se internacionalizou”, disse Carvalho, cujos clientes estrangeiros representam cerca de um quarto do total. “Não há como voltar atrás.”
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