Não é só investir: fundo soberano de US$ 1,7 tri ‘ergue a voz’ em assembleias

Fundo que gere as riquezas da Noruega busca influenciar demais acionistas em temas como metas climáticas e remuneração da diretoria, como em reuniões recentes da Tesla e da Exxon

Assembleia recente da Exxon contou com posicionamento mais assertivo do fundo soberano da Noruega em temas como metas climáticas (Foto: Bloomberg)
Por Kari Lundgren
14 de Junho, 2024 | 10:34 AM

Bloomberg — As recentes assembleias de acionistas da Tesla e da Exxon Mobil marcaram uma mudança radical na forma como o fundo que faz a gestão da riqueza soberana da Noruega justifica suas decisões de voto.

O fundo soberano agora começou a se aprofundar na forma como vota nas assembleias gerais de algumas empresas, o que incluiu a lógica por trás do voto contra o pacote de remuneração de US$ 56 bilhões da Tesla para o CEO Elon Musk na quinta-feira (13).

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“É importante que nós, como investidores, expliquemos nosso pensamento e ofereçamos um raciocínio mais personalizado quando necessário”, disse Carine Smith Ihenacho, diretora de Governança e Conformidade do fundo, por telefone à Bloomberg News.

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O Norges Bank Investment Management (NBIM), como é oficialmente conhecido, também emitiu informações adicionais sobre o motivo pelo qual se opôs à nomeação de Joseph Hooley como conselheiro da Exxon Mobil, depois que a empresa processou outro investidor.

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Em uma proposta de acionista relacionada às metas de emissão de gases de efeito estufa da Shell, o investidor da Noruega se alinhou com a administração, explicando que, embora a estratégia da empresa tenha “evoluído” sob o comando do novo CEO, Wael Sawan, ela ainda “mantém suficientemente os componentes essenciais de um plano de transição alinhado ao acordo de Paris”.

O fundo soberano da Noruega - que possui participações em mais de 8.800 empresas em todo o mundo - vem intensificando os esforços para usar o voto como uma ferramenta para influenciar as empresas, especificamente em questões relacionadas a mudanças climáticas, diversidade de gênero nos conselhos e remuneração de executivos.

Em 2021, o Norges Bank Investment Management começou a emitir intenções de voto cinco dias antes das assembleias gerais anuais e, no ano passado, começou a enviar suas próprias propostas aos acionistas.

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Das três propostas de acionistas apresentadas em 2024, duas foram retiradas, disse Smith Ihenacho. A terceira solicitava que a operadora de oleodutos norte-americana Kinder Morgan desenvolvesse uma meta para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e foi votada na assembleia geral da empresa em 8 de maio.

“Consideramos um direito básico dos acionistas a apresentação de propostas bem elaboradas, que sejam razoavelmente formuladas e apresentem solicitações razoáveis”, disse a executiva. O processo de apresentação de propostas exige muitos recursos e o fundo provavelmente “priorizará” as questões relacionadas ao clima daqui para frente, disse ela.

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O NBIM possui uma média de 1,5% de participação de todas as empresas de capital aberto do mundo. Ao publicar antecipadamente as intenções de voto, o fundo “passou do desenvolvimento de políticas proprietárias para o incentivo à sua adoção”, de acordo com um documento de trabalho de dezembro publicado pelo Instituto Europeu de Governança Corporativa.

O documento constatou que as divulgações prévias de “votos contrários” do NBIM levaram a um aumento de 2,7%, em média, no total de outros acionistas que votaram da mesma forma.

O fundo mantém um diálogo regular com as empresas que possui, disse Smith Ihenacho, incluindo a Tesla, em que possuía uma participação de 0,98% no valor de US$ 7,72 bilhões no fim de 2023. O NBIM teve “boas discussões com a empresa, inclusive com o presidente [do conselho] antes da votação”.

"Há algum tempo, temos dito que estamos preocupados com o alto nível dos pacotes de remuneração e como eles aumentaram em relação à inflação", disse ela. "Estamos preocupados com o fato de que esses tipos de pacotes salariais podem ser exemplos para outros, especialmente quando se chega a níveis extremamente altos que serão diluidores para os acionistas."

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