Bloomberg Opinion — Os bilionários brasileiros se tornaram um pesadelo para os operadores do mercado que lidam com a onda de fusões e aquisições no setor de papel e celulose. E esse pesadelo pode durar mais.
A Suzano (SUZB3), apoiada pela família Feffer, abordou a International Paper (IP) com uma proposta audaciosa de aquisição em dinheiro no valor de US$ 15 bilhões, de acordo com uma reportagem da Reuters no mês passado. A companhia brasileira trabalha em uma proposta revisada, informou a Bloomberg News na semana passada.
A oferta parece ter sido concebida para impedir que a International Paper faça sua própria aquisição, um acordo de 5,8 bilhões de libras esterlinas (US$ 7,4 bilhões) pela empresa britânica DS Smith.
Não é sempre que um predador se torna uma presa. Quando isso acontece, a estratégia de investimento convencional de operadores do mercado durante um processo de fusão é alterada.
A maneira típica de os investidores especializados lucrarem com a negociação de uma aquisição é capturar o desconto nas ações de uma empresa alvo de aquisição em relação ao valor da oferta.
Essa diferença existe por um motivo: ela reflete a incerteza sobre a forma como os acontecimentos poderão se desenrolar.
À medida que a transação se aproxima da conclusão, o spread diminui e os investidores obtêm o lucro. Em negociações envolvendo as ações, o truque é comprar os papéis da empresa-alvo da aquisição e vender a descoberto as ações da empresa ofertante. A venda a descoberto protege qualquer queda no valor da oferta e ajuda a financiar a negociação.
A intervenção surpresa da Suzano significa que o spread da transação entre a International Paper e a DS Smith aumentou de forma inútil.
As ações da International Paper avançaram desde que ela concordou com o acordo com a DS Smith no Reino Unido, com a perspectiva de comprar a companhia com um prêmio. Mas os papéis da DS Smith recuaram e há temores de que a empresa não seja adquirida.
Leia mais: Suzano poderia pegar crédito de até US$ 19 bi para oferta pela IP, segundo fontes
O grau de sofrimento para investidores ao apostar nessa situação dependerá muito de quando as negociações começaram e vão terminar.
A DS Smith entrou em jogo no início de fevereiro, quando se soube que a rival Mondi buscava um acordo com a empresa.
As negociações com a International Paper vieram à tona no final de março, o que foi uma surpresa, já que se tratava de uma negociação entre CEOs.
Os investidores tiveram que reduzir rapidamente os hedges da Mondi e adicionar posições vendidas na International Paper.
Leia mais: Suzano negocia com bancos japoneses para financiar oferta pela IP, dizem fontes
Em março e abril, a DS Smith subiu 31% e caiu 18%. Houve duas grandes decepções: a oferta formal da International Paper não foi maior do que o preço inicialmente proposto e a Mondi abandonou a negociação.
A entrada da Suzano no jogo é apenas o mais recente lembrete para esperar o inesperado.
A empresa com sede em São Paulo havia sinalizado que havia potencial de realizar fusões e aquisições nos Estados Unidos, mas os analistas esperavam negócios menores.
O mesmo ocorre entre CEOs. A Suzano é predominantemente uma empresa de celulose, portanto, as sinergias com a International Paper seriam pequenas: se assemelha à compra de uma empresa de automóveis por uma siderúrgica. A lógica estratégica teria que ser a diversificação.
O negócio também seria muito difícil. É quase certo que o pagamento precisaria ser 100% em dinheiro para atrair os investidores americanos.
Um prêmio de aquisição padrão sobre o preço das ações da International Paper antes de ela se envolver na atividade de fusões e aquisições deste ano implicaria uma oferta em torno de US$ 50 a US$ 55 por ação.
Por esse valor, a dívida líquida da Suzano ultrapassaria cinco vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), de acordo com analistas do HSBC.
Ainda assim, a família fundadora poderia potencialmente injetar capital conforme necessário, segundo destacam os analistas do Jefferies Financial Group. O aumento do fluxo de caixa, graças a uma nova fábrica de celulose, ajudaria a reduzir os empréstimos.
Por isso, o mercado tem precificado uma chance cada vez maior de sucesso da Suzano. Outros sinais de progresso por parte dos brasileiros – uma oferta mais elevada ou maior capacidade de financiamento – poderiam fazer com que as ações da International Paper subissem ainda mais, prejudicando todos os investidores que lidam com a situação da DS Smith e que ousaram manter posições vendidas.
Leia mais: CEO da International Paper segue em busca de fusão com grupo britânico, dizem fontes
O que acontecerá com a DS Smith se sua pretendente for adquirida? Não há garantia de que a oferta da Mondi voltará, ou que fará uma oferta generosa, se o fizer. O risco é que não haja acordo e a DS Smith volte à estaca zero.
Existe a possibilidade de mais movimentos bruscos de preços. Fica claro que não há almoço grátis em situações de fusão.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Chris Hughes é um colunista da Bloomberg Opinion que cobre negócios. Ele trabalhou anteriormente para a Reuters Breakingviews, para o Financial Times e o jornal Independent.
Veja mais em Bloomberg.com
Leia também
Electrolux reduz dependência asiática e reforça ‘made in Brazil’ de olho em LatAm
Irmãos Batista expandem atuação em petróleo e gás com aquisição da Bolívia