Opinión - Bloomberg

Divergência em cortes, datas e critérios: Opep+ confunde mercado e valoriza petróleo

O ceticismo sobre o verdadeiro nível de cortes na produção ameaça minar os esforços da organização para manter o petróleo perto de US$ 100 por barril

Cartaz escrito "Welcome to OPEC" ("Bem-vindo à OPEC")
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — Ao tentar impressionar o mercado de petróleo acrescentando várias rodadas de cortes cumulativos na produção, a Opep+ se enrolou.

O resultado é uma confusão no mercado que está prejudicou sua meta não declarada de manter os preços do petróleo próximos a US$ 100 por barril.

No entanto, na sua próxima reunião de política, agendada para 2 de junho por videoconferência, o grupo provavelmente evitará abordar a questão e deixará a ambiguidade persistir até o final deste ano – ou além.

Atualmente, a Opep+ tem vários cortes de produção: um corte principal, ou “oficial”, que afeta a maioria de seus membros; duas camadas diferentes de cortes adicionais, chamados “voluntários”, que envolvem um subgrupo; outra camada dos chamados cortes de compensação que afetam um punhado de países por não terem implementado as reduções oficiais; e mais uma camada adicional de cortes de compensação que afeta um segundo grupo de membros por não terem feito as reduções voluntárias na produção.

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Há ainda muito mais confusão. Alguns países da Opep+ medem suas restrições com base na produção, enquanto outros usam as exportações para o cálculo – uma referência completamente diferente.

Além disso, nem todos medem apenas o petróleo bruto, como historicamente é o caso; em vez disso, a Rússia, o segundo maior membro do grupo Opep+, mede uma mistura de produtos refinados, incluindo diesel e gasolina.

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Ficou confuso? Receio que vai piorar. Os cortes expiram em datas diferentes; alguns em 1º de junho, outros em 31 de dezembro e, no caso dos cortes de compensação, as datas variam para cada país afetado, com níveis diferentes para meses diferentes.

Por fim, o acordo da Opep+ não abrange três países importantes: Líbia, Venezuela e Irã. O primeiro ainda se recupera de uma guerra civil que durou quase uma década, e os dois segundos estão sob sanções dos Estados Unidos.

No entanto, a produção desses países está aumentando: com cerca de 5,3 milhões de barris por dia, a produção combinada deles é a mais alta desde o final de 2018 e aumentou cerca de 900.000 barris por dia em relação ao ano anterior.

Para piorar a situação, o mercado de petróleo está cada vez mais cético em relação aos níveis de produção que os próprios países da Opep+ publicam, bem como às estimativas compiladas por um grupo de provedores de dados independentes chamado de relatório de “fontes secundárias da Opep”.

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O mercado tem motivos para se preocupar com a possibilidade de que a organização esteja faltando com a verdade. Em meados da década de 2010, a Arábia Saudita aumentou sua produção em quase um milhão de barris por dia sem que ninguém, incluindo seus colegas países produtores da Opep, percebesse.

Embora a produção saudita tenha aumentado para 9 milhões de barris por dia na época, o país e as fontes secundárias indicaram que não passava de 8,3 milhões de barris por dia.

No momento, o mercado não duvida da Arábia Saudita (embora alguns tenham questionamentos), mas os números da Rússia, dos Emirados Árabes Unidos, do Cazaquistão e do Iraque levantaram suspeitas. Segundo dados de transporte, parece que esses quatro países produzem muito mais petróleo do que admitem.

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Se os preços estão caindo, é porque há excesso de petróleo. O crescimento da demanda, entretanto, não é o principal problema: ele continua saudável. O que causa a redução dos preços do petróleo é a oferta extra. Parte dela vem de fontes não pertencentes à Opep+, incluindo a Guiana e o Canadá. Mas uma parte vem do próprio grupo Opep+.

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As autoridades da Opep+ reconhecem que os fundamentos – oferta, demanda, estoques – são cruciais, mas a psicologia do mercado é igualmente importante.

Às vezes, especialmente quando a incerteza é grande, como acontece atualmente, o sentimento pode ofuscar os dados.

Uma abordagem assim tem sua utilidade, mas o que a organização precisa hoje é de simplicidade, não de opacidade. Uma única camada de cortes de produção que afetasse igualmente todos os membros da Opep+, com foco em uma produção de petróleo bruto mais fácil de medir e com uma única data de validade, proporcionaria mais clareza.

Há um ano, a organização introduziu um sistema para avaliar a capacidade de produção de seus membros, um primeiro passo para alterar sua política de produção até 2025, incluindo o recálculo das linhas de base para quaisquer cortes de produção.

Quanto mais cedo esse processo for concluído, melhor. O que está claro é que manter o atual status quo caótico no ano que vem seria um erro – colocando em risco a importante meta de preço de US$ 100 por barril.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Javier Blas é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre energia e commodities. Anteriormente, ele foi editor de commodities do Financial Times e é coautor de “The World for Sale: Money, Power, and the Traders Who Barter the Earth’s Resources”.

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