O pior momento do crédito para pessoa física ficou para trás, diz CEO do BV

Em entrevista à Bloomberg Línea, Gabriel Ferreira avalia que a melhora da economia tem ajudado os resultados do setor financeiro; lucro do BV cresceu 14,1% no primeiro trimestre

Por

Bloomberg Línea — Os resultados do primeiro trimestre dos bancos brasileiros têm mostrado recuperação do crédito e redução das taxas de inadimplência – isto é, os pagamentos com mais de 90 dias em atraso. Na visão de Gabriel Ferreira, CEO do banco BV, os números mostram que o pior momento do ciclo de crédito no país ficou para trás e apontam para um retorno gradual aos patamares anteriores à pandemia de covid-19.

“Na pessoa física, com certeza passamos do pior momento desse ciclo de crédito”, afirmou Ferreira em entrevista à Blomberg Línea, ao comentar os resultados trimestrais do banco, divulgados nesta terça-feira (7).

“A inflação está ancorada, o mercado de trabalho está no bom patamar, tivemos crescimento de PIB importante no ano passado. As condições estão dadas para uma convergência para a média histórica em cada uma das carteiras.”

A avaliação de Ferreira ecoa a de outros líderes do setor financeiro. Ao comentar o resultado financeiro do Itaú Unibanco (ITUB4), Milton Maluhy Filho afirmou em teleconferência nesta terça que os patamares atuais de inadimplência são “adequados” após os ajustes realizados no portfólio.

Leia também: Itaú avalia pagamento de dividendo extraordinário perto do final do ano, diz CEO

Segundo Ferreira, do BV, a cautela se mantém no segmento de pessoa jurídica, que ainda é impactado pelo aperto das condições financeiras e o aumento dos juros, o que tem levado a um grande número de recuperações judiciais no país.

O segmento de crédito sem garantia, como cartões de crédito, e de crédito pessoal também são outros pontos de atenção.

Mas a melhora das condições aponta para um ambiente mais favorável para a recuperação do crédito e dos resultados no setor financeiro.

O BV (ex-Banco Votorantim) registrou lucro líquido de R$ 321 milhões no primeiro trimestre, uma alta de 14,1% em relação ao mesmo período do ano passado.

Os ganhos foram puxados principalmente pelo aumento da carteira de crédito para financiamento de veículos usados – o carro-chefe do banco –, que subiu 15% na comparação anual para R$ 43,8 bilhões. Enquanto isso, a taxa de inadimplência caiu para 4,9%, uma redução de 0,3 ponto porcentual. A carteira de crédito total do BV atingiu R$ 88 bilhões, expansão de 4,3%. O patrimônio líquido caiu para R$ 14,026 bilhões, ante R$ 14,151 bilhões no mesmo período do ano passado.

O resultado teve reflexos na rentabilidade. O Retorno Sobre Patrimônio Líquido (ROE) foi de 10% no primeiro trimestre, um aumento de 1 ponto porcentual em relação ao primeiro trimestre de 2023.

O BV não registrava um ROE de dois dígitos desde o terceiro trimestre de 2022 (12,6%). A melhor marca nos últimos anos foi alcançada no quatro trimestre de 2021 (14,5%).

Ferreira atribui a melhora do indicador aos investimentos do banco em tecnologia e aos esforços para diversificar o negócio, aumentar as receitas de serviço e ter um portfólio de crédito com melhor perfil de risco, buscando uma melhor rentabilidade estrutural.

“O que a gente imagina para frente é que entre 2024 e 2025, esses efeitos do ciclo de crédito pior vão ficar para trás e a gente deve começar a colher o efeito desses investimentos”, disse o CEO.

“A gente não dá um guidance específico para o ano de 2024 ou de 2025, mas a gente está bastante confiante que agora nesses próximos trimestres vamos continuar observando o crescimento do lucro, do ROE e, numa visão mais de médio prazo, devemos ultrapassar o que foi o maior resultado da história do banco lá em 2021.”

Sobre a expansão do negócio de crédito para compra de veículos usados, Ferreira acredita que a demanda deve se manter alta depois de o banco registrar recorde de financiamentos no segmento, de R$ 25 bilhões, em 2023.

Ele avalia que a carteira de crédito do segmento de veículos tem visto um retorno aos patamares de crescimento de antes da pandemia, em torno de 10% a 15% ao ano.

“Quando você olha os últimos três, quatro anos, essa taxa de crescimento estava muito instável. O ano de 2024 talvez marque uma renormalização, vamos dizer assim, de oferta e demanda e com isso uma taxa de crescimento mais próxima do que era a média histórica antes da pandemia”, afirmou

Com o crescimento dos financiamentos de veículos, o negócio de seguros do BV também teve expansão. A emissão de prêmios alcançou R$ 419 milhões no primeiro trimestre, maior número já registrado.

A área de corretagem ajudou a elevar as receitas de serviços para R$ 652 milhões (alta de 34,4%), uma das frentes na estratégia do BV para diversificar a operação.

O banco também tem visto um crescimento no negócio de mercados de capitais. No primeiro trimestre, o banco contribuiu para a estruturação e distribuição de R$ 5,8 bilhões em operações de dívida, o que também contribuiu para a receita de serviços.

No segmento de corporate, o banco ainda vê os negócios pressionados pelo ambiente de juros elevados. A carteira de atacado do BV, que representa um terço do total, teve uma queda de 6% para R$ 23 bilhões.

“A despeito da trajetória de corte de juros, o juro nominal ainda alto pressiona a despesa financeira das companhias e alguns segmentos sofrem ainda um pouco mais”, afirmou Ferreira.

-- Com colaboração de Sérgio Ripardo.

Leia também

BC deve desacelerar ritmo de cortes da Selic e mercado vê chance de voto dividido