Sem Munger, investidores buscam próximos passos da Berkshire em reunião anual

Investidores e devotos de Warren Buffett se reúnem neste sábado em Omaha para o encontro anual de acionistas, o primeiro desde a morte do sócio do bilionário em novembro

Por

Bloomberg — Quando investidores e devotos da Berkshire Hathaway (BRK) se reunirem em Omaha neste sábado (4) para a reunião anual da empresa, haverá um vazio perceptível no palco.

O encontro é o primeiro da Berkshire desde que Charlie Munger, sócio de negócios de longa data e braço direito de Warren Buffett, faleceu em novembro - apenas alguns meses antes de completar 100 anos.

As aparições de Munger ao lado de Buffett, de 93 anos, ajudaram a atrair multidões de milhares de pessoas, ansiosas para ouvi-lo opinar em seu estilo franco e espirituoso sobre investimentos, filosofia, falhas humanas, excessos corporativos e muito mais.

“Sem Munger, pode ser um começo sombrio, especialmente para aqueles que possuem ações e vêm a Omaha há décadas”, disse Jim Shanahan, analista da Edward Jones. “Você poderia ver algumas pessoas meio chorosas.”

Buffett e Munger transformaram a Berkshire de uma fábrica de tecidos falida em um gigante de US$ 862 bilhões em valor de mercado que abrange participações em setores como seguros, energia e ferrovias — tornando-a um indicador observado de perto sobre a saúde econômica dos Estados Unidos.

Leia também: Esta trading japonesa atraiu de Warren Buffett ao fundo ativista Elliot

A empresa reportará resultados do primeiro trimestre antes do início da reunião no sábado. Analistas preveem que sua coleção de negócios de seguros e uma economia robusta ajudarão a impulsionar o lucro. O lucro operacional pode ter aumentado 10% em relação ao ano anterior, quando totalizou US$ 8,07 bilhões, segundo a Bloomberg Intelligence.

“O lucro será forte”, disse Bill Smead, diretor de investimentos da Smead Capital Management. “Quando a Main Street [referência aos negócios da chamada economia real, em oposição a Wall Street] vai bem, os negócios operacionais da Berkshire vão extremamente bem.”

Impulso de seguros

Desta vez, Buffett será acompanhado no palco por seu herdeiro de negócios, Greg Abel, de 61 anos, que administra todas as operações não relacionadas a seguros, e Ajit Jain, 72 anos, que supervisiona a área de seguros da Berkshire.

Esses negócios podem ter registrado um salto de 40% no lucro, com melhores resultados de subscrição e rendimentos mais altos, segundo a Bloomberg Intelligence.

Em particular, as margens de subscrição da Geico podem ter melhorado substancialmente com aumentos nas taxas ganhas e uma frequência de sinistros mais favorável, escreveram analistas do UBS em um relatório a clientes no mês passado.

Jain chamou a seguradora de automóveis de “um trabalho em andamento” na reunião anual do ano passado, depois que ela voltou à lucratividade após uma sequência de perdas consecutivas.

“A Geico será uma candidata a algumas perguntas”, disse Shanahan, observando que a seguradora tem perdido terreno para a rival Progressive. “O retorno à lucratividade é significativo, mas, por outro lado, as pessoas vão querer saber sobre sua perspectiva depois de ter perdido participação de mercado e reduzido o quadro de funcionários — e se irá aumentar os gastos.”

Incêndios florestais e litígios

Buffett, Abel e Jain podem esperar responder a até 60 perguntas durante a reunião no CHI Health Center Arena, no centro de Omaha.

Entre elas, provavelmente haverá perguntas sobre riscos climáticos e exposição a incêndios florestais, já que a empresa de serviços públicos da Berkshire, a PacifiCorp, enfrenta denúncias de responsabilidade pelos incêndios no Oregon em 2020, que poderiam chegar a bilhões de dólares.

Na carta mais recente aos acionistas, Buffett alertou que não considera mais os investimentos em empresas de serviços públicos do oeste como seguros, dada sua exposição a denúncias de responsabilidade por incêndios florestais, e reconheceu ter cometido um “erro caro” ao não antecipar o aumento desses custos.

Outras unidades também enfrentaram litígios que podem suscitar perguntas: a corretora imobiliária da Berkshire, HomeServices of America, recentemente fechou um acordo de US$ 250 milhões em um processo judicial que visava as comissões de agentes em toda a indústria.

Nesta semana, a empresa foi alvo de uma nova queixa de um grupo de compradores de imóveis acusando a corretora de inflar a remuneração dos agentes.

Termômetro econômico

Buffett identificou há muito tempo seu vasto império empresarial como um termômetro para a saúde econômica dos EUA — e os investidores buscarão previsões para a economia desta vez.

No ano passado, ele previu que a maioria dos negócios da Berkshire reportaria lucros menores à medida que um “período incrível” para a economia dos EUA chegasse ao fim.

A empresa então registrou lucro operacional no quarto trimestre de US$ 8,48 bilhões, acima dos US$ 6,63 bilhões do ano anterior.

“Embora isso não tenha se concretizado em grande parte, esperamos uma mensagem semelhante este ano”, disseram os analistas da Bloomberg Intelligence, Matthew Palazola e Eric Bedell.

A BNSF, empresa do setor ferroviária, pode registrar estagnação na receita, já que os menores encargos de combustível compensam um aumento no volume de carga e a inflação salarial, escreveram.

A inflação e as taxas mais altas também podem pesar sobre os negócios nos setores industriais, de serviços e de varejo da Berkshire, embora essas operações tenham se mostrado resilientes, afirmaram.

Nos últimos anos, o conglomerado tem enfrentado um “problema: com preos atr um excesso de dinheiro e poucas alternativas para gastá-lo, já que os valuations elevados de empresas de capital aberto privaram o bilionário investidor de alvos de aquisição.

Taxas de juros mais altas terão aliviado um pouco a pressão sobre a manutenção desse caixa, segundo Shanahan.

A pilha de caixa da empresa saltou para um recorde de US$ 167,6 bilhões no final do ano — e os analistas preveem que ela possa estar ainda mais alta quando a Berkshire divulgar os resultados no sábado.

“Há muito dinheiro circulando por aí por causa do dinheiro que o Fed injetou no sistema, tornando os valuations ainda mais difíceis”, disse Smead. “Buffett vai manter essa posição de caixa até que as pessoas fiquem negativas sobre as ações.”

Tributo a Munger

O evento de Omaha - apelidado de “Woodstock para Capitalistas” - distingue a reunião da Berkshire das que são realizadas pela maioria das outras empresas.

O dia geralmente é uma vitrine para muitas empresas com participações da Berkshire — estandes distribuindo os doces See’s, trens de brinquedo imitando as ferrovias da Berkshire —, bem como para horas de comentários.

Buffett provavelmente prestará homenagem novamente ao papel de Munger na criação da empresa.

Em sua carta anual de fevereiro, Buffett chamou o sócio de “arquiteto” da empresa e se referiu a si mesmo como a pessoa “encarregada da equipe de construção”.

As coisas não serão as mesmas sem Munger.

“Será muito menos divertido”, disse Smead. “O senso de humor e a sabedoria de Munger eram sempre o destaque da reunião.”

Veja mais em Bloomberg.com