TikTok pode sofrer para manter o apelo se de fato for vendido à força nos EUA

Aquisições bem-sucedidas de redes sociais exigem manutenção de talentos e de tecnologia – e é provável que nenhum dos dois aconteça no caso do TikTok

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Bloomberg Opinion — O esforço legal da ByteDance para evitar a venda ou o encerramento do TikTok depende de convencer um juiz de que a rede social desaparecerá completamente, esmagando os direitos de liberdade de expressão de milhões de americanos.

A desvantagem desse argumento é que o menor sinal de um acordo para transferir o aplicativo para novos proprietários prejudicaria fatalmente a posição da empresa. Nenhum direito de liberdade de expressão será tolhido se o TikTok simplesmente mudar de dono, poderia dizer um juiz.

Mas relatórios confiáveis mostraram que a ByteDance considerou uma venda de alguma forma – é claro. Seria insanidade não considerar o valor que pode ser recuperado com o “fim” do TikTok.

No entanto, é importante os pretendentes pensarem muito bem no que estão se metendo. A curta história da internet demonstrou que pegar uma rede social de segunda mão raramente dá certo para os novos proprietários.

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O exemplo mais famoso – e, convenhamos, mais engraçado – é a aquisição do MySpace pela News Corp, anunciada em 2005, por US$ 580 milhões em dinheiro. O site tinha 16 milhões de usuários ativos diários, o que, antes do Facebook, era muito importante.

O MySpace era considerado um epicentro da cultura, principalmente da música. Rupert Murdoch comprou um produto que um analista do Morgan Stanley previu que poderia ser tão importante para as ambições digitais da News Corp quanto Os Simpsons foi para a construção da rede de TV Fox.

No entanto, o falecido colunista de mídia David Carr acabou com a festa, como sempre fazia. “Murdoch se tornou o pai no meio dos adolescentes”, escreveu ele, “se esforçando para se enturmar”.

Em 2008, o Facebook havia ultrapassado o MySpace globalmente. As tentativas de modernizar seu design bagunçado saíram pela culatra, e o spam tomou conta. O site estava em queda constante e acabou vendido em junho de 2011 por US$ 35 milhões – um prejuízo de US$ 545 milhões. Um “grande erro”, diria Murdoch mais tarde.

Havia também o Tumblr. A rede – que trazia postagens curtas, um ponto intermediário entre um blog e um tuíte – foi vendida ao Yahoo por US$ 1,1 bilhão em 2013. Os usuários do Tumblr tentaram inviabilizar o negócio, lançando uma petição que alcançou 170.000 assinaturas. Os executivos sabiam que não faria diferença, naturalmente, mas três anos mais tarde, eles perderam US$ 712 milhões em valor. Encher o Tumblr de anúncios não funcionou. Mais tarde, o site foi transferido para a Automattic, fabricante de software, supostamente por US$ 3 milhões.

Há mais casos. O Bebo, adorado no Reino Unido e bastante popular em outros lugares, foi vendido por US$ 850 milhões para a AOL em 2008, colocando a empresa em uma “posição de liderança em mídia social”, de acordo com o CEO da AOL, Randy Falco.

Foi um fracasso, descrito pelo correspondente de tecnologia da BBC como “um dos piores negócios já feitos na era das pontocom”. O Bebo foi vendido para uma empresa de private equity e, mais tarde, vendido de volta para seus fundadores por US$ 1 milhão.

O LiveJournal foi outra vítima. Sua venda em 2007 para um grupo de mídia da Rússia acabou significando a transferência de seus servidores para o país e a flexibilização de suas políticas para atender à legislação russa. Dessa forma, o que antes era um fórum para adolescentes angustiados se expressarem se tornou um lugar para uma comunidade russa muito menor.

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É impossível comprar uma rede social pronta e fazê-la dar certo? Não – há exemplos que um comprador do TikTok pode achar que pode imitar. O LinkedIn, adquirido pela Microsoft (MSFT) em 2016 por cerca de US$ 25 bilhões, é um deles. Em seu último ano completo como uma empresa independente, a receita do LinkedIn foi de US$ 2,99 bilhões. No ano passado, gerou US$ 15,15 bilhões.

Outro caso é o do Instagram, comprado pelo Facebook por US$ 1 bilhão em 2012, agora o principal motor de crescimento da Meta Platforms (META) que mantém a empresa minimamente relevante para pessoas com menos de 40 anos de idade.

Em ambos os casos, os compradores se encaixaram perfeitamente pois tinham a cultura e a experiência necessárias para que a transição funcionasse, e os principais pilares do sucesso dessas redes permaneceram intactos.

No Instagram, por exemplo, os cofundadores Kevin Systrom e Mike Krieger permaneceram na empresa por um tempo excepcionalmente longo após o fechamento do negócio.

Uma venda do TikTok estaria mais propensa ao fracasso que ao sucesso. O ambiente regulatório atual faz com que pareça improvável que uma grande empresa de tecnologia dos Estados Unidos, que poderia aproveitar o progresso do TikTok, tenha permissão para comprá-lo (embora, quem sabe, diante do encerramento do aplicativo, talvez os órgãos reguladores aceitem um acordo).

As aquisições de sucesso de redes sociais exigem que os talentos e a tecnologia permaneçam intocados. Nada disso deve acontecer no TikTok. É muito provável que a China bloqueie qualquer transferência do famoso algoritmo do TikTok, e não está claro o que aconteceria com os principais talentos de engenharia da empresa, que ficam nos Estados Unidos, no caso de uma venda. O comprador corre o risco de receber pouco mais do que uma marca. Uma troca valiosa, sim, mas uma sombra do que a TikTok é hoje.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Dave Lee é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Foi correspondente em São Francisco para o Financial Times e a BBC News.

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