Philips
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Bloomberg Opinion — “Inviáveis” tornou-se a forma padrão de descrever as empresas que enfrentam litígios consideráveis nos Estados Unidos, principalmente processos por danos pessoais.

Essa frase resume a opinião do mercado de ações sobre a Royal Philips, fabricante de aparelhos médicos, após um recall em 2021 de aparelhos destinados a aliviar a apneia do sono. Mas a bilionária família italiana Agnelli viu uma oportunidade de investimento. E agora vem a recompensa.

A Philips enfrentou dificuldades porque a espuma de seus aparelhos se degradava, o que criava o risco de os usuários inalarem suas partículas e a preocupação com a possibilidade de serem cancerígenas.

A empresa afirma repetidamente que o problema não representa “nenhum dano considerável” aos pacientes.

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Além do desafio operacional de realizar reparos em massa, o recall desencadeou processos por danos e investigações por parte da Food and Drug Administration (FDA) – órgão semelhante à Anvisa – e do Departamento de Justiça dos EUA. No final de 2022, a Philips havia perdido mais de três quartos de seu valor de mercado – 36 bilhões de euros (US$ 39 bilhões).

A Exor, veículo de investimento dos Agnelli, revelou uma participação de 15% em agosto de 2023, supostamente usando o Goldman Sachs (GS) para ajudar a acumular a posição e passar despercebida.

Na época, as ações da Philips já haviam saído de suas mínimas, mas 2024 trouxe uma clareza cada vez maior sobre os riscos legais que pesam sobre a empresa.

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Na segunda-feira (29), a Philips revelou um acordo de cerca de 60.000 ações judiciais existentes, com um limite de US$ 1,1 bilhão. Esse acordo foi mais rápido e com valor mais baixo do que muitos esperavam. As ações saltaram quase 40%.

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A notícia veio na esteira de um acordo recente com a FDA, que estabeleceu as condições sob as quais a empresa poderia operar no mercado americano de apneia do sono.

Com o litígio, o objetivo é sempre chegar a um fim decisivo para a incerteza. Mas, embora isso torne os acordos atraentes, eles nem sempre são a solução.

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A farmacêutica Bayer ainda enfrenta ações judiciais individuais relacionadas aos herbicidas à base de glifosato herdados de sua desastrosa aquisição da fabricante de sementes Monsanto – apesar de ter feito um grande acordo há vários anos.

O CEO da Philips, Roy Jakobs, diz que seu acordo é o mais definitivo possível nos EUA. O mercado deu a ele o benefício da dúvida de que a questão está encerrada, e tem alguns motivos para isso.

O grupo reclamante é mais fácil de circunscrever do que os usuários do herbicida da Bayer. Os indivíduos que ajuizarem um processo terão que produzir seus próprios laudos periciais e podem enfrentar pressão, o que lhes dá um incentivo para participar do acordo.

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Mesmo agora, a Philips ainda é negociada com um desconto de cerca de 15% em relação à rival Siemens Healthineers em termos de lucros futuros. A conclusão da investigação do Departamento de Justiça dos EUA pode custar caro, tanto do ponto de vista financeiro quanto da reputação.

Enquanto isso, a Philips ainda fica restrita à manutenção dos dispositivos de apneia do sono existentes e à venda de acessórios nos EUA. Não há um cronograma claro de quando a empresa poderá vender novas máquinas.

E a Philips precisa convencer pacientes e investidores de que aprendeu o que é necessário com a fabricação de um dispositivo defeituoso e determinar se sua resposta foi a melhor possível.

Dito isso, as perguntas dos analistas sobre aquisições adicionais em uma teleconferência com a empresa discutindo o acordo são um vislumbre do que pode ser o retorno à normalidade – mesmo que isso ainda não tenha acontecido.

O investimento dos Agnelli pode ter sido uma aposta, mas foi uma aposta bem pesquisada e de longo prazo na área de saúde, feita após meses de deliberação.

Na época, as metas dos analistas para a Philips não eram muito mais altas do que o preço vigente das ações. As ações da Philips despencaram em janeiro, quando surgiram as conclusões provisórias do trabalho da FDA, juntamente com resultados decepcionantes.

Mas tanto a Philips quanto a Exor – que também é proprietária de uma parte da Ferrari – tiveram um alto desempenho desde que o relacionamento entre as duas foi tornado público.

Fechar um acordo com a empresa significa que a Exor não receberá seu dinheiro por alguns anos, portanto, é muito cedo para considerar isso um sucesso. Mas os Agnelli estão colhendo alguns frutos – é o que eles ganham por ignorar o consenso sombrio e perceber que nem todo risco de litígio é o mesmo.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

Chris Hughes é colunista da Bloomberg Opinion e cobre negócios. Trabalhou para a Reuters Breakingviews, bem como para o Financial Times e o jornal Independent.

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