Bloomberg Opinion — À medida que a alta temporada de turismo se aproxima no hemisfério Norte, surge uma questão eterna, e a tecnologia provoca uma nova reviravolta: um lugar é destinado principalmente aos que vivem nele ou para o mundo inteiro?
A mais recente novidade nesse conflito vem de Barcelona.
A linha de ônibus 116 costumava passar pelo Parque Güell - concebido por Antoni Gaudí -, um dos principais destinos turísticos da cidade. No entanto a vizinhança e a lotação do ônibus levaram a prefeitura a remover a rota do ônibus dos mapas do Google e da Apple. Portanto, chegar ao Park Güell ficou mais difícil para os turistas, o que não incomoda nem um pouco os moradores locais.
E esse não é um incidente isolado.
A cidade de Nova York impôs restrições severas ao Airbnb em um esforço para restaurar a oferta de apartamentos para os residentes da cidade, e não para os turistas.
Amsterdã alerta aos “turistas festeiros” britânicos que não visitem a cidade, pois temem que se entreguem a muita bebida, drogas e sexo. O Japão aumentou em 70% o preço dos trens-bala para turistas. Veneza cobra cinco euros por visita aos turistas de um dia.
E ainda há o desestímulo não oficial: recentemente, moradores de Medellín, na Colômbia, foram a bares muito frequentados por turistas e se manifestaram contra os clientes. Na Espanha, manifestantes antituristas visam praias e restaurantes.
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Ficar do lado dos turistas ou dos nativos dependerá, é claro, do lugar, bem como de sua condição de visitante ou morador. Gosto de pensar que sempre estarei do lado dos turistas. Aqui estão alguns de meus motivos.
Primeiro, a maioria dessas decisões é tomada por governos municipais, locais e nacionais. Eles respondem a seus eleitores e grupos de interesse nacionais, não a estrangeiros.
Quando muito, os interesses dos estrangeiros são subrepresentados. Isso não significa que os turistas devam sempre receber atenção extra, mas à primeira vista, esse é um argumento favorável.
Em segundo lugar, como economista, acredito muito no mecanismo de preços. Os preços equilibram a oferta e a demanda sem exigir muita interferência política explícita nas decisões privadas. Quando uma experiência custa mais, os próprios turistas podem decidir se vale a pena.
Por esse raciocínio, a decisão japonesa de aumentar os preços do trem-bala para os turistas é exatamente a abordagem correta. Nesse meio tempo, o governo japonês, que enfrenta altos custos de aposentadoria, tem mais dinheiro à sua disposição.
Não há necessidade de se ressentir ou restringir de alguma forma os turistas e, na verdade, achei o povo japonês extremamente gentil e prestativo com os estrangeiros. Os preços mais altos das passagens de trem turístico farão com que seja mais fácil para eles continuarem assim.
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O problema da taxa de 5 euros (US$ 5,30) por dia em Veneza é que ela não é nem de longe suficiente, considerando a aglomeração e o desgaste acumulado na cidade. E se fosse 50 euros (US$ 53)?
O mesmo vale para o ônibus em Barcelona: por que não aumentar a tarifa só para os turistas? É fácil aplicar (parcialmente) esse tratamento diferenciado por meio de pontos de verificação na linha de ônibus.
Uma alternativa ou possível complemento a esse plano é ter mais ônibus para o parque, para aliviar o congestionamento. Taxas mais altas para turistas podem ajudar a pagar por isso.
É claro que muitos turistas optarão por caminhar até o Parque Güell. Se o bairro inteiro ainda estiver muito lotado, é só aumentar o valor da entrada (atualmente é de 10 euros ou US$ 11).
Amsterdã tem um desafio mais difícil.
Barcelona e Veneza têm algumas atrações e locais exclusivos que podem ser cobrados em níveis mais altos, com exclusão aplicada aos não pagantes.
Em contraste, para muitos turistas de Amsterdã, as atrações são bebidas, maconha e sexo, todos com preços definidos em mercados basicamente competitivos.
Sou totalmente a favor de ingressos mais caros para o Rijksmuseum, mas isso pode não fazer muita diferença para o problema do “turismo de festas” de Amsterdã.
Nesse caso, os governos holandeses podem considerar impostos mais altos para todos esses setores, talvez com descontos para os cidadãos holandeses.
Em Medellín, o prefeito proibiu a prostituição por seis meses, em parte como resposta à demanda turística, inclusive para crianças vítimas de tráfico sexual.
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Na cidade de Nova York, uma maneira óbvia de lidar com a escassez de moradias econômicas é permitir a construção de mais hotéis, casas e apartamentos. O dinheiro dos turistas sustenta muitas das grandes instituições culturais de Nova York.
Quanto a mim, estou indo para a Cidade do Cabo em alguns meses. Devido ao aumento da criminalidade e ao fornecimento irregular de eletricidade, muitos turistas têm evitado a África do Sul. O destino dos países é ter muitos ou poucos turistas. Acredito que é melhor ter o primeiro problema.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Tyler Cowen é colunista da Bloomberg Opinion, professor de economia da George Mason University e escreve para o blog Marginal Revolution.
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