Bloomberg Línea — O cenário de instabilidade geopolítica, juros altos ao redor do mundo e início de governo no Brasil contribuíram para uma estabilidade dos salários de executivos C-level no país, em que empresas postergaram grandes aumentos para se adaptar ao novo ambiente.
Levantamento recém-concluído pela Page Executive, unidade da Page Group especializada no recrutamento desses profissionais, apontou que a remuneração mensal fixa média de executivos da alta liderança ficou praticamente inalterada no Brasil em 2023 em relação a 2021, ano da pesquisa anterior.
O estudo, conduzido entre outubro de 2023 e fevereiro de 2024, contou com a participação de 2.000 executivos da alta liderança que atuam em empresas de diversos setores e tamanhos na América Latina.
Segundo a pesquisa, um CEO de uma empresa com faturamento acima de R$ 1 bilhão tende a receber um salário mensal fixo a partir de R$ 80 mil em base de 13 pagamentos - ou seja, na ordem de R$ 1 milhão por ano. O montante não inclui a remuneração variável, que em geral supera os 60% do total desembolsado por essas empresas, segundo a Page Executive.
Isso significa, por exemplo, que um CEO que ganhe R$ 80 mil de salário fixo e receba remuneração variável equivalente a 70% do total terá um total compensation equivalente a R$ 267 mil por mês.
Em grandes bancos e empresas listadas na B3, a remuneração total anual chega à casa de R$ 10 milhões por ano, conforme dados revelados em formulários de referência na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
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O equivalente a dois terços da amostra, ou 66,5% das posições C-level, apresentou estabilidade salarial. Os demais 33,5% do estudo da Page Executive registraram leve crescimento nos ganhos.
“Além da cautela global, vimos por aqui reformas e uma mudança de governo, o que se reflete em questões salariais com certa estabilidade. Na mudança, as empresas repensam estratégias e buscam determinados perfis de executivos para lidar com o novo cenário”, disse Paulo Dias, diretor da Page Executive, em entrevista à Bloomberg Línea.
Para o cargo de executivo-chefe financeiro (CFO), a remuneração fixa começa nos R$ 70 mil em grandes empresas, enquanto que para o executivo-chefe de operações (COO), o montante supera os R$ 60 mil.
Confira, a seguir, a estimativa das remunerações para os cargos de presidente (CEO) e diretores financeiro (CFO), de recursos humanos (CHRO), de tecnologia (CTO), comercial (CCO) e de operações (COO) segundo o estudo da Page Executive com base na amostra entrevistada:
Cargo | Até R$ 246 mi* | De R$ 247 mi a R$ 494 mi* | De R$ 495 mi a R$ 1 bi* | Acima de R$ 1 bi* |
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CEO | R$ 40 mil a R$ 65 mil | R$ 50 mil a R$ 80 mil | A partir de R$ 60 mil | A partir de R$ 80 mil |
CFO | R$ 30 mil a R$ 60 mil | R$ 40 mil a R$ 70 mil | R$ 50 mil a R$ 80 mil | A partir de R$ 70 mil |
CHRO | R$ 30 mil a R$ 60mil | R$ 30 mil a R$ 70 mil | R$ 40 mil a R$ 80 mil | R$ 50 mil a R$ 80 mil |
CTO | R$ 30 mil a R$ 50 mil | R$ 30 mil a R$ 60 mil | R$ 40 mil a R$ 80 mil | A partir de R$ 60 mil |
CCO | R$ 30 mil a R$ 58 mil | R$ 40 mil a R$ 60 mil | R$ 45 mil a R$ 80 mil | A partir de R$ 50 mil |
COO | R$ 30 mil a R$ 60 mil | R$ 40 mil a R$ 70 mil | R$ 45 mil a R$ 80 mil | A partir de R$ 60 mil |
*A remuneração desses profissionais é classificada por faixas, de acordo com o porte de faturamento da empresa na qual atuam: até R$ 250 milhões, de R$ 250 milhões a R$ 500 milhões, de R$ 500 milhões a R$ 1 bilhão e acima de R$ 1 bilhão.
**Remuneração mensal fixa; não inclui fatia variável (bônus, stock options etc.)
Mudança de estratégia
Dias disse que os pequenos aumentos vistos nas remunerações de cargos C-level no período foram concedidos em geral por empresas que estavam em processo de profissionalização ou que tiveram uma mudança de rota na estratégia de negócios.
No primeiro caso, a empresa pode ter ido a mercado em busca de um presidente executivo para substituir o dono da empresa – e precisou pagar um salário mais agressivo para atrair o novo profissional.
No segundo caso, a empresa esteve em crise ou precisou de novas demandas específicas - ao longo do último ano, dezenas de companhias listadas na B3 trocaram de CEOs e CFOs, por exemplo.
Cargos mais demandados
Em períodos de repensar estratégias, as empresas tendem a fazer mudanças mais táticas em seu quadro de funcionários, disse Dias.
Isso contribui, por exemplo, pela busca por executivos-chefe comerciais (CMOs), que redefinem mercados e produtos, bem como CFOs, “que vão revisitar custos, a estratégia de financiamento de novos produtos, com possibilidade de abertura de capital, emissão de debêntures” etc.
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O executivo destacou ainda uma maior demanda por profissionais C-level nos setores de infraestrutura, como concessão de rodovias, saneamento e construção civil. “Começamos a ver um novo crescimento de um setor que ficou parado por muito tempo”, disse.
Em contrapartida, segundo ele, executivos-chefe de tecnologia (CTO) devem registrar menor demanda enquanto empresas seguram substituições e fazem menos movimentações após o boom do setor na pandemia de covid-19, a despeito do avanço acelerado do uso de IA (Inteligência Artificial) nos negócios.
Novas tendências
Na América Latina, o executivo destacou a demanda por posições relacionadas à liderança de tecnologia e dados, bem como de segurança da informação. Foi o caso do México, por exemplo, que atua como hub de algumas empresas na América Latina.
No Brasil, diante de necessidades relacionadas à Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD), algumas empresas decidiram criar cargos C-level, o que levou a uma demanda no mercado.
O mesmo vale para cargos com foco em ESG, de melhores práticas sociais, ambientais e de governança, que passaram a contar com um executivo-chefe de sustentabilidade (CSO).
O objetivo é implementar uma visão estratégica que integra aspectos sustentáveis em todos os processos da operação, da cadeia de suprimentos até as iniciativas comunitárias, apontou a Page Executive.