Bloomberg Opinion — Precisamos rever a forma como digerimos os lançamentos musicais.
Em menos de 24 horas após o lançamento do álbum The Tortured Poets Department e da antologia surpresa de Taylor Swift, a internet foi inundada por um número inevitável de resenhas e opiniões.
No New York Times, Lindsay Zoladz disse que o disco é “extenso e, muitas vezes, comodista” e “repleto de letras detalhadas e referenciais que seus fãs terão prazer em decodificar”.
Mas, como uma fã de longa data de Swift, tenho que perguntar: onde está o “prazer” de ficar acordada até o amanhecer para terminar de ouvir um álbum como se fosse um trabalho da faculdade que precisamos concluir pela manhã?
E não são apenas os profissionais que estão causando essa mudança. A cultura das resenhas vai muito além das opiniões dos críticos de música atualmente. Na era das opiniões mal elaboradas em fóruns on-line, qualquer pessoa com um smartphone pode despejar seus pensamentos na rede.
Muitos esperam que suas opiniões sejam captadas pelo algoritmo. Para evitar spoilers, os fãs (ou apenas ouvintes curiosos) precisam evitar totalmente a mídia ou digerir os novos lançamentos imediatamente – o que é como comer um cheeseburger inteiro de uma só vez. Não há uma chance de saborear. Não há tempo nem mesmo para sentir o gosto. E, francamente, isso é exaustivo.
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É claro que a antologia “surpresa” de Swift – 15 músicas extras lançadas durante a madrugada de sexta-feira (19) – complica as coisas para os críticos que precisam cumprir prazos. Mas as resenhas chegaram no mesmo dia, independentemente da noite em claro. Embora algumas tenham sido bem ponderadas, outras pareceram ter sido pré-escritas e absurdas.
Um redator anônimo da equipe da Paste Magazine – cuja assinatura foi excluída por motivos de “segurança” – começou a resenha da publicação com a seguinte afirmação: “Sylvia Plath não cometeu suicídio para isso!” Foram necessárias quase 700 palavras para chegar ao conteúdo do álbum em si. Se você está disposto a lançar uma lista de críticas mesquinhas contra uma artista, pelo menos tenha a decência de colocar seu nome nela.
Na The Atlantic, Spencer Kornhaber disse que Swift está “com problemas de controle de qualidade”, fazendo eco a outras publicações como o New York Times, que afirmou que Swift “precisa de um editor”. Mas considere a ironia de dizer isso em uma crítica publicada menos de 12 horas após lançamento do álbum.
Da mesma forma, Rob Sheffield, da Rolling Stone, classificou o álbum como um “clássico instantâneo” e o chamou de “extremamente ambicioso”. Você está dizendo que digeriu completamente um álbum duplo de duas horas com 31 músicas nesse período de tempo? Essas conclusões rápidas desacreditam a natureza tanto dos elogios quanto das críticas.
Mas talvez esses críticos estejam apenas tentando entrar na conversa mais rapidamente para saciar os vorazes fãs de Swift, que cresceu a níveis gigantescos nos últimos anos.
Na primeira reprodução das músicas de seu novo álbum, um subgrupo considerável de seus fãs passam a elaborar teorias, prontos para interpretar as letras que, segundo eles, respondem às suas perguntas mais urgentes: sobre quem é essa música? Esse verso está ligado a outro de um álbum diferente? Quem foi o melhor produtor: Jack Antonoff ou Aaron Dessner? A máquina de escrever mencionada na faixa-título do álbum pertence a um ex-namorado?
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Essas perguntas são, sem dúvida, um produto do relacionamento parassocial que Swift construiu com seu público. Mas será que estamos indo longe demais com as histórias de ex-namorados?
Não se trata mais apenas de detetives amadores tentando deduzir pistas. Publicações respeitáveis, desde a Time Magazine até o The Philadelphia Inquirer, também se envolvem em jogos de adivinhação.
Embora eu aprecie bons memes, as perguntas malucas sobre a vida romântica de Swift e as respostas rápidas a elas em artigos e tuítes – “É sobre Matty Healy! Espere, poderia ser Harry Styles! Não, é claramente Travis Kelce!” – barateiam a experiência e desconsideram as nuances da própria música.
Não trataríamos a poesia dessa forma. Independentemente de você achar que Swift é uma versão moderna de Shakespeare, também não deveríamos tratar a música dessa forma.
Se você é fã de um artista, faça um favor a si mesmo e ignore as críticas iniciais, tanto nas mídias sociais quanto na mídia tradicional. Elas não só prestam um desserviço ao artista, como também prejudicam nossa capacidade de realmente curtir a experiência.
Permita-se absorver a música! Ouça no banho, no carro, na fila do restaurante, lavando louça. Descubra se você gosta ou odeia a música. Afinal de contas, isso é o que realmente importa.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Jessica Karl é colunista da Bloomberg Opinion e autora da newsletter Bloomberg Opinion Today.
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