Bloomberg Línea — Na sede do Citi (C) na avenida Paulista, em São Paulo, Erik Savola, Chief Country Officer para Suécia e head de banking para os países nórdicos do banco de Wall Street, realizou uma série de reuniões com clientes da região na última semana.
Na passagem pela capital paulista, o executivo explicou o racional da estratégia no Brasil, país que já conhece há 15 anos, quando começou a vir com o mesmo propósito, mas cujo interesse tem sido crescente.
“Algumas empresas estão vendo a região como uma nova forma de crescimento, seja pelo tamanho do mercado, como pelos minerais, pelas formas de energia, bem como hedge de riscos geopolíticos – dado que o país é como se fosse uma ilha, para o bem e para o mal”, disse Savola em entrevista à Bloomberg Línea.
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Com uma carreira de 20 anos no Citi, o executivo sueco chamou a atenção para a atratividade do mercado brasileiro e para o potencial de novos negócios, especialmente em um cenário de juros mais baixos.
Segundo ele, a expectativa é que o país continue a ganhar ainda mais espaço entre empresas nórdicas nos próximos anos, com destaque para os setores de consumo, agricultura e energia verde.
Presença nórdica
Entre 2021 e 2022, empresas norueguesas investiram US$ 7,6 bilhões no Brasil, enquanto as finlandesas, US$ 1,3 bilhão, destacou Savola. “As negociações entre os países também cresceram no ano passado, tanto no que diz respeito às exportações quanto às importações, o que mostra que há uma necessidade mútua.”
De acordo com dados da Câmara de Comércio Sueco-Brasileira, o Brasil abriga mais de 200 empresas suecas. A cidade de com São Paulo é sede da maior parte delas, a tal ponto que é considerada a segunda cidade industrial mais importante da Suécia, atrás apenas de Gotemburgo.
Grandes empresas suecas com presença no território brasileiro, por exemplo, incluem Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux e SKF, bem como a de streaming de música Spotify.
Enquanto empresas de consumo veem no Brasil um grande mercado para ampliar suas vendas, com mais de 200 milhões de habitantes, outras veem potencial em matérias-primas fundamentais, como minério de ferro e as chamadas “soft commodities”, caso de açúcar, café e soja.
Dos clientes nórdicos que estão visitando o Brasil em busca de expandir seus negócios, Savola contou que a maioria atua nos setores de agricultura, transporte, manufatura, energia limpa e na área farmacêutica.
“Nosso mercado doméstico é tão pequeno que temos que ir para o exterior – e isso tem sido um modelo de sucesso para as empresas nórdicas”, disse Savola.
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Desafios e oportunidades
Entre os principais desafios para o empreendedorismo nórdico no Brasil, Savola destacou uma maior complexidade nos negócios, em grande parte devido ao tamanho do mercado.
“Não é tão simples quanto trabalhar em um país com escopo geográfico pequeno. Aqui [o Brasil] é quase como uma União Europeia, com 200 milhões de pessoas, diferentes estados etc”. “Eu sinto que as pessoas veem bastante complexidade de navegar por aqui.”
Por outro lado, segundo sua avaliação, o governo brasileiro tem mostrado consistência em algumas dessas políticas, como para energia limpa. “Todo mercado tem suas complexidades de alguma forma, e acho que o brasileiro está endereçando as questões daqui.”
Ele contou que tem percebido nos últimos anos um aumento de apetite por parte dos investidores nórdicos, com uma melhora de sentimento para a região.
“O Brasil tem avançado e se tornado mais atraente como um lugar para se fazer negócios. As vantagens também vêm se fortalecendo, como a transição para uma economia de baixo carbono – e o conhecimento dos nossos clientes sobre o mercado brasileiro também tem melhorado.”
Transição energética
A principal frente de investimento nórdico no Brasil recai sobre o mercado de energia limpa. Além do fato de que grande parte dos novos projetos são executados no país, Savola afirmou que hoje muitos empreendimentos nos países nórdicos dependem de inputs do mercado brasileiro.
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“Se olharmos esses grandes projetos de energia, muitos deles vêm da minha parte do mundo. O Brasil tem uma posição política que permite ser mais flexível – e é disso que precisamos; a diversificação é extremamente benéfica.”
Embora não tenha aberto os nomes dos principais projetos, o executivo destacou o seu otimismo e disse que “não estaríamos aqui em peso se não houvesse sobre o que falar.”
América Latina
Além do Brasil, o executivo sueco destacou ainda a presença de negócios relevantes na Argentina e no México.
Enquanto no primeiro Savola citou os recursos naturais como atrativo, o México tende a ganhar mais relevância com o nearshoring - processo de aproximação da cadeia de fornecedores de seus mercados finais -, dada sua fronteira com os Estados Unidos.
“Estamos todos equilibrando a questão geopolítica no momento e a Europa tem que repensar suas escolhas com mais cuidado – caso das políticas de energia [antes muito dependente do gás russo] –, e essa busca por alternativas amplia o foco em LatAm.”
Segundo ele, os investimentos na região fazem parte de uma estratégia a longo prazo, independentemente de eventuais incertezas no curto prazo. “Entendemos que há volatilidade em tudo, ainda mais em um mercado que passa por muitas mudanças, mas vemos muito potencial futuro e o dinheiro está vindo.”