Bloomberg Opinion — É consenso geral que o mês de abril foi marcado por uma escalada significativa nas tensões de longa data entre Irã e Israel. Ambos os países argumentam que seu território foi atacado, de forma que garante e justifica uma retaliação direta. E ambos ameaçam intensificar a escalada, apesar de outros países pedirem calma.
Independentemente do que aconteça em seguida, muitos acham que uma linha significativa foi cruzada em uma parte instável do mundo que passou por uma tremenda tragédia humana, principalmente nos últimos seis meses.
O que alguns consideravam um desequilíbrio relativamente contido no Oriente Médio agora se transformou em um desequilíbrio perigosamente instável envolvendo muitas partes.
Quando as negociações foram retomadas na segunda-feira (15), traders e investidores reagiram aos riscos geopolíticos mais elevados. Além disso, pairou no ar uma maior ameaça de ventos estagflacionários para a economia global em um momento em que as ferramentas de política de mitigação de risco, como medidas fiscais e monetárias, já enfraqueceram, e a inflação nos Estados Unidos continua alta.
Não obstante a visão de que os ataques do fim de semana poderiam ter sido muito pior, não seria uma surpresa se os preços do ouro e do petróleo subissem, e os preços de ações e rendimentos de títulos públicos tomassem o rumo inverso.
O que virá depois disso dependerá da conclusão da sabedoria coletiva de traders e investidores de que tanto o Irã quanto Israel enviaram uma mensagem um ao outro e, portanto, sentem que já fizeram o suficiente por enquanto. É isso que a diplomacia internacional, incluindo a reunião do G7 no domingo (14), pretendia realizar. No entanto, eles dependem da avaliação que os dois países fazem da situação.
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A economia global e os mercados estão relativamente bem posicionados para lidar com um aumento único no risco geopolítico, mas não conseguiriam enfrentar outras escaladas que envolvam mais partes de maneira mais significativa.
O choque no preço da energia subsequente a essas novas escaladas sufocaria a recuperação da produção industrial que está ajudando países como a Alemanha e o Reino Unido a saírem de suas recessões técnicas.
Isso complicaria o quadro de inflação dos Estados Unidos, já sujeito a aumentos de preços mais persistentes do que muitos, incluindo o Federal Reserve, esperavam. Também dificultaria as reformas estruturais de que a China precisa. E intensificaria o movimento em direção a uma maior fragmentação econômica e financeira internacional.
Há muita coisa em jogo, dependendo do que acontecer em seguida entre o Irã e Israel. A esperança é que haja uma redução da escalada no Irã e em outros lugares do Oriente Médio, tanto no prazo imediato quanto no longo prazo.
Isso ajudaria a conter as repercussões adversas na economia e nos mercados globais e, o que é mais importante, também salvaria vidas e meios de subsistência após o trágico número de mortes, ferimentos e danos físicos e mentais dos últimos seis meses. No entanto, não há garantias de que essa esperança se transformará em realidade.
Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.
Mohamed A. El-Erian é colunista da Bloomberg Opinion. Ex-CEO da Pimco, é presidente do Queens’ College, de Cambridge, conselheiro econômico da Allianz e presidente da Gramercy Fund Management. Ele é autor de “The Only Game in Town””.
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