Este escritório decidiu apostar no mercado de venture capital. Agora colhe os frutos

Inspirados em grandes escritórios do Vale do Silício, Sergio Bronstein, Eduardo Zilberberg, Pedro Chueiri e Guilherme Potenza fundaram o BZCP há três anos. Já assessoraram 400 deals

Região da Faria Lima, em São Paulo, setembro de 2022. Foto: Victor Moriyama/Bloomberg
13 de Abril, 2024 | 11:06 AM

Bloomberg Línea — Quem entra no escritório do BZCP Advogados na avenida Juscelino Kubitschek, na região da Faria Lima, em São Paulo, pode pensar em um primeiro momento que está em uma empresa de arquitetos ou da chamada economia criativa. Não só pela decoração como também pelas roupas informais dos profissionais. Mas ali funciona um dos maiores escritórios com foco em venture capital do país.

A concepção do BZCP, que acaba de completar três anos de existência, evoluiu com a aceleração do desenvolvimento desse mercado no país. O escritório tem duas especializações: além do venture capital, M&As (fusões e aquisições). Conta com algumas das maiores empresas de tecnologia do país, que nasceram como startups, entre seus clientes, como 99, Loggi e Mercado Bitcoin, entre outros.

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O escritório, que já assessorou cerca de 400 deals, leva os nomes dos sócios fundadores, Sergio Bronstein, Eduardo Zilberberg, Pedro Chueiri e Guilherme Potenza, que se conheceram justamente em diferentes deals que assessoraram ao longo de mais de dez anos de evolução do mercado de venture capital e startups no país, cada um em um grande escritório.

Mais recentemente, antes da nova casa, Zilberberg, no Dias Carneiro; Bronstein e Potenza, no Veirano; e Chueiri no Ulhôa Canto. A experiência dos sócios em M&As é ainda mais ampla e remonta a vinte anos.

“Nós nos encontrávamos com frequência em reuniões com clientes sobre aportes e M&As, mas em lados opostos da mesa”, lembrou Zilberberg em entrevista à Bloomberg Línea.

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O conceito de informalidade - ternos, por exemplo, estão dispensados, o que pode causar estranhamento em escritórios de advogados - não se dá por acaso e foi escolhido de forma planejada para refletir uma cultura em construção e valores que eles quiseram que a nova casa adotasse (veja mais abaixo).

Entre os deals já assessorados nos últimos anos estão a compra da Neoway pela B3 por R$ 1,8 bilhão, a aquisição da healthtech Memed pela DNA Capital, da família Bueno, e o aporte de US$ 300 milhões em rodada Série E liderado pela Ribbit Capital no QuintoAndar, entre outros.

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Ao longo dos anos, os sócios se especializaram justamente nessa indústria, desde o momento em que o ambiente no Brasil, em particular, era incipiente.

“Não havia muitos escritórios com esse foco em empreendedores e tecnologia, porque o ecossistema ainda estava se desenvolvendo”, lembrou Zilberberg, que trabalha há mais de dez anos na área.

A avaliação de que havia demanda para um escritório dedicado ao venture capital ficou mais evidente nos anos de 2020 e 2021, de juros em níveis recordes de baixa - chegou a zero nos Estados Unidos e a 2% ao ano no Brasil - e, como consequência, de atividade recorde de aportes em startups dada a abundância de capital no mercado.

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Em 2021, ano recorde para a indústria de VCs no Brasil, houve quase 800 rodadas de investimento em startups brasileiras, que movimentaram US$ 9,4 bilhões, ou 2,6 vezes o valor do ano anterior, segundo dados do Distrito. Trinta desses aportes foram de cheques de US$ 100 milhões ou mais.

“Eu tinha um relacionamento próximo com um fundo e cuidava de todos os deals. Chegou um momento em que estava trabalhando em cinco deals ao mesmo tempo e o fundo disse que teria que contratar um novo escritório para dar conta dos próximos negócios que chegavam”, disse Zilberberg.

Essa situação também era vivenciada pelos demais sócios, que começaram a conversar entre si, mas naquele momento com a tentativa de argumento para trazer o colega para o seu então escritório. Almoços foram marcados entre os atuais sócios com o plano de convencimento da migração - que não ocorreu. Foi a deixa para o amadurecimento da ideia: por que não criar do zero um novo escritório?

Na avaliação dos sócios, não havia naquele momento um escritório que pudesse atender startups desde o começo de sua jornada, quando ainda montam a estrutura de capital, até sua eventual evolução a ponto de conseguir assessorar rodadas com cheques de valores mais altos e até IPOs ou M&As. Hoje um dos slogans da casa é justamente “From Seed do Exit”, em alusão aos estágios em pontas opostas de uma startup.

(A partir da esq.), Eduardo Zilberberg, Sergio Bronstein, Guilherme Potenza e Pedro Chueiri, sócios fundadores do BZCP Advogados, um dos maiores escritórios do país especializados em venture capital (Foto: Divulgação)

Há também a demanda de uma expertise específica de fundos de venture capital globais, que lideram rodadas com capital offshore e preferem estruturas, por exemplo, de holding para disponibilizar o investimento, com estrutura societária e governança complexas para viabilizar a operação.

Para grandes escritórios, por sua vez, o fee cobrado para a assessoria de aportes em startups em suas fases iniciais era - e ainda é - muito alto para uma empresa que está começando.

“É importante entender quem é o empreendedor: é alguém muito exigente, que consegue convencer outras pessoas a embarcar em um sonho, com uma visão de oportunidade no futuro. E esse fundador, quando vai buscar um escritório, quer alguém que acredite também nesse potencial”, afirmou Zilberberg.

No Vale do Silício, por sua vez, já existiam escritórios maiores e sofisticados com foco em tecnologia e empreendedorismo, como o Cooley e o Fenwick & West, que serviam como benchmark.

“Pensamos: se o ecossistema no Brasil continuar a evoluir dessa forma, conseguimos montar um escritório novo com essa proposta. Era uma aposta na evolução desse mercado. Na época, muitos conhecidos e pessoas de mercado não acreditavam que poderia dar certo”, disse.

Nesse sentido, havia certa segurança dos sócios dado o fato que levaram clientes-chave para o início da operação, com base em relacionamento construído em anos com empreendedores e fundos.

Chueiri, por exemplo, assessorou a venda da 99 para a chinesa Didi Chuxing, que deu origem ao primeiro unicórnio brasileiro, como são chamadas as startups com valuation igual ou superior a US$ 1 bilhão. O negócio no app de mobilidade e uso de táxis por aplicativo foi anunciado em janeiro de 2018.

O contato deu origem a uma relação de confiança com os fundadores Paulo Veras, Renato Freitas e Ariel Lambrecht, que se tornaram empreendedores em série de outras startups, além de também investidores.

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No início do desenvolvimento dessa indústria, há mais de uma década, havia alguns escritórios dedicados a startups, mas não com expertise para assessorar negócios mais sofisticados como investimentos de fundos globais com cheques que podiam chegar a, por exemplo, US$ 100 milhões.

Mais tarde, alguns escritórios com atuação mais abrangente criaram práticas dedicadas, como a de venture capital. Foi justamente o caso dos escritórios em que os sócios fundadores trabalharam por anos.

Zilberberg, por exemplo, atuou em aportes como a Série F de R$ 1,15 bilhão na Loggi, liderada pela CapSur Capital, e a Série E de R$ 1 bilhão da Dynamo e do SoftBank na MadeiraMadeira, dois dos unicórnios brasileiros.

Bronstein assessorou negócios para a venda do Beleza na Web, então o maior e-commerce de produtos de beleza, para o Boticário e o aporte de R$ 580 milhões de SoftBank e General Atlantic em uma Série B na Único, entre outros.

Havia também a experiência no exterior, como o caso de Potenza, que trabalhou no Fenwick & West no Vale do Silício e esteve em deals como a venda do Oculus VR para o então Facebook por US$ 2,3 bilhões.

‘Um e-mail e um notebook’

O escritório nasceu ainda em momento agudo da pandemia, com os sócios trabalhando de suas respectivas casas, à distância. Foi assim nos primeiros meses, apesar de já haver demanda.

O início oficial foi em abril de 2021, naquele momento já com assessoria para cerca de 50 rodadas. Havia, segundo eles, “uma conta de e-mail e um notebook entregue por delivery” para cada um.

O BZCP nasceu com cerca de 20 advogados já prontos para trabalhar - além de uma dezena em fase de liberação de seu escritório anterior - e, em um ano e meio, já chegava a 80.

Foi o momento que classificaram como “teste mais difícil”, dado que o escritório já era maior, mas o mercado enfrentou uma queda abrupta de deals na esteira do aumento de juros no mundo, que reduziu a liquidez disponível de fundos e os tornou mais seletivos para aportes.

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Nos primeiros doze meses de vida, o BZCP assessorou cerca de 200 transações; no ano cheio de 2022, que teve ainda uma atividade acelerada nos primeiros meses, esse número caiu para perto de 130.

“O tempo mostrou que a nossa decisão de focar nesse segmento foi acertada. O mercado brasileiro pode não evoluir para o que é o Vale do Silício em termos de tamanho, mas não há dúvida de que cresceu não só em volume como em número de investidores e em bons empreendedores”, disse Zilberberg.

Cultura como prioridade

A proximidade com startups e o ambiente de tecnologia levou os sócios a adotarem um modelo de gestão e algumas diretrizes diferentes das que são mais comuns em grandes escritórios.

“O pensamento que tivemos foi ‘conseguimos gerar valor para os clientes se trabalharmos juntos em um escritório novo? O que temos que fazer? Em vez do ‘venha você, cliente, para o nosso escritório que é excelente’”, disse Chueiri, que apontou que essa diretriz é voltada para dentro e para fora.

“Quisemos construir uma cultura alinhada a muitos pontos que enxergamos como positivos em startups. Os fundadores entendem que é natural sofrer diluição do capital que possuem para a entrada de novos sócios, com medidas como um plano de stock options”, afirmou, destacando um modelo que, segundo ele, vai além do partnership e que busca evitar, por exemplo, que um advogado que traga um cliente grande se beneficie sozinho.

Outra medida adotada nesse contexto é a doação de valor equivalente a 1% dos lucros a cada ano para entidades sociais e beneficentes a cada ano, como forma de devolução à sociedade.

“Nós sempre enxergamos o BZCP como uma empresa, e não como um escritório de advocacia, porque os modelos de escritórios conhecidos seguem com uma marcação de clientes individualizada”, disse Bronstein. “As pessoas não percebem como isso é ruim para a perenidade e para a construção de uma marca em que o CNPJ fica acima das individualidades”, complementou.

Isso significa, segundo eles, que os clientes são do escritório, e não “de quem trouxe”. “Se chega um cliente com perfil de early stage, é natural que a assessoria fique com o Eduardo ou o Guilherme, que já assessoraram 450, 500 transações parecidas nos últimos anos. Eles terão como oferecer o melhor para o cliente.”

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Marcelo Sakate

Marcelo Sakate é editor-chefe da Bloomberg Línea no Brasil. Anteriormente, foi editor da EXAME e do CNN Brasil Business, repórter sênior da Veja e chefe de reportagem de economia da Folha de S. Paulo.