Bloomberg — O CEO do JPMorgan (JPM), Jamie Dimon, afirmou que a inteligência artificial (IA) tem sido um dos maiores desafios que o banco já enfrentou. Ele também comparou o potencial impacto da tecnologia ao da máquina a vapor e disse que a IA pode “aprimorar todos os empregos”.
O executivo dedicou uma parte de sua carta anual aos acionistas à importância da IA para o negócio do gigante de Wall Street e para a sociedade em geral.
Segundo ele, o banco identificou mais de 400 casos de uso para a tecnologia em áreas como marketing, fraude e risco, e reuniu milhares de especialistas em IA e cientistas de dados para começar a explorar o uso de IA generativa.
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“Estamos convencidos de que as consequências serão extraordinárias e possivelmente tão transformacionais quanto algumas das principais invenções tecnológicas dos últimos 100 anos”, disse Dimon na carta. “Pense na imprensa, na máquina a vapor, na eletricidade, na computação e na Internet, entre outras.”
Dimon deu sua opinião sobre a importância da IA em uma carta que também criticou um conjunto de propostas regulatórias, fez um aviso severo sobre geopolítica e sobre empresas que aconselham acionistas, e também defendeu o papel da formação de mercado no sistema financeiro.
E, como esperado, o empresário de 68 anos comentou sobre a economia, reiterando sua preocupação de que os riscos de inflação persistente, aperto quantitativo e guerras em curso na Ucrânia e no Oriente Médio permanecem grandes, mesmo com a economia dos Estados Unidos se mantendo robusta.
“Esses mercados parecem estar precificando uma chance de 70% a 80% de um pouso suave – um crescimento modesto com a queda da inflação e das taxas de juros”, escreveu Dimon. “Eu acredito que as chances são muito menores do que isso.”
Recorde de lucro
Dimon divulgou a carta depois que o JPMorgan registrou o maior lucro anual da história dos bancos americanos no ano passado.
O JPMorgan, que deve reportar seu balanço do primeiro trimestre nesta sexta-feira (12), se beneficiou da turbulência entre os bancos regionais que começou pouco mais de um ano atrás, levando clientes a buscarem a segurança de instituições financeiras maiores.
O banco desempenhou um papel importante conforme esses eventos se desenrolaram, realizando eventualmente a compra do First Republic Bank.
O negócio “não era algo que faríamos apenas para nós mesmos”, escreveu Dimon. Na época, o JPMorgan disse que a aquisição adicionaria mais de US$ 500 milhões aos lucros anuais, reconhecendo que isso provavelmente era conservador.
Em sua carta, Dimon diz que esse valor provavelmente seria “mais próximo de US$ 2 bilhões”.
A turbulência nos bancos regionais se desenrolou enquanto os reguladores finalizavam propostas que buscavam impor requisitos de capital mais rigorosos aos bancos dos EUA, conhecidos como Basileia III.
Dimon, crítico contundente das propostas, dedicou uma seção inteira de sua carta aos acionistas à necessidade de uma revisão séria do processo regulatório e de supervisão bancária. Ele também reiterou críticas anteriores sobre o potencial das propostas de causar danos econômicos.
Alerta à regulação
As regras propostas também podem prejudicar a formação de mercado, na qual os bancos ajudam os investidores a comprar e vender títulos, segundo o CEO.
Dimon dedicou várias páginas defendendo o papel dos bancos nesse negócio, que ele disse que alguns reguladores parecem ver como atividade especulativa semelhante aos fundos hedge.
O JPMorgan gera cerca de US$ 100 milhões em receita diária com o negócio, que só teve prejuízo em 30 dias de negociação ao longo da última década, segundo Dimon.
As regras propostas, as quais o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizou no mês passado que serão reduzidas, poderiam prejudicar a estabilidade do mercado, escreveu Dimon.
Crítica a votos por procuração
Dimon também usou a carta para criticar as consultorias de investidores – empresas por meio das quais investidores como fundos de pensão e outras grandes gestoras pagam por recomendações sobre como devem votar em reuniões de conselho, em tópicos como remuneração executiva.
Dimon há muito tempo repreende acionistas por emitirem votos baseados exclusivamente em recomendações dessas empresas como sendo “preguiçosos e irresponsáveis.
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Mas ele foi além na carta desta segunda-feira, criticando os das principais consultorias dos EUA, a Institutional Shareholder Services e a Glass Lewis & Co., por terem, segundo ele, muito poder para determinar os resultados em eleições do conselho.
“Embora os gestores de ativos e investidores institucionais tenham a responsabilidade fiduciária de tomar suas próprias decisões, está cada vez mais claro que os consultores têm influência indevida”, escreveu Dimon.
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