Gestor de emergentes que bate rivais com aposta em Nvidia atrai crítica em Wall Street

Lewis Kaufman, da Artisan Partners, tem o maior desempenho entre os fundos de emergentes, mas sua alocação gera críticas; ele diz escolher empresas economicamente ligadas a países em desenvolvimento

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Bloomberg — Lewis Kaufman, dependendo de quem você pergunte, é um impostor ou um gênio.

Primeiro, a parte do gênio. Kaufman desenvolveu uma fórmula para gerar retornos anuais de dois dígitos em ações de países emergentes, uma façanha rara em um mercado que não saiu do lugar por anos.

A crítica de impostor: ele conseguiu isso, em grande parte, enchendo o fundo que gerencia na Artisan Partners - o Artisan Developing World Fund - com ações de empresas de tecnologia dos Estados Unidos.

Para seus críticos, isso é um absurdo. O que empresas como Nvidia (NVDA), Snowflake (SNOW) e Crowdstrike (CRWD) têm a ver com mercados emergentes? Ele apenas os incluiu no fundo, segundo os críticos, para impulsionar os retornos e levar o desempenho de seu fundo ao topo nos mercados emergentes.

“É no mínimo desonesto”, diz Kevin Harper, diretor de investimentos da Almanack Investment Partners.

Para Kaufman e seus defensores, isso é apenas conversa fiada de rivais invejosos e gente que não dedica tempo suficiente para entender o que ele está fazendo.

Nvidia, Snowflake e Crowdstrike são de fato ações de mercados emergentes, argumenta Kaufman, se você expandir sua definição para incluir empresas que obtêm uma parte de sua receita em países em desenvolvimento.

Investir apenas em ações que se enquadrem na definição clássica e mais restrita de empresas de mercados emergentes, ele diz, resultou em retornos tão baixos que uma abordagem mais ampla é necessária. O índice de referência MSCI está praticamente inalterado nos últimos 17 anos.

“Não estamos tentando evitar os mercados emergentes”, diz Kaufman. “Estamos tentando abraçá-los, e estamos tentando fazer isso de maneira ponderada e criativa.”

Ponderado e criativo significa que, de acordo com o último registro público, mais de 40% dos US$ 3 bilhões do fundo estavam investidos em empresas sediadas nos Estados Unidos. Não são apenas ações de tecnologia. São também nomes como Coca-Cola (COKE), Visa (V) e Estee Lauder (EL).

Somando as ações europeias, o percentual do portfólio de Kaufman investido em empresas sediadas em nações desenvolvidas chega a mais de 50%. O número mediano para fundos de mercados emergentes concorrentes é de 5%, de acordo com a Morningstar Direct.

As regras para os nomes de fundos

A estratégia levanta questões sobre a abordagem flexível que os reguladores adotaram há muito tempo sobre a seleção de nomes de fundos. Por anos, os gestores de ativos podiam basicamente escolher qualquer nome que quisessem para os fundos, independentemente da composição dos ativos que detinham.

Isso começou a mudar em 2001, quando a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês) lançou pela primeira vez diretrizes sobre o uso de nomes.

Insatisfeita com o cumprimento das regras pela indústria e preocupada com a onda de fundos que se diziam focados em ESG, a SEC endureceu essas regras no ano passado. As mudanças reforçam a obrigação de os fundos mútuos e ETFs colocarem pelo menos 80% de seu dinheiro no tipo de ativos sugeridos por seu nome.

Um porta-voz da Artisan disse que é muito cedo para avaliar o impacto das novas regras no fundo de Kaufman.

De qualquer forma, os investidores têm se mostrado um pouco indiferentes em relação à estratégia do gestor. Embora seu fundo tenha superado todos os outros grandes fundos de ações de mercados emergentes nos últimos cinco anos, ele atraiu quase nenhum capital novo - em termos líquidos - durante esse período, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Para Bill Rocco, analista sênior de pesquisa da Morningstar, a natureza incomum do fundo é pelo menos parcialmente responsável pela falta de entradas. Rocco gosta de Kaufman como selecionador de ações - ele é um “bom investidor” -, mas admite que o fundo tem “uma composição estranha” para a categoria.

“Este não é o fundo de mercados emergentes tradicional”, diz Rocco. “Dar aos bons gestores um pouco mais de flexibilidade é bom”, mas em algum momento “você ultrapassa um limiar onde não é mais realmente esse tipo de fundo.”

Quem é Lewis Kaufman, da Artisan Partners

Lewis Kaufman, de 48 anos, começou em Wall Street na década de 1990. Ele passou pelo Citigroup e pelo Morgan Stanley antes de se mudar para a Thornburg Investment Management em Santa Fe, no estado de Novo México. Lá, ele lançou lançou seu primeiro fundo de mercados emergentes em 2009.

O gestor então começou a incluir ações de empresas sediadas fora de países em desenvolvimento, trazendo a porcentagem em alguns momentos para mais de 20%, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Essa mudança deu retorno à medida que o forte crescimento econômico, que varreu os mercados emergentes na década de 2000, se enfraqueceu. Após cinco anos, o Thornburg Developing World Fund subiu 56% - comparado a 9% do índice de referência de mercados emergentes - e Kaufman atraiu a atenção.

Entre os que o observavam estava Eric Colson, CEO da Artisan Partners, uma empresa de investimento boutique com sede em Milwaukee. Em 2015, ele contratou Kaufman.

Colson diz que a “singularidade” do portfólio de Kaufman foi um grande atrativo naquela época e que ele continua sendo um grande defensor dele hoje. “Lewis representa como a perspectiva criativa e os graus de liberdade podem ter um impacto positivo nos resultados de investimento”, disse Colson em comunicado.

A justificativa

Kaufman gosta de se referir às empresas não emergentes no seu portfólio como empresas “com passaporte”, uma referência a como elas conseguem estabelecer operações em países em desenvolvimento para aproveitar a demanda crescente.

“Nós apenas investimos em empresas economicamente ligadas aos mercados emergentes”, diz ele. “Algumas delas estão baseadas em mercados emergentes e outras não.”

Devesh Shah é um grande fã dessa abordagem. Ex-sócio do Goldman Sachs que agora escreve para o Mutual Fund Observer, Shah diz que os investidores têm que escolher se “querem ser puros” sobre sua definição de ações de mercados emergentes - e sacrificar retornos potenciais no processo - ou “confiar no gestor do fundo”. Shah optou por confiar em Kaufman. Ele começou a investir no fundo da Artisan no ano passado.

Mesmo pelos padrões de Kaufman, a inclinação atual de seu portfólio para empresas “com passaporte” é pronunciada. Até 2019, elas representavam menos de 25% de suas participações. Esse percentual disparou durante a pandemia, à medida que ele se aproveitava da alta das ações de tecnologia. Seu fundo teve um ganho de 82% em 2020, caiu nos dois anos seguintes e depois se recuperou acentuadamente nos últimos 15 meses.

Entre as críticas dirigidas a Kaufman está a de que é um exagero considerar empresas como Nvidia, Snowflake e Crowdstrike como apostas no crescimento dos mercados emergentes. Cada uma das empresas obtém mais da metade de sua receita apenas nos Estados Unidos. No caso da Snowflake, são quase 80%. Outra parte de sua receita vem da Europa.

Harper, o CIO da Almanack, uma empresa de gestão de patrimônio localizada fora de Filadélfia, ressalta que a maioria dos investidores já tem muita exposição a ações de tecnologia em seus portfólios. Então, por que dar a eles ainda mais dessas ações em seu fundo de mercados emergentes, ele questiona.

Harper se exaltou ao expressar publicamente o que muitos outros na indústria de fundos comentavam em conversas privadas: a estratégia de Kaufman, embora perfeitamente legal, é enganosa.

“É insano”, diz. Para ele, todo mundo no mercado tenta gerar retornos escolhendo as ações certas de países em desenvolvimento, e Kaufman deveria fazer o mesmo.

Os retornos voláteis de Kaufman têm uma correlação maior com o índice global da MSCI das ações chamadas de “growth” no jargão do mercado do que com o índice de referência de mercados emergentes.

Quando medidos em comparação com fundos de growth, os retornos do fundo parecem comuns. Nos últimos cinco anos, ele teria ficado em 202º lugar entre os 323 maiores fundos de growth stocks nos EUA, segundo dados compilados pela Bloomberg.

Kaufman não se abala com a volatilidade. Isso faz parte do jogo, diz ele, ao buscar retornos acima da média.

Além disso, ele afirma que todo o foco em suas participações em ações de tecnologia ignora o fato de que ele vem reduzindo essas posições. Ele vendeu quase 80% das ações da Nvidia que detinha no ano passado e mais de 40% das ações tanto da Netflix (NFLX) quanto do Airbnb (ABNB).

Ele investiu parte desse dinheiro em ações de empresas dos Estados Unidos menos voláteis e parte delas em ações na Índia, um dos únicos cinco países em desenvolvimento nos quais seu fundo está investindo. (Os outros são Argentina, Brasil, China e Singapura.)

Suas participações em ações indianas quadruplicaram para 12% do portfólio em fevereiro, em relação a 3% no final de 2022. E ainda assim, em um sinal de quão não convencional é o fundo, isso ainda está bem abaixo da participação de 18% de ativos da Índia no índice de referência da MSCI.

“Acompanhar um número não necessariamente conta a história”, diz Kaufman. “Eu administro um fundo de mercados emergentes. Quero reservas de valor para quando os tempos ficarem difíceis.”

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