Bloomberg Línea — O realinhamento das cadeias de suprimentos globais, que estão saindo da China para se estabelecer nos Estados Unidos ou em países das Américas, como México, pode trazer maior transparência e oportunidades de crescimento para setores específicos, como energia sustentável.
Esta é a visão de Jason Schenker, presidente do Instituto Futurista e da Prestige Economics, apresentada por ele durante uma palestra no South by Southwest (SXSW) em Austin, nos EUA, com título “A Indústria de Tecnologia e a Segunda Guerra Fria”.
“Veremos mais nearshoring, mais atividades saindo da China, indo para o México. Para nós, essas são áreas nos EUA com o mercado de trabalho muito restrito. Então você verá muitas oportunidades”, afirmou.
“Provavelmente também precisaremos de mais automação. Neste momento, o país do mundo com mais robôs é a China. Também haverá necessidade de soluções para a cadeia de suprimentos que acrescentem maior transparência ao nosso redor. E agora cada uma das Américas terá oportunidades de crescimento significativas.”
Segundo Schenker, os Estados Unidos e seus aliados estão no meio de uma segunda Guerra Fria com a China e a Rússia. Isso tem implicações para a economia global, empresas de tecnologia e startups.
Ele disse ainda que os EUA verão menos estudantes chineses vindo para as universidades de elite do país.
“Onde vamos conseguir os alunos em nossas melhores universidades? Onde os encontraremos? Bem, provavelmente há muitos americanos que adorariam vir para essas universidades, além de países que não têm uma visão econômica e geopolítica competitiva tão severa e antagônica no futuro”, disse.
Nesta quarta-feira (13), a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos votou a favor de aprovar um projeto de lei que proibiria as lojas de aplicativos de distribuir o TikTok se o grupo chinês Bytedance não se desfizer da propriedade do app. A lei agora irá para a aprovação do Senado.
“Veremos no curto prazo alguns desses aplicativos que são considerados a maior ameaça”, disse o especialista.
O Departamento de Estado dos EUA elevou o nível de alerta para viagens ao país asiático, citando riscos de detenções arbitrárias e a imposição de proibições de saída.
Schenker explicou que existem quatro níveis de avaliação do Departamento de Estado dos EUA para países estrangeiros.
O nível quatro é não viajar, assim como o Afeganistão, e o nível três é reconsiderar a viagem. Segundo ele, os cidadãos americanos que viajam e residem na China podem ser detidos sem acesso aos serviços consulares ou informações sobre um alegado crime, podendo ser sujeitos a interrogatórios e detenções sem tratamento justo.
“Eu não aconselharia ninguém a ir para a China, e se você for, deveria estar ciente. É um risco significativo. Na verdade, se você estiver fazendo negócios com qualquer um desses países da coalizão que os enfrenta, você deveria estar ciente, isto é uma velha estratégia da Guerra Fria que vai voltar novamente”.
Ao abordar questões de investimento e a relação com o setor de tecnologia, Schenker ressalta a importância de avaliar cuidadosamente as propostas e ideias apresentadas por empresas desse segmento. Ele destaca que, embora haja oportunidades, há também riscos consideráveis, especialmente em um ambiente global cada vez mais volátil.
Schenker alerta empresários e investidores sobre os perigos de enviar pessoas a esses países, especialmente com propriedade intelectual sensível. Ele aborda estratégias que remontam à Guerra Fria, destacando a possibilidade de “virar” indivíduos por meio de suborno, ideologia, comprometimento ou coerção.
Ele alertou ainda que empresas que enviam seus funcionários para a China com alguma de suas propriedades intelectuais poderiam estar sujeitos a riscos já que os funcionários poderiam ser “facilmente invertidos com uma mala de dinheiro e alguns bitcoins”.
“Se você os colocar numa posição comprometedora, muito popular durante a Guerra Fria, você não precisa ser violento”, disse.
Ele também explorou os riscos e oportunidades para empresas de tecnologia. Ele destaca possíveis ameaças, como a perda de ativos estratégicos em caso de eventos semelhantes aos ocorridos na Rússia. Além disso, ressalta a importância de considerar riscos relacionados à cadeia de suprimentos, interrupções e custos.
“Você precisa conhecer o risco. Se o que aconteceu na Rússia acontecer na China, podem não existir mais coisas suas. Há riscos de interrupções e custos da cadeia de suprimentos”.
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