Como Miami, México, Brasil e Peru se tornaram centros de inovação latino-americana

No SXSW, líderes e empreendedores da região compartilham histórias de sucesso e tendências que moldam a América Latina como um polo tecnológico em ascensão

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Bloomberg Línea — SXSWuma sessão apresentou as tendências emergentes e narrativas que estão solidificando a América Latina como um importante centro de inovação.

Com representantes de diversos países, o evento destacou como cada polo tecnológico na região é singular em suas características.

Ximena Diaz Alarcón, cofundadora e CEO da Youniversal, antropóloga e pesquisadora de mercado e tendências, destacou a contribuição de latino-americanos para diversas inovações, como a invenção da TV colorida por um mexicano, a criação de casas incrementais no Chile para comunidades desfavorecidas, e um jovem argentino que desenvolveu próteses 3D gratuitas.

A especialista também mencionou exemplos de inovação na área de alimentos, como a empresa chilena NotCo, que desenvolveu produtos substitutos de leite e maionese e hoje é uma joint-venture com a Kraft Heinz.

Ela falou que há “criatividade, resiliência e flexibilidade inerentes à região latino-americana”, destacando a necessidade de inovação.

Para Diaz, os consumidores latino-americanos são informados, conscientes das tendências globais e valorizam propostas claras, acessíveis e sustentáveis.

Fabrice Serfati, sócio da gestora de venture capital early-stage Ignia destacou empresas do portfólio como a Nuvemshop, a fintech mexicana Covalto e a Kontempo.

Ele apresentou dados demográficos e econômicos da região, enfatizando a juventude da população, a alta conectividade e o PIB per capita significativo. Segundo Serfati, há uma oportunidade de crescimento no comércio eletrônico, destacando a comparação favorável com outras regiões do mundo.

O investidor também mencionou o apoio contínuo a startups na região, indicando um ecossistema saudável e em crescimento - acompanhando a tendência global.

Daniel Leipnitz, cofundador da Cidade Inovadora e presidente do conselho deliberativo da ACATE, destacou a transformação da região de Florianópolis, que era anteriormente mais violenta e dependente da pesca e turismo sazonal, e hoje é um hub de tecnologia.

Segundo Leipnitz, na década de 1980, oito estudantes decidiram desafiar o status quo e fundaram quatro empresas de tecnologia.

Ao longo dos anos, essa iniciativa cresceu, e em 2015, já havia mil empresas de tecnologia na região. O número continuou a aumentar, chegando a mais de 5.000 empresas em 2023, com mais de US$ 2 bilhões em receitas.

Leipnitz destacou a colaboração entre os setores privado, acadêmico e público para a criação de uma forte associação de tecnologia com investimento em educação e inovação.

Maya Dadoo, empreendedora da Worky, investida da Ignia, compartilhou insights sobre empreendedorismo na América Latina, destacando três elementos cruciais: pessoas, captação de recursos e estratégia de mercado. Ela abordou desafios relacionados a pessoas no contexto latino-americano, como uma alta taxa de rotatividade de funcionários, chegando a quase 70%, em comparação com 25% nos Estados Unidos.

Segundo Dadoo, na região, são importantes práticas de recursos humanos excepcionais, ao que ela ressaltou que muitos problemas enfrentados pelos empreendedores na América Latina estão ligados a questões de pessoal.

Dadoo também falou sobre a resiliência dos empreendedores latino-americanos diante de crises políticas e econômicas constantes na região, dizendo que “nunca é fácil captar” por conta disso.

Ainda assim, ela destacou a entrada de fundos dos EUA e Europa na região e enfatizou a eficiência no crescimento e a necessidade de que as empresas latino-americanas mostrem resultados financeiros desde o início, diferentemente de algumas empresas nos EUA que podem levar anos para gerar receita.

A empreendedora compartilhou uma estratégia de mercado da Worky, destacando a importância de ser proativo na conquista de clientes.

Ela enfatizou a necessidade de integrar diferentes partes da cadeia, como gerentes de agências bancárias, para garantir que a empresa seja recomendada nos momentos certos e que as práticas culturais da empresa sejam transmitidas efetivamente.

Melissa Medina, cofundadora e CEO da eMerge Americas, compartilhou sua história de descendência cubana e discutiu a trajetória da Emerge Americas, uma iniciativa que ela co-fundou junto com seu pai para impulsionar o ecossistema de tecnologia em Miami e fortalecer os laços com a América Latina.

Ela enfatizou a importância da conexão com a comunidade e o impacto positivo da Emerge Americas na promoção da inovação e oportunidades de investimento na região.

Medina também destacou o crescimento significativo do ecossistema de tecnologia em Miami, especialmente após a pandemia, com crescimento no emprego tech e em investimentos.

Eduardo Marisca, fundador e diretor criativo da Mutaciones, falou sobre o cenário de inovação no Peru. Ele destacou três pontos principais, como o papel das grandes empresas tradicionais, que têm desempenhado um papel significativo na construção da infraestrutura digital no Peru, segundo ele, como serviços de pagamentos instantâneos dos bancos como a Yape e o PLIN. E

le explicou que a concentração do mercado em Lima, a capital peruana, levou as grandes corporações a competirem, resultando em um ambiente propício para a inovação.

Marisca também abordou a questão dos investidores conservadores, muitos provenientes de setores tradicionais, diferentemente da tradicional cultura de investimento-anjo, que geralmente são ex-empreendedores. Por isso, ele disse que há no Peru uma cultura de “copycat”, ou seja, de “Uber do Peru”, ou “Netflix do Peru”.

Marisca enfatizou a necessidade de elevar o padrão de inovação, mencionando esforços, como a Peru Venture Capital Conference, para atrair investidores externos e fomentar um ecossistema de investimento mais dinâmico.

Ele acredita que as verdadeiras oportunidades no Peru ainda não foram exploradas totalmente e destacou exemplos de inovação em setores como gastronomia, jogos digitais, produtos de consumo e tecnologia agrícola.

O especialista enfatizou a importância de alavancar elementos culturais locais para criar algo globalmente interessante, ao invés de simplesmente familiar.

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