Como Miami, México, Brasil e Peru se tornaram centros de inovação latino-americana

No SXSW, líderes e empreendedores da região compartilham histórias de sucesso e tendências que moldam a América Latina como um polo tecnológico em ascensão

Vehicles travel along a road in Mexico City, Mexico, on Thursday, Sept. 22, 2022. Mexico's inflation came in above expectations in early September, giving the central bank minimal room to reduce the pace of interest rate hikes at its meeting on September 29. Photographer: Cesar Rodriguez/Bloomberg
13 de Março, 2024 | 11:54 PM

Bloomberg Línea — SXSWuma sessão apresentou as tendências emergentes e narrativas que estão solidificando a América Latina como um importante centro de inovação.

Com representantes de diversos países, o evento destacou como cada polo tecnológico na região é singular em suas características.

Ximena Diaz Alarcón, cofundadora e CEO da Youniversal, antropóloga e pesquisadora de mercado e tendências, destacou a contribuição de latino-americanos para diversas inovações, como a invenção da TV colorida por um mexicano, a criação de casas incrementais no Chile para comunidades desfavorecidas, e um jovem argentino que desenvolveu próteses 3D gratuitas.

A especialista também mencionou exemplos de inovação na área de alimentos, como a empresa chilena NotCo, que desenvolveu produtos substitutos de leite e maionese e hoje é uma joint-venture com a Kraft Heinz.

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Ela falou que há “criatividade, resiliência e flexibilidade inerentes à região latino-americana”, destacando a necessidade de inovação.

Para Diaz, os consumidores latino-americanos são informados, conscientes das tendências globais e valorizam propostas claras, acessíveis e sustentáveis.

Fabrice Serfati, sócio da gestora de venture capital early-stage Ignia destacou empresas do portfólio como a Nuvemshop, a fintech mexicana Covalto e a Kontempo.

Ele apresentou dados demográficos e econômicos da região, enfatizando a juventude da população, a alta conectividade e o PIB per capita significativo. Segundo Serfati, há uma oportunidade de crescimento no comércio eletrônico, destacando a comparação favorável com outras regiões do mundo.

O investidor também mencionou o apoio contínuo a startups na região, indicando um ecossistema saudável e em crescimento - acompanhando a tendência global.

Daniel Leipnitz, cofundador da Cidade Inovadora e presidente do conselho deliberativo da ACATE, destacou a transformação da região de Florianópolis, que era anteriormente mais violenta e dependente da pesca e turismo sazonal, e hoje é um hub de tecnologia.

Segundo Leipnitz, na década de 1980, oito estudantes decidiram desafiar o status quo e fundaram quatro empresas de tecnologia.

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Ao longo dos anos, essa iniciativa cresceu, e em 2015, já havia mil empresas de tecnologia na região. O número continuou a aumentar, chegando a mais de 5.000 empresas em 2023, com mais de US$ 2 bilhões em receitas.

Leipnitz destacou a colaboração entre os setores privado, acadêmico e público para a criação de uma forte associação de tecnologia com investimento em educação e inovação.

Maya Dadoo, empreendedora da Worky, investida da Ignia, compartilhou insights sobre empreendedorismo na América Latina, destacando três elementos cruciais: pessoas, captação de recursos e estratégia de mercado. Ela abordou desafios relacionados a pessoas no contexto latino-americano, como uma alta taxa de rotatividade de funcionários, chegando a quase 70%, em comparação com 25% nos Estados Unidos.

Segundo Dadoo, na região, são importantes práticas de recursos humanos excepcionais, ao que ela ressaltou que muitos problemas enfrentados pelos empreendedores na América Latina estão ligados a questões de pessoal.

Dadoo também falou sobre a resiliência dos empreendedores latino-americanos diante de crises políticas e econômicas constantes na região, dizendo que “nunca é fácil captar” por conta disso.

Ainda assim, ela destacou a entrada de fundos dos EUA e Europa na região e enfatizou a eficiência no crescimento e a necessidade de que as empresas latino-americanas mostrem resultados financeiros desde o início, diferentemente de algumas empresas nos EUA que podem levar anos para gerar receita.

A empreendedora compartilhou uma estratégia de mercado da Worky, destacando a importância de ser proativo na conquista de clientes.

Ela enfatizou a necessidade de integrar diferentes partes da cadeia, como gerentes de agências bancárias, para garantir que a empresa seja recomendada nos momentos certos e que as práticas culturais da empresa sejam transmitidas efetivamente.

Melissa Medina, cofundadora e CEO da eMerge Americas, compartilhou sua história de descendência cubana e discutiu a trajetória da Emerge Americas, uma iniciativa que ela co-fundou junto com seu pai para impulsionar o ecossistema de tecnologia em Miami e fortalecer os laços com a América Latina.

Ela enfatizou a importância da conexão com a comunidade e o impacto positivo da Emerge Americas na promoção da inovação e oportunidades de investimento na região.

Medina também destacou o crescimento significativo do ecossistema de tecnologia em Miami, especialmente após a pandemia, com crescimento no emprego tech e em investimentos.

Eduardo Marisca, fundador e diretor criativo da Mutaciones, falou sobre o cenário de inovação no Peru. Ele destacou três pontos principais, como o papel das grandes empresas tradicionais, que têm desempenhado um papel significativo na construção da infraestrutura digital no Peru, segundo ele, como serviços de pagamentos instantâneos dos bancos como a Yape e o PLIN. E

le explicou que a concentração do mercado em Lima, a capital peruana, levou as grandes corporações a competirem, resultando em um ambiente propício para a inovação.

Marisca também abordou a questão dos investidores conservadores, muitos provenientes de setores tradicionais, diferentemente da tradicional cultura de investimento-anjo, que geralmente são ex-empreendedores. Por isso, ele disse que há no Peru uma cultura de “copycat”, ou seja, de “Uber do Peru”, ou “Netflix do Peru”.

Marisca enfatizou a necessidade de elevar o padrão de inovação, mencionando esforços, como a Peru Venture Capital Conference, para atrair investidores externos e fomentar um ecossistema de investimento mais dinâmico.

Ele acredita que as verdadeiras oportunidades no Peru ainda não foram exploradas totalmente e destacou exemplos de inovação em setores como gastronomia, jogos digitais, produtos de consumo e tecnologia agrícola.

O especialista enfatizou a importância de alavancar elementos culturais locais para criar algo globalmente interessante, ao invés de simplesmente familiar.

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups