Como o ex-czar de Trump na economia arquitetou o negócio do ano em Wall Street

Acordo de injeção de mais de US$ 1 bi no New York Community Bancorp, liderado por Steve Mnuchin, fez ações do banco dispararem, o que abriu potencial para ganhos bilionários

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Bloomberg — Três anos após Steve Mnuchin terminar o mandato como secretário do Tesouro de Donald Trump e levantar dinheiro de investidores estrangeiros, o financista e um antigo aliado tiraram da gaveta um plano para lucrar com um banco dos Estados Unidos que enfrenta dificuldades.

A Liberty Strategic Capital de Mnuchin liderou um grupo de investidores que injetou mais de US$ 1 bilhão no New York Community Bancorp (NYCB). O acordo, anunciado na quarta-feira (6), colocou Joseph Otting, que também trabalhou no Tesouro americano durante o governo Trump, como diretor-executivo.

A intervenção fez as ações do banco, que enfrenta dificuldades, dispararem, o que deu à sua coalizão um lucro instantâneo no papel e uma chance de ganhar mais bilhões de dólares.

“A injeção de capital não poderia ter sido mais oportuna”, disse Gary Townsend, fundador do family office GBT Capital Management. A nomeação de Otting “fornece uma espécie de blindagem regulatória”, disse ele, acrescentando que “nunca é ruim ter o apoio de um ex-secretário do Tesouro”.

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O movimento marca uma novo encontro da dupla com um histórico de provocar controvérsias no mercado enquanto busca altos retornos.

Antes de seus cargos no governo Trump, Mnuchin liderou um grupo de investidores que comprou a empresa de hipotecas falida IndyMac após a crise financeira de 2008 e, renomeando-a de OneWest, apontou Otting como CEO.

Quando eles saíram com mais que o dobro do preço da compra, a instituição financeira estava envolvido em diversas acusações, como as de ter prejudicado famílias por meio de uma “máquina de execução hipotecária”.

Mnuchin, 61 anos, irritou novamente seus críticos após deixar o Tesouro e levantar recursos para a Liberty de fundos soberanos no Oriente Médio, incluindo o da Arábia Saudita.

Agora, a empresa fechou o acordo bancário mais importante deste ano nos EUA. Diferentemente da IndyMac, que teve problemas fazendo hipotecas residenciais, os problemas do NYCB derivaram do financiamento de edifícios de escritórios e complexos de apartamentos.

Na semana passada, a divulgação do banco de “fraquezas materiais” em seu monitoramento de empréstimos fez suas ações e classificações de crédito caírem ainda mais. À medida que as notícias surgiram na quarta-feira de que o NYCB estava em busca de capital novo, as ações caíram para US$ 1,70 — de mais de US$ 13 no ano passado.

Agora, o grupo de Mnuchin comprará ações comuns a US$ 2 cada e obterá algumas ações preferenciais conversíveis com um preço de conversão também a US$ 2, para levantar um total de US$ 1,05 bilhão.

Embora o comunicado do banco não tenha fornecido todos os termos, o grupo também receberá warrants (garantias) com um preço de exercício de US$ 2,50 por ação.

O investimento desencadeou uma alta, com as ações fechando a US$ 3,46. Isso deixou os investidores com ganhos no papel, quase dobrando seu dinheiro antes da conclusão do acordo nos próximos dias.

Se conseguirem levar o preço das ações de volta ao que era apenas dois meses atrás, o potencial é de mais de US$ 5 bilhões em ganhos.

Injeção de capital

A Liberty investirá US$ 450 milhões. Outros investidores incluem Hudson Bay Capital com US$ 250 milhões e Reverence Capital Partners com US$ 200 milhões. A Citadel Global Equities, parte do império de hedge funds do bilionário Ken Griffin, também está entre os investidores.

Sua injeção provavelmente elevaria a taxa de capital regulatória principal do NYCB acima de 10%, trazendo-a em linha com bancos regionais semelhantes com mais de US$ 100 bilhões de ativos, conhecidos como instituições da Categoria IV.

Embora o acordo dilua “massivamente” os acionistas existentes, pode beneficiá-los se Otting conseguir reverter a situação da empresa, disse o analista da Bloomberg Intelligence Herman Chan.

“É algo difícil de engolir para os acionistas que estavam na empresa, mas dá a eles algum tempo para resolver todos os problemas”, disse ele. Agora, Otting “tem uma lista de tarefas muito grande para reforçar ainda mais seu capital, reduzir sua exposição ao mercado imobiliário comercial e garantir que seus funcionários e clientes permaneçam”.

Carreira no Goldman Sachs

Mnuchin começou sua carreira no início dos anos 1980 como trainee no Salomon Brothers. Ele passou 17 anos no Goldman Sachs (GS) e ocupou cargos como chefe do departamento hipotecário.

Eventualmente, ele saiu e co-fundou o hedge fund Dune Capital Management. Ao longo dos anos, ele financiou filmes de Hollywood, tendo créditos em filmes como “Mulher-Maravilha”, “Sully” e “Our Brand Is Crisis”.

A Dune liderou uma coalizão de investidores — incluindo George Soros, o gestor de fundos hedge John Paulson e o family office do bilionário Michael Dell — que comprou a IndyMac na crise financeira, usando bilhões de dólares de incentivos governamentais. Sob o novo nome OneWest, o banco foi vendido em 2015.

Mnuchin, Otting e outros envolvidos na OneWest há muito disputam acusações de que o banco executou proprietários de casas elegíveis para modificações de empréstimos ou negligenciou comunidades carentes.

O comprador, o CIT Group, disse mais tarde que descobriu uma lacuna contábil de US$ 230 milhões.

Quando seu mandato no governo Trump acabou, Mnuchin traçou o caminho de volta para as finanças usado por antecessores.

Hank Paulson, ex-secretário do Tesouro de George W. Bush, por exemplo, se tornou mais tarde presidente executivo da TPG Rise Climate. E Tim Geithner, que ocupou o mesmo cargo no primeiro governo de Barack Obama, passou a ser presidente da empresa de private equity Warburg Pincus, que atuou com ativos distressed no ano passado, ajudando a financiar a aquisição do PacWest pelo Banc of California.

A Liberty de Mnuchin perdeu grandes oportunidades no ano passado, à medida que os bancos regionais entravam em colapso após o aumento das taxas de juros reduzir o valor dos ativos em seus balanços.

As dificuldades do NYCB, derivadas do mercado de real estate comercial, podem agora proporcionar a porta de entrada que ele estava esperando — se ele conseguir reverter a situação. Colegas do passado preveem que ele o fará.

“Não há ninguém melhor para resolver problemas nos EUA do que Steven Mnuchin”, disse Brian Brooks, ex-comptroller da moeda interino sob Mnuchin, que também atuou na OneWest.

O envolvimento da Hudson Bay traz outro antigo aliado para a mesa: Allen Puwalski, que se juntará ao conselho do NYCB. Ele passou mais de uma década na Paulson no início de sua carreira, durante a qual atuou como diretor da OneWest.

“É muito normal que uma equipe de sucesso volte e faça isso novamente”, disse o analista da Janney Montgomery Scott, Chris Marinac, que tem recomedação de compra para as ações do banco. “É como um segundo Top Gun ou outra versão de Rocky. As pessoas adoram uma sequência”, disse referindo-se aos filmes populares com Tom Cruise e Sylvester Stallone, respectivamente.

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